30 de abril de 2013

Novos Encontros - Caio


Caio tinha apenas um endereço num pedaço de papel, sua prima Priscila morava num apartamento ali no centro o deixou de sublocação pra ele enquanto ela viajava em um intercâmbio de seis meses. ele só tinha que achar o proprietário. Viu um bar e sentiu o estômago roncar forte, um pingado lhe cairia muito bem agora. Chegou ajeitou a mochila pra recolher seus trocados, e sentou-se num banco alto no balcão. O dono do bar logo avistou o menino magro e fez sinal que iria atendê-lo.
- Bom dia rapaz! Deixa eu adivinhar. Novo na cidade?
- Primeiro dia aqui. De mudança! - falou ele mudando a mochila de lado e pondo entre os joelhos.
- Tem pouca bagagem, hein?
- É, e mais uma fome de dois cachorros magros, 3 mendigos e 15 crentes! Mas por enquanto eu só tenho pra um pão na chapa e um pingado. - o padeiro danou a rir, de chorar. Caio não via muita graça no fato de ele estar com fome e dinheiro contado, mas tudo bem riu com ele pra não ficar mal.
- Ohhhh meu rapaz assim tu me mata de rir! Com essa fome toda acho que consigo algo melhor pro seu primeiro dia. Que tal um suco e um bom sanduíche natural, fica por minha conta. Só não conta pra ninguém!
Ele se apoiou no balcão e aproximando dele sussurrou:
- Eu não conto! Mais eu sou daqueles que preferem café a suco, rola?
- Tudo bem te trago um expresso! - confidenciou o dono do bar.
- Acabou de ser tornar o meu melhor amigo! Caio Cruz a seu serviço quando precisar.
- Pedro quando quiser é só me procurar.
Caio pediu mais informações a Pedro antes de sair do bar e parado na calçada respirou fundo o ar dessa cidade. Ele tinha feito o primeiro amigo, nome de apóstolo, sorriu. "É Deus tamo junto, valeu!"
Seguiu feliz pro prédio a duas ruas dali, era no 6 andar, número 604 falar com Marta ou Cláudio. Ele tocou a campainha, mas demoraram pra atender. De repente me surge uma mulher irritada com um sapato na mão, abriu a porta e deixou-o entrar, gritando dentro de casa:
- Carol! Abre a porta desse quarto agora! Cláudio vem aqui atender o moço. Carol eu não vou falar duas vezes!
- Bom dia, você deve ser o primo da Priscila, entre! - disse Cláudio.
- Sou sim! Caio Cruz! - falou ele entrando em meio aos protestos da criança abafados pela porta e da senhora impaciente do lado de fora. Cena típica entre mãe e filha.
- Estamos tendo um dia difícil, uma menina voluntariosa está fazendo greve porque se acha grande demais pra ter uma babá.
- Sei como é tenho sobrinhas! E ela acham que sabem de tudo nessa vida.
- Pois é, o apartamento da Priscila não é muito longe desse prédio, na verdade é no prédio ao lado no sexto andar, neste mesmo condomínio. É pequeno, mas serve bem a uma pessoa. Ela deixou um depósito, para os dois primeiros meses, então você só fica mesmo com as despesas depois desse prazo.
- Certo, seu Cláudio.
- Oh Cláudio eu tenho que me arrumar pra trabalhar, você vai ter que se virar com essa menina. Segunda feira sua farra acaba, a babá vai te dar um jeito! - encerrou ela virando-se pra porta.
- Já vou aí, Marta.
De repente uma fresta da porta do quarto da menina se abre e os olhinhos azuis perscrutam o ambiente da sala e quando batem os olhos em Caio se iluminam e ela sai, impecavelmente vestida e calma como um anjo. A pele alva e os cabelos muito claros, tiara vermelha nos cabelos e levemente maquiada.
- Quem é pai?
- Este é Caio, o primo da Priscila, ele que vai morar lá enquanto ela viaja.
- Hummmmm, interessante. E que você faz pra viver Caio?
- Carol!
- Tudo bem! Eu sou pianista e você o que faz?
- Nada de muito útil aos sete anos e nem muito arriscado pra ser vigiada por babá, mas eles querem pagar pra eu ser educada, fazer o que?
- Desculpe! Ela é… - tentou se defender o pai.
- Você volta Caio? Você podia passar por meu irmão mais velho fácil, as meninas da escola iriam adorar você. Eu estudo na Aquarela, traços e letras. É fácil de achar fica na rua principal.
- Carol! Resolveu sair do quarto então. - volta a mãe ainda por terminar de se arrumar ao ouvir a voz da filha.
- To pronta mãe! Vai acabar de se vestir to conversando aqui. - falou Carol e Marta saiu pro quarto bufando e apontando para Cláudio e a menina.
- Então Carol, um dia se seus pais concordarem te busco pra tomar um sorvete, tudo bem?
- É pode ser! Eu queria ter um irmão mais velho e você é parecido comigo, não é pai? - perguntou a menina sorrindo pra Caio.
- É Carol é sim, igualzinho mais eu não fiz nenhum filho desse tamanho não! - o pai não pode deixar de rir dela.
- Carol eu agora tenho que ir, ver o apartamento que vou morar, foi um prazer te conhecer. - falou ele se inclinando na direção dela.
- Igualmente! - falou ela balançando seu vestidinho feito um sino.
- Prazer Caio, vai gostar do bairro e da vizinhança. Seja bem vindo!
Ele saiu da casa de Cláudio rindo da menininha linda que queria ser sua irmã, e acabou deixando no sofá as chaves do novo apartamento, não se lembrou delas até estar de frente do seu apartamento novo sem elas. Ainda bem que não era muito longe, desceu o elevador e foi em direção ao prédio onde Cláudio morava, pegou o elevador subindo e encontrou com Claúdio a meio caminho do corredor.
- Ei! Eu já ia levar isso pra você, escuta eu não te apresentei ao síndico do prédio fica dois andares acima, seu João, 807 vou voltar pra lá pra fechar o negócio com a babá. A menina tá dando um trabalho. Até mais amigo!
- Até mais!
Caio falou com Seu João e homem parecia simpático lhe passou rapidamente as regras do condomínio e lhe deu as boas vindas. Agora sim, ele iria pra sua nova casa. Pegou o elevador de volta feliz e ansioso. Estava com o sorriso bobo nos lábios quando se porta abriu, porém o clima do casal nada feliz não estava receptivo ao seu sorriso e foi completamente ignorado por eles. O silêncio no ambiente se mantinha, entraram duas senhoras confabulando segredos de ombros uma com a outra e logo em seguida uma jovem meio tensa de rabo de cavalo, entrou ajeitando os óculos sob o nariz, era um belo nariz arrebitado ele notou. De repente houve um forte barulho e tudo ficou escuro, o elevador parou. As respirações ficaram pesadas. O rapaz tenso esbravejou
- Droga!
- O que aconteceu? 
Perguntou Caio que se assustou pela leve trepidação e já procurando tatear a luz de emergência quando uma pequena lanterna a iluminou e o outro rapaz a alcançou mais facilmente e lhe respondeu:
- Algum problema no elevador, mas logo alguém vem resolver.
"Ainda bem que não vou morar neste prédio." pensou Caio e se lembrou de Carol perguntando se ele voltava. Ele voltaria, gostou da idéia de adotar a menina como irmãsinha.
Um celular tocou e os dois bicudos se agitaram, mas a menina atendeu, deviam ter o mesmo toque de celular. Na verdade uma confusão incomoda, os dois haviam trocado de celular e pelo pouco que pode notar eles apesar de tensos um com o outro pareciam também se conhecer há pouco. Ela se chamava Mel, pelo que respondeu a ligação e ele Rodrigo. Ela era muito linda e ele tinha o perfil de galã, e depois que ele sorriu pra ela então, quase pode ouvir os suspiros femininos ao redor dele. Clichê! Caio cruzou os braços, esperou e enfim ele pode descer e seguir seu caminho. 
Caio entrou no seu novo apartamento, era mesmo pequeno, uma sala pequena retangular e atrás do sofá começava a pequena cozinha pia, microondas, minifogão e um frigobar, ela devia comer muito fora, ao lado da porta tinha o banheiro social e no mesanino uma cama e uma minibiblioteca e um banheiro também e era só isso. Pequeno e confortável. Porém, as cortinas rosas e almofadas liláses estavam dando alergia em Caio. Foi caçar algumas caixas pra guardar o que era tipicamente feminino e deixar aquele ambiente com mais cara de homem. Em dois dias ele estava com o apartamento praticamente nu de itens femininos e pronto pra caçar um emprego, já tinha listado alguns no jornal e ganhou a rua. Bateu perna quase o dia todo e nada. Estava na rua principal e por coincidência passava em frente a escolinha de Carol, as crianças saiam a toda com suas mães ou respectivas babás, pela hora Carol já devia ter ido também, porém se surpreendeu quando ouviu seu nome num agudo conhecido.
- Caio! Você veio!
- Carol espera aí quem é esse? - falou a professora.
- É meu primo tia!
- Boa tarde, a babá dela não veio? Me chamo Caio Cruz, moro no apartamento do pai dela seu Claúdio, não sou primo não. - esclareceu ele a professora.
- Ainda não chegou. Você a leva? Estou enlouquecida com esses pequenos aqui. Vou só ligar pra confirmar com os pais. Caio Cruz, certo? 
- Sim, eu aguardo! - falou ele e depois se virou pra menina. - E aí mocinha, como é que foi a escola hoje?
- O mesmo de sempre, muita criança chata chorando por nada!
- Entendo, isso é chato mesmo! - riu-se dela.
- Seu Caio, confirmado, pode levá-la. - disse a professora com o telefone nas mãos.
- Então, vamos! - ele a pegou pela mão.
Eles seguiram viagem quando foi abordado por um louca de nariz arrebitado lhe enfiando o dedo na cara e acusando de tarado! Ele teve que rir e percebeu que ela não estava brincando e numa cidade como essa talvez ela só estivesse equivocada quanto a ele e realmente sejam altos os casos de pedofilia na cidade, por isso se mostrou sério e tão preocupado com Carol quanto ela parecia estar.
- É seguinte defensora dos fracos e oprimidos, essa garotinha é minha vizinha e a irresponsável da babá se esqueceu de que tinha um compromisso. Estou a livrando aquele aprendiz do mal que ela poderia ter causado a Carol. – O rapaz se explicou sério.
Carol puxou o braço de Caio e falou com desdém da babá:
- Caio, esta é a minha babá! - ele voltou toda a sua atenção pra tal babá que agora gaguejava diante dos olhos verdes inflamados de Caio.
- E… eu não sou nenhuma irresponsável. - ela tremia um pouco, talvez ele fosse até parente da menina, ela perderia o emprego fácil agora, ia se explicar quando ele a interrompeu.
- Olha, eu não estou nem aí para as suas explicações. Eu não posso estar aqui todo dia para aliviar sua barra. Se for a babá faça seu serviço direito. – disse ele rude. – Carol, até mais.
Só depois de se afastar percebeu de onde tinha visto aquele nariz atrevido. Tinha pegado pesado com ela, nem foi um grande atraso, mas ao pensar nas sobrinhas passando por esse tipo de situação, o deixava irritado. Um dia ele se desculparia, mas com certeza ela não irá repetir a dose.

Um comentário:

Vinícius Cannone disse...

Me pareceu estar igual ao capítulo anterior.

 renata massa