26 de abril de 2013

Triologia Magus, Vol I: O Presságio - Valerio Evangelisti

A Fantástica História de Nostradamus

   A história de Michael se passa no século XVI - "século das grandes transformações e conflitos, sofrimentos e descobertas". É nessa época que a Inquisição joga sua sombra sobre toda a Europa, numa tentativa desesperada de conter os manifestos que não correspondessem às condutas do cristianismo. A Espanha é a mais cruel - está faminta por extinguir os hebraicos das formas mais violentas possíveis; qualquer indício que coloque um indivíduo contra a Igreja pode acabar levando-o para a fogueira. Já a França, a França das artes, da literatura, a França pagã, consegue ser mais tolerante e até incentiva a liberdade de pensamento.
   É esse o cenário de calamidade e guerra constante em que Michael aparece, mais do que como um simples universitário prestes a se formar em medicina, ele é, como diz o livro 'o poeta que lhes sirva de intérprete' (a essa época dominada pela fome e pela peste).

   No primeiro volume, somos apresentados ao personagem principal. Michael, a primeira vista é apenas um universitário que divide sua rotina entre seus estudos e os costumes devassos. Mas o homem de capa preta que começa a persegui-lo parece saber muito mais a respeito do jovem e também parece ter motivos suficientes para querer vê-lo destruído.
   Antes de entrar na universidade, Michael foi iniciado nas artes da magia e da alquimia por Ulrico Magonza e este fez de Michael um sábio, o seu discípulo favorito.
   Guiado por essa pista, Domingo Molinas o representante mais obsessivo e perigoso da Inquisição Espanhola vai no encalço de Michael esperando que este o leve ao seu mestre para então poder destruir ambos, símbolos de perigo eminente a Santa Igreja.

   Michael é o clássico anti-herói. Faz tudo o que for possível para esconder sua origem hebraica - não por desgosto mas por necessidade, ser hebreu representava um perigo altíssimo - e sendo assim ele se encaixa em todas as convenções do cristianismo, faz de tudo para ser um homem respeitável - inclusive maltratar sua namorada e futura esposa como todos os homens 'de bem' faziam.

"É melhor estar nas mãos de Deus do que nas mãos de um homem respeitável", pag. 216 - diz ela a certa altura do livro.
   Aliás essa obra se apresenta nos mínimos detalhes sobre a época em que a Europa sofre os horrores da Inquisição, da fome e da peste. Rico em descrições, dados, informações históricas, pra quem gosta, é uma beleza. Retrata muito bem também o papel da Igreja e da mulher na sociedade, o medo que o povo tinha da astrologia e da magia, e as próprias universidades que também não tinham liberdade alguma com relação à religião.

"Queremos ser deuses, mas deuses conscientes. Sem a consciência um deus é idêntico a um demônio, prisioneiro do próprio inferno.", pag. 235.

   Durante toda a narrativa, fica no ar o que significaria 'Abrasax'. Sabe-se que é o símbolo da misteriosa seita dos Iluminados, formada por Ulrico Magonza, e para Molinas isso é suficiente para pôr-se em perseguição contra esse mago e seu discípulo. E o famigli da Inquisição não mede esforços - cristão fervoroso, ele passa pelas mais dolorosas provações (algumas provocadas por ele mesmo, em castigo) para poder conseguir o seu objetivo.
   O 'vilão' dessa história também é ambíguo. Seu desejo de exterminar o herói se recosta num motivo 'supostamente nobre' de estar fazendo um serviço a Deus; é nisso que ele acredita e pra ele isso é tudo.

   'O Presságio' tem uma boa narrativa, que não puxa muito pelo suspense, mas sim pela qualidade da descrição - a ambientação da época é maravilhosa e os personagens são bem complexos, é fácil se envolver com eles e à medida que você os conhece, já não sabe mais 'pra quem torcer', ou quem é bonzinho e quem é o vilão. Ainda não terminei a leitura, mas estou gostando bastante e pretendo ler os outros volumes - daí eu conto tudo aqui :D

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