27 de junho de 2013

Entrevista com Wilma Rejane

Olá pessoal, hoje vamos conhecer um pouco mais sobre uma escritora que está lançando uma linda história que com certeza vai tocar o seu coração.

Pegue seu cafézinho e venha fazer parte da nossa conversa. Conheça um pouco sobre Wilma Rejane.

Quem é Wilma Rejane?


Definir o ser é uma questão complexa para a Filosofia , porque é impossível abarcar a totalidade sobre quem somos, daí o velho enigma perdura: Ser ou não ser, eis a questão. Por isso, querida Joice, vamos descomplicar (risos) Me defino através da fé: sou alguém transformada pelo amor e graça de Jesus e em constante aprendizado de vida. Na vida secular sou educadora da rede pública de ensino em Teresina, graduada em Teologia e Filosofia.

Como descobriu a paixão pela escrita?


A descoberta da escrita nasceu na infância com a descoberta da leitura, dos livros infantis, tão cheios de gravuras e fantasias, um mundo mágico e diria que até necessário para despertar a criatividade. Durante a adolescência escrevi contos, poemas, crônicas e tudo o mais que o dia e a imaginação permitia. Venci alguns concursos literários -também perdi alguns, -mas sempre recorria a caneta e ao papel para “despejar” sentimentos. Já escrevi de tudo um pouco, até roteiros para histórias em quadrinhos. Meu esposo Franklin é desenhista e tinha uma página de passatempos em um jornal local, ele fazia os desenhos, eu o texto. Também colaboramos com a Revista Família Cristã fazendo tirinhas. Agora, a escritora cristã nasceu (ou renasceu) com a conversão no ano de 2003.

Como foi o processo de publicação do seu livro?


Olha Joice, o primeiro livro “Às Margens do Quebar” é uma compilação dos artigos do blog A Tenda na Rocha. Um editor de Feira de Santana na Bahia , chamado Pastor Marcos Sampaio entrou em contato comigo que gostaria de publicar um livro com os estudos Bíblicos do blog. Fiquei muito feliz e agradecida, porque existia uma promessa do Senhor nesse sentido (Jeremias 30:2). Acabei não publicando por esta editora da Bahia, mas pela Editora Oxigênio do Léo Kades com quem trabalhava em parceria editorial. E esse primeiro livro depois foi republicado pela Novo Século (selo Ágape) sendo muito bem aceito em todo o Brasil. Agora em 2013, estou publicando A Primavera de Sara (Editora Dracaena selo Oxigênio-Heima) baseado no romance entre Sara e Abraão, uma linda história de amor e fé.

Conte um pouco sobre o livro.

Por um motivo nobre e maravilhosos,demorei um pouco para concluir o livro que começou a ser escrito em 2011. Fui submetida a um transplante de córnea para recuperar a visão do olho direito, perdida havia oito anos. Foi tudo bem, graças a Deus, voltei a enxergar, mas fiquei alguns meses parada sem escrever. Isso tudo serviu de lição de como Deus pode tornar coisas estéreis em férteis, trazer a existência aquilo que sonhamos.




“ Moe'd . Essa foi a palavra hebraica usada pelos anjos para anunciar ao casal Sara e Abraão a chegada do tão sonhado filho Isaac. Uma promessa que demorou 25 anos para ser cumprida. Quando li sobre “moe'd”, fique em estado de espanto, de maravilhamento. Decidi então me aprofundar no tema e escrever sobre ele, para que outras pessoas pudessem contemplar - e por que não viver - a grandeza da fé que transborda no relacionamento entre Deus, Sara e Abraão. Um relacionamento que marca a humanidade e que está ao alcance de todos os que compreenderem e buscarem o destino das promessas, dos sonhos. Mo'ed fala de uma estação, de um tempo determinado, de Primavera. Fé e primavera. Uma época de colheita. Também de novas sementes. De frutos que ficaram pelo árduo caminho em que “lágrimas grávidas” foram regando o solo. Mo'ed é o tempo onde a esterilidade dá a luz! “
( Trecho de introdução de A primavera de Sara)




Você se identifica com algum personagem?


Sim, com o casal Sara e Abraão. Através da vida deles, Deus ensina que é possível conquistar o impossível através da fé, levantar dos tombos e seguir mais forte para um novo tempo de realização de promessas.

Como foi o processo para escrever ele?


Demorei aproximadamente um ano para escrever A Primavera de Sara porque durante o processo de escrita, recebi transplante de córnea , voltando a enxergar após oito anos de cegueira no olho direito e cinco anos na fila de transplantes. Deus traz a existência aquilo que colocamos em oração e por seu grande amor por nós, renova nosso ânimo com a chegada da primavera, após longos invernos.

A estéril Sara dá a luz a um filho, por nome Isaac, que significa riso e é exatamente isso que o Senhor nos diz através da via do casal de judeus Sara e Abraão: “Tudo é possível ao que crê e tudo tem um tempo e um propósito”. 

Autor e livro que é sua inspiração.


Sabe Joice, gosto de ler livros de teor teológico, filosófico e de psicologia. Não sigo o estilo ou me inspiro em algum autor, procuro seguir o que vem da alma, do coração em um modo próprio de escrever que possa ser lido tanto por crianças como adultos, linguagem simples , explorando o simbolismo. Agora, nada se compara a leitura da Bíblia, este é o livro responsável por minha inspiração.

Deixe uma mensagem para todos aqueles que estão em busca de seus sonhos.


Queridos leitores, a medida do milagre é a impossibilidade e assim como Sara sorriu dos seus sonhos, pela grandeza deles, podemos sorrir dos nossos. Porém, Deus que nomeou a realização do sonho de Sara e Abraão de “riso”, também quer nos fazer sorrir de felicidade pela chegada do que um dia
consideramos distante demais para alcançar. Descansar em Deus enquanto se caminha nos montes, planícies ou vales é a melhor escolha, sabendo que Ele recolhe nossas sementes, regadas com lágrimas e delas faz um novo viver, em um tempo de alegria.

As redes sociais da autora


Twitter: @wilmarejane
Blog

*O primeiro livro escrito por mim, Ás Margens do Quebar, está a venda na internet nas maiores livrarias do país e pelo selo Ágape da Editora Novo Século.
A Primavera de Sara, o segundo livro a ser lançado em Julho de 2013, através do selo Heima-Oxigênio da Editora Dracaena, já se encontra em pré venda na Livraria Saraiva e em Amazon.com

26 de junho de 2013

Capítulo 15 - Apenas bons amigos, pode ser?

Por Lidiane Arsenio

Foi uma semana corrida e louca, bem vivida e muito bem aproveitada no gosto de Caio. Fizera novos amigos, conseguira um emprego. Quando chegara na loja com Rodrigo já haviam preenchido a vaga e seu Rafael adorou o jeito de Caio, que apesar de divertido conseguia ser extremamente interessado no serviço. 

– Menino, você vai longe. Tem gosto por aprender, uma curiosidade natural.
– Assim, espero seu Rafael! Onde ponho essa caixa?
– Não é uma caixa, é um cajón. Não conhece esse instrumento?
– Não tinha visto que era um. - Caio olhou encantado para o instrumento de percurssão.
– Sabe tocar?
– Alguma coisa, meu lance é harmônica.
– Temos tempo. Vamos fazer um som, me acompanha no velho piano?
– Só se for agora.
– Vou cantar uma de minha terra.
– Não é brasileiro?
– Sim, há muitos anos, mas nasci e fui criado em Havana Vieja, Cuba. Sai de lá aos 19 anos. - Rafael sentou-se respeitosamente sobre o banquinho e começou a pulsar suas mãos sobre o couro. Soavam como batidas apaixonadas de um coração. 
Caio começou a dedilhar um tempo depois absorvido pelo pulsar e o tempo certo daquela velha canção que impulsionava o velho músico. Ele desconhecia a letra, mas jurava ver lágrimas no canto de seus olhos, e ele podia sentir que ali havia uma história entre as batidas e as canções. Uma voz tão carregada de histórias e sentimentos, os sentimentos de um velho cubano. Os dedos de Caio eram ágeis e dóceis sobre as teclas. Dentro do antigo ateiliêr, uma melodia profunda dava início a uma bela amizade.

– Hoy, miro a través de ti, las calles de mi Habana (hoje vejo a través de ti, as casas de minha Havana)
Tu tristeza y tu dolor, reflejan sus fachadas, (Tua tristeza e tua dor refletem em suas faixadas)
Es tu alma y soledad, la voz, la voz de esta nación (é a tua alma e a solidão, a voz, a voz desta nação cansada)
Cansada
Solos tu y yo, en la ciudad dormida (somos tu e eu, na cidade adormecida)
Solos tu y yo, besando las heridas (somos tu e eu, beijando shas feridas)
Hay Habana (Ai Havana!)

– Essa canção é linda, seu Rafael. Entendi alguma coisa.
– É um sofrimento cantado. Não é fácil partir de sua pátria. Ficar tantos anos longe e sem poder voltar. Cheguei aqui com a sua idade, mas vamos melhorar o clima nesse lugar. Vou colocar umas músicas mais animadas aqui. Se você quiser conhecer um pouco mais de Cuba, temos um baile cubano há umas 3 ruas daqui. Todos no bairro são descendentes de cubanos ou nativos como eu. E é lá que matamos a saudade de nossa terra compartilhando nossas histórias.
– Oh! Parece muito bom!
Trabalhar com Rafael ouvindo musica rancheira, um ritmo novo que ele quase não conhecia, lhe abriu os olhos pra novas inspirações musicais, outras “harmonas” lhe viam a cabeça e meio sem querer lhe vinha uma musa morena ao que ele prontamente rejeitou a idéia. “Caio este não é o objetivo! Para por aí!” pensou e voltou ao trabalho.
Durante aquela semana Carol descobriu seu número de celular e lhe ensinou a mexer na internet e agora ele não tinha paz. A menina lhe mandava várias mensagens via um aplicativo de mensagens. O bom de tudo isso e que ao ensinar a ele, ele repassou isso pra Dona Lurdes que agora tinha mais acesso ao filho.
– Meu Deus! Carol, você me manda mais mensagens que minha mãe. O que foi dessa vez?
– Saudades! Você e a Dora parecem que não podem se ver que dá rolo.
– “Rolo”?
– É, confusão, briga.
– Tudo bem, eu prometo não brigar mais com a sua babá, ok?
– Eu acho divertido! - riu-se a menina e ele adorava a risada gostosa dela.
– Eu também, só não conta pra ela, tá?
– Tá certo. Vou lá que minha mãe tá me chamando. Tchau!
– Tchau. - falou ele pro telefone já desligado, ela sempre fazia isso.

Já estava na hora de fazer as compras para o jantar na casa da Mel. Desceu pra ir com ela comprar as coisas. Quando chegou a porta de seu apartamento ela estava pronta, de cabelos presos como Dora costumava usar, o tempo estava mudando lentamente e o casaco leve que ela usava era prudente. "Mulheres tendem a sentir frio demais", pensou ele.
– Pronta?
– Estou. Dora mencionou que você gosta desse tipo de programa. Mas quero lhe dizer que eu sei comprar as coisas, viu?
– Eu sei que sabe eu gosto de sair e ver gente. Vamos.
Eles chegaram e ela percebeu o que Dora mencionara sobre ele ao telefone. Falava com todo mundo como se os conhecesse. Enchia o carrinho de itens variados de temperos.
– Hummm, olha aquilo lá? - falou ele apontando e já a fazendo andar rápido pra alcançar aquelas pernas compridas.
– O quê? - perguntou ela sem entender pra onde o estava seguindo.
– Gôndola de degustação. Vamos!
– Eu não! Esses produtos de teste podem ser horríveis, além do que não sou cobaia de ninguém.
– Pois eu, nascido e criado na roça, correndo atrás de capivara, andando pelado e descalço pelo mato, tenho anticorpos suficientes.
– Você é louco! - falou ela rindo dele aceitando o doce da moça e enfiando na boca.
– Nham! Você devia experimentar é uma delícia.
– Não, obrigada.
– Então, eu tinha pensado em um prato elaborado e bem gostoso com queijos diversos.
– Ai eu amo queijo! - suspirou ela
– E eu, nem me fale! Vamos ver os queijos que tem por aqui. - eles foram para o setor de pães, vinhos e queijos. E de repente pareciam dois passarinhos quando inclinaram junto a cabeça e disseram em uníssono olhando pro queijo de ovelha italiano:
– Pecorino! - e se olharam rindo mutuamente deixando o padeiro sem entender.
– Eu amo esse queijo! Meu avô às vezes viajava e trazia. Ele morava em Serre di Rapolano, Siena e sempre subia a Pienza pra comprar, porque os de lá são os melhores.
– Ai, que saudade. A Toscana é linda, e aquele por do sol... hummm. Pienza é um ovo, mas oh lugar lindo.
– Vamos matar a saudade no queijo? 
– Vamos!
– Moço, dois pedaços por favor.
– Eles decidiram não ousar muito no cardápio porque podia não cair no gosto geral e decidiram pela lasagna. Ele não quis comprar a massa pronta. Comprou a farinha pra fazer a massa, agora Mel entendia ele querer comprar tudo cedo, um processo mais demorado seria necessário. Quando chegaram no apartamento ele decidiu que faria a massa em casa e montaria na casa dela. Porque essa parte era mais fácil, rápida e com pouca sujeira.
– Obrigada pela companhia querida Mel. Mais tarde, o chef Caio Cruz estará aqui para satisfazer seus desejos culinários.
– Hummm, que galante!
– Nada! Fique comigo e jamais sentirá fome outra vez! (parafraseou Iscar no Rei Leão)
– Você, definitivamente, não existe. Vai logo!
Cozinhar era sua especialidade, ele chegara num tempo bom pra fazer tudo. Mel se encarregou da salada. Ele levou roupa pra trocar caso se sujasse e enquanto a lasanha estava no forno foi para o banheiro se trocar. Neste intervalo a campainha tocou era Bia amiga de Mel que pareceu sem cor quando o viu sair do banheiro.
– Mel, minha filha o que está acontecendo aqui? - perguntou ela sem tirar os olhos de Caio.
– Um jantar entre amigos. - ela notou que os olhos de Bia se arregalaram mais e completou: 
– Tem mais gente, tem uma amiga nova, você e Rodrigo.
– Rodrigo tá aqui? - falou ela quase num grito esganiçado.
– Não, ainda não chegou. Então Caio, essa é Bianca trabalha comigo. Bia este é Caio meu vizinho.
– Muito prazer. Sabe se tem algum apartamento vago nesse condomínio?
– Acho que não, mas fala com seu João. - falou ele rindo.
– Seu quem? - perguntou ela ainda distraída com os olhos verdes dele.
– Bia, o que você acha de ir comigo ao mercado comprar mais shoyo pra salada? 
– To bem aqui, eu, hã, - pigarreou voltando os olhos pra Mel. - Vim te chamar pra sair, acho que não tem motivo de brigarmos mais. Pelo contrário, acho realmente muito favorável continuarmos sendo amigas. Contanto que me convide pra ficar hoje aceitando meu pedido de paz.
– Claro! Afinal, hoje é o dia mundial da paz, né Caio! - falou Mel piscando pra ele.
– Palavra de escoteiro. - falou ele fazendo reverência, lembrando da promessa de paz que fizera com Dora.
– Então, você fica ou vem?
– Eu fico. Pode ir.
– Ok, o resto do pessoal já deve estar chegando.
– Realmente ele não precisou sofrer muito mais que 10 minutos de incessantes perguntas que sempre respondia com piadas e mudando de assunto, encostado tranquilamente no balcão de olho no tempo para tirar a lasanha. Quando a campainha tocou novamente ele falou que ia dar uma olhada na lasanha que estava quase na hora e ela foi pra porta na ansiedade pra ver o Rodrigo e ele pode respirar aliviado sorrindo internamente. Quando sentiu uma outra presença no ambiente que de uma certa forma sem mesmo ver, sabia pela densidade do clima e pelo perfume era Dora. Queria mesmo ter alguns segundos de paz e conversar com ela, como o Caio, o sensato e prometera se comportar e foi o que fez. E suas intenções só se reforçaram ao vê-la e ele reparou em cada detalhe, cabelos soltos, maquiagem leve na pele delicada, os cílios ainda mais longos nos olhos amendoados que o enxergavam com dúvida e alguma hesitação, podia ver admiração ali? “Ehhh eu já sabia.” Preferiu guardar todos os comentários pra si. Era uma noite entre amigos, ele faria apenas o que fazia de melhor nessas horas observar.
Dora teve que sair cedo e a conversa ainda estava animada. Ele apesar de achar Bianca divertida e muito bonita, não lhe fazia dar voltas no pensamento e nem lhe inspirava melodias. De fato ela lhe lembrava alguém que jamais esqueceria. Luíza, seu primeiro amor na infância, porém Bianca só a lembrava fisicamente. Luíza era uma mulher bem mais velha, tinha seus 29 anos agora. Foi por mero acidente que acabou mencionando quando falavam de jazz.
– Compus uma nova roupagem pra Luiza de Tom Jobim. Minha antiga professora de piano me inspirou, ela se chamava Luiza.
– Caio, já lhe disse que precisamos fazer um show juntos. Seu Rafael me disse que você é um monstro no piano. - falou Rodrigo.
– Exagero dele que é um excelente percurssionista. De arrepiar!
O papo foi fluindo e Caio sentiu que era a hora de ir, as meninas estavam cansadas e Rodrigo acabou se encarregando de levar Bianca pra casa em sua moto. O que a deixou eufórica e Mel ligeiramente preocupada, um pouco com a saúde mental da amiga e física também. Quando saia do apartamento encontrou Cláudio e sua esposa chegando, era tarde e significava que Dora ainda estava no prédio e iria embora aquela hora da noite.
– Boa noite, Caio! O que está fazendo por aqui? - perguntou Cláudio.
– Boas amizades e boa comida. Um jantar entre amigos.
– Ai, nem me fala Carol ficou pra sempre elogiando sua comida. Que bom que fez novos amigos além da nossa babá. Naquele dia acabei pegando um pouco pesado com ela, mas se soubesse que estava com você... - falou a mulher.
– Ela é boa moça, muito responsável e cuidadosa!
– Eu sei, nós é que não somos! Olha a hora e a menina ainda aqui. Vamos Cláudio, Tchau Caio.
– Tchau!
Ele teve a brilhante idéia de aguardar alguns minutos do lado de fora e a surpreendeu quando saiu. O que não lhe preparara para a espoleta menina fazer confissões de uma noite de meninas na frente dele. Porém, guardou pra si por enquanto a questão, era tarde e ele a acompanharia até o ponto de táxi. “Pão, sei.” sorriu ele internamente deixando-a já furiosa por ele estar simplesmente pensando seja lá o que for.
Ela se encaminhou ao elevador tão furiosa com ele como sempre, o sorriso debochado dele não ajudava a amenizar nada. Pôs os óculos como uma auto defesa, ele entendia muito bem de sinais. Elogiá-la também não funcionava muito bem, ela não se considerava nem metade do que era. “Mulheres!” Ele conseguiu contornar a situação num acordo de paz, porém por poucos segundos, a vontade de tirá-la do sério era maior e acabou deixando-a mais irritada no ponto de táxi e marchava pra qualquer rumo bem longe dele, ele a alcançou em dois passos a fazendo olhar pra ele.
– Dora! Vem cá! - falou ele a puxando pelo cotovelo.
– Me solta.
– Vou soltar, mas você não vai dar nem mais um passo pra longe de mim. Mantivemos a paz a noite toda e honestamente embora eu ame implicar com você. Eu quero um pouco mais dessa relação.
– Que relação garoto! - se apavorou ela, tremendo um pouco ao olhar para aquele verde vivo nos olhos dele.
– Quero saber mais sobre você, mais do que eu sei. E quero que me conheça também. A vida é muito curta pra perdermos tempo com tensões e dramas. Todos temos os nossos, Mel, Rodrigo, eu, Bianca, mas dá pra levar as coisas menos a sério e viver. 
– Do que você está falando? - perguntou ela cedendo aquela voz que parecia veludo e carinho, embora firme.
– Estou te dizendo que você precisa se ver como eu te vejo. Toda essa sua audácia, força que impõe quando briga comigo e não impõe nos outros. Vi você se anular hoje a noite e não entendi. Foi por medo, vergonha, timidez, insegurança? Se você quiser aprender a viver eu te ensino. - falou ele tirando uma mecha do cabelo dela da bochecha e colocando atrás da orelha. - Você quer?
– Ohhh meu táxi chegou. Conversamos mais outro dia, pode ser?
Ele sorriu mostrando uma covinha linda na bochecha esquerda que o tornava levemente irresistível. Ele se apoiou nos calcanhares tirando a mão dela e colocando no bolso.
– Pode! - ele a ajudou a entrar no táxi e antes de bater a porta completou. - Apenas bons amigos, isso nem vai doer. Bons sonhos, narizinho.
E pela primeira vez Dora ouviu seu apelido num tom tão carinhoso, quanto protetor e afetivo. Ele gostava dela e a admirava de um modo que ela jamais pensou. 

…...

No dia seguinte tinha marcado de correr com Rodrigo, que queria fazer um esporte e odiava academia. Correram a ciclovia toda por uns bons minutos e pararam no quiosque pra conversar. O assunto rendeu entre piadas e música, até chegar no ponto mulheres.
– Elas são desse jeito, né? Morrem de chorar por tudo, depois querem te matar por fazer uma piada. Carregam o mundo nas costas e embora precisem de ajuda se recusam a receber.
– Tem umas que não merecem.
– Eu sei. - sorriu meio torto abrindo aquela covinha. - Tive uma boa dose de encrenca com quem não merecia.
– A tal Luiza.
– A própria, mas não me atormenta. Somos jovens, Rodrigo, cheios de sonhos e projetos, com o poder de mudar o mundo se quisermos ou talvez só o nosso pequeno mundo. Eu vim pra cá pra tentar mudar meu mundo e pode não ser fácil, mas não tem que ser tão difícil. 
– Você não sabe o que me aconteceu e porque eu não vivo sempre tão alegre ou implicante como você. Eu perdi laços muito fortes e você escolheu ficar longe deles.
– Escolhi, né? Hum… Sabe o que é estar tão distante de alguém que esta a distância de um abraço? Conhece o paradoxo de aprender sobre o amor com quem nunca soube demonstrar? As pessoas que mais te ferem só conseguem isso por estarem próximas demais. Eu quero conquistar o respeito e o amor do meu pai. Talvez a distância ajude, talvez seja utopia minha e não se muda um velho homem acostumado a velhos hábitos, mas eu vou tentar.
– Eu não sabia. Vejo você fazendo amizade o tempo todo com todo mundo, sempre sorrindo.
– Eu amo as pessoas Rodrigo, pessoas me mostram pequenas coisas que quero aprender e lacunas pra eu ensinar. Veja a Dora, eu sei, adoro implicar com ela, mas é que ela me inspira, sabe? Ela é tão audaciosa e perspicaz, inteligente e cheia de fogo nos olhos, ela pode qualquer coisa é só escolher, tem uma grandeza dentro de si que ainda não conseguiu descobrir. Talvez brigar comigo a force a ver o quanto ela é forte, batalhadora e guerreira. Um dia ela verá o que eu vejo.
– Entendi bem, você está apaixonado por Dora?
– Claro que não! Que idéia! Sou muito novo pra estabelecer laços profundos com alguém. Sou da roça, esqueceu? Os homens da minha família, adoram plantar uma sementinha cedo demais, meus irmãos tiveram filhos com 16 anos. Eu só quero fincar estacas e construir família quando eu puder fazer isso.
– Eu só perguntei se você estava apaixonado, totalmente normal pra sua idade.
– E eu já respondi que não. Tenho um sangue quente complicado demais e prefiro dar passos lentos nessa direção. Prefiro ser amigo das mulheres já que não consigo mesmo ficar longe delas. - riu o sem-vergonha.
– Não vai iludir a menina, ela é uma boa moça.
– Ótima, e eu sou um bom rapaz também, sei que é difícil de acreditar, mas eu sou. Graças a Deus eu parei com a sem-vergonhice sem engravidar ninguém. Foi uma época de muita oração pra minha mãe.
– Você não existe.
Uma mulher terrivelmente bela, altiva, cabelos loiros cortado em camadas, olhos de um azul profundo se aproximou deles. Caio estava distraído terminando de falar com o vendedor e se virou ao ouvir seu nome numa voz remotamente conhecida.
- Caio?
Ele respirou fundo e pronunciou como se anunciasse:
- Luiza.

23 de junho de 2013

Lançamento de Simplesmente Ame!

Pessoas queridas, venho trazer uma linda novidade para todos. 
e vou deixar que o meu convite fale por mim...rs


Estou muito feliz e empolgada com essa benção de Deus!
Espero que seja benção na vida de todos esse livro.

Em breve terei vários exemplares do livro para vender por aqui!

Obrigado a todo que sempre acreditaram em mim!

19 de junho de 2013

Romance...

Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis.
Digo-lhe que faz mal, que é melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.
Machado de Assis
 
Quero o circo todo a que tenho direito: sedução, fantasia, tempo. Quero um romance longo, quero intimidade. Fazer cena de ciúme, terminar, voltar, amar, brigar de novo, telefonar, pedir desculpas, retornar. Amantes bem comportadas são um tédio."
Martha Medeiros
 
Um verdadeiro romance é sempre a interpretação desajeitada de um sonho.
Fernando Sabino 

Onde estão os meus reais

Por Graci Rocha

Acordo com a sensação de que talvez hoje seja o último dia da minha vida, pois é hoje uma segunda feira bonita, com um sol ameno e uma certeza, meu marido sairá para trabalhar, levará meus filhos para a escola e eu estarei aqui, com aquela dor no peito, com aquele medo de que algum jovem, certo da fraca punição em nosso país, irá abordá-lo, tentará roubar seu carro e mesmo que ele o entregue é possível que esse jovem, no auge das emoções, atire em meu marido, ou o que me mataria com ainda mais rapidez, atire em um dos meus filhos...

Ligo a televisão para tentar amenizar esse aperto no peito, vou ver o jornal da manhã na inútil tentativa de distração. Choro. Choro porque sou mãe, porque sou mulher e apesar de ser forte, me mata ver outra mãe sendo consolada por seu marido. Não estou me referindo àquela mãe que o filho bebeu demais e saiu batendo o carro, ainda que eu me compadeça de sua dor, estou falando daquela que desesperada desfalece ao lado do pequeno caixão do filho de apenas um ou dois anos, um bebe inocente que teve sua vida tirada por uma bala perdida, ou pela falta de um médico para atendê-lo, ou ainda pelo álcool nas veias de outros, que seja.

Desligo a tv. Não suporto ver as noticias que me dizem que pessoas esperam, minguando em filas de hospitais porque não existem macas ou leitos, nem profissionais suficientes. Nem suporto ver os preços subindo, nem a queda da qualidade dos serviços, o que já não era grande coisa, vai piorando ainda mais...
Ligo o som bem alto para tentar suplantar da memória a sensação de que se um dos meus filhos ficar doente pode esse ser o meu fim. Ou você não morreria caso algo desse tipo acometesse seus filhos e roubasse seus lindos anos de vida????

Começo a me arrumar, é preciso ir trabalhar, mas a sensação de vazio ainda enche meus pensamentos.
De repente outra certeza me salta aos olhos, talvez seja eu que não voltarei para casa no fim do dia. Tudo bem que vou trabalhar em uma escola, num bairro como outro qualquer, de uma cidade que não chega a ser considerada violenta se contarmos os índices nacionais, mas até a minha profissão se tornou um risco... Como será para os meus filhos crescerem sem a mãe?

E não me venha com essa de que é preciso pensar positivo, isso é hipócrita, e praticamente impossível, já que eu vivo em um país no qual os políticos têm a “ "Síndrome dos que se acham Deus".”, ou seja lá qual for a palavra que justifique essa mania de pensarem que tudo podem...

Talvez eu pensasse positivo, ou tivesse certezas positivas se não visse meus colegas de profissão implorando para que a lei seja cumprida e eles recebam o que lhes é devido, ou se não visse milhares de pessoas implorando por atendimento em hospitais, nem visse mães em prantos porque seus filhos, que ainda nem sabem o que é viver, já estão deixando a vida...

Então me pergunto onde estão os meus reais, que me foram levados pelo imposto de renda, pelo imposto sobre a minha luz, água, gasolina, sobre meu pão e o leite que dou para os meus filhos beberem, sobre o IPTU da minha casa e sobre o salário que recebo no final do mês?
Na saúde não estão definitivamente e não posso culpar os médicos se não salvarem a vida dos meus filhos, pois ninguém faz milagre com a falta desses importantes recursos, como salas cirúrgicas, medicamentos, profissionais, leitos...

Na educação não estão também, e posso dizer isso com propriedade...

Vixe, na segurança mesmo é que não estão esses meus reais, pois os policiais e profissionais da área além de muito mal pagos não são nem de longe suficientes...

Onde estão meus reais????? Eu quero saber!

Quero saber também porque politico tem esses exorbitantes salários e tantas vantagens e nós não. Afinal são eles Deuses encarnados que merecem tamanha diferenciação?

Pra mim chega! Estou farta da corrupção, dos desvios, da falta de vergonha de quem deveria me representar.

Desculpem-me os amantes de futebol, nada contra, mas até quando ficaremos calados, vendo bilhões indo para estádios e depois correndo para hospitais sujos, sem médicos e sem a menor qualidade de salvar vidas???

O que é preciso acontecer para que lembremos nossas raízes? Quantos precisaram ainda morrer para que nos lembremos daqueles que lutaram, que foram torturados, mortos e conseguiram um país livre, há menos de cinquenta anos????

Eu na certa não quero esperar até que tenha que chorar por luto...

É hora de dar um basta, precisamos nos espelhar na atual onda de levantes mundiais, na coragem de nossos jovens paulistas e colocar a boca no trombone, EXIGIR o que nós é de direito, já que de nossos deveres somos bem lembrados há cada quatro anos...

E ai, o que vamos fazer? Ver novela??

18 de junho de 2013

Capítulo 14 - Paz em meio à guerra




Após o súbito desmaio de Mel; Rodrigo agiu imediatamente a amparando em seus braços e carregando-a para o apartamento dela e fechando a porta atrás de si. O fato curioso atrapalhou a discursão de Caio e Dora que por um instante pararam com o bate-boca.
-O que será que aconteceu com ela?
 - Dora pareceu preocupada.
-Não faço ideia. –concluiu Caio dando de ombros, porém demonstrando a mesma preocupação.
-Isso não é novidade. – debochou a garota – Homens. – disse revirando os olhos.
Caio cruzou os braços e com o semblante sério demostrou que não gostou do comentário de Dora.
-Não olha pra mim desse jeito. –falou intrigada – Eu não tenho culpa que os homens não tem o instinto que toda mulher tem.
-Ah, é?! – ele riu – E seus instintos femininos dizem o que dessa situação?
Dora ficou apreensiva e ponderou por alguns segundos.
-Ela deve estar com anemia. – arriscou demonstrando segurança no que dizia, entretanto sua voz embargada não trouxe convicção ao rapaz.
Ele riu dela.
-Sei. Vamos ver o que esta acontecendo. – Caio falou indo em direção a porta.
Dora por sua vez bufou de raiva por causa do sorriso sínico dele.
-Mel? Rodrigo? – os dois chamaram logo que Caio bateu na porta
Rodrigo abriu a porta instante depois. Os três se encararam sem dizer nada.
-Entrem. – disse Mel com a voz fraca e logo em seguida eles entraram.
Dora percebeu pelos olhos de Mel e Rodrigo que houve alguma coisa só que decidiu não perguntar por que seus olhos aparentavam estar marejados.
-Você está bem? – Dora perguntou se aproximando de Mel que já se encontrava sentada no sofá.
Mel só balançou a cabeça afirmando.
-Eu já dei os remédios dela. Só foi um pequeno susto. –Rodrigo dirigiu seu olhar pra ela – Não vai se repetir. – sua voz era terna e suave, mas falou como se fosse uma ordem para a garota.
-Afinal das contas, o que ela tem? – Perguntou Caio a Rodrigo.
Quando Rodrigo começou a explicar Dora se virou pra ele.
 -Bem... Ela Tem anemia e passou mal por não estar se alimentando direito. –Esclareceu fitando Mel como se pedisse permissão para contar o ocorrido.
Sem que os outros percebessem Dora deu um sorriso de vitória só por que tinha razão no que disse para Caio a respeito do mal estar de Mel.
-Então né... – Todos fitaram a garota que ficou constrangida com os olhares sobre ela - Que bom que está bem – virou-se para a dona do apartamento e respirou aliviando a tensão.
Em seguida Dora olhou para Caio para ver se ele estava impressionado com a habilidade dela, mas ele nem sequer reparou o que a deixou chateada.
-Não faça mais isso. Tem que se alimentar direito. – Caio aconselhou ela.
Mel acanhada passou as mãos nos cabelos escondendo-os atrás das orelhas.
-É ele tem razão. – Dora concordou com Caio.
-Enfim concordamos em alguma coisa. – disse vitorioso aproximando-se dela.
-Corrigindo o que disse. – ela levantou o dedo indicador – Pelo menos uma vez ele tem razão. – sorriu satisfeita.
-Pelo menos eu tenho razão. – ironizou o belo rapaz de olhos verdes.
Dora ia se pronunciar quando Rodrigo interveio.
-Vocês dois não vão começar de novo, não é?! – falou segurando os dois pelo ombro.
Dora e Caio se entreolharam constrangidos e lembraram que foi justamente quando discutiam que Melody passou mal.
-Ok. Vamos dar uma trégua.
Caio estendeu a mão para Dora que por sua vez estava relutante se seria bom se aliar ao inimigo. Com a sua demora Rodrigo lançou um olhar de reprovação.
-Tá bom. – apertou a mão de Caio finalizando as discursões e dando lugar a paz.
-Aproveitando que estamos aqui. Que tal ajudarmos a Mel com aquelas caixas? –Rodrigo sorriu apontando para a porta aberta onde ainda se encontrava as caixas da moça.
-É pra já. – Caio disse pegando a primeira caixa.
-Já que eu não tenho nada de importante pra fazer. – Dora falou com uma caixa já em seus braços e ao mesmo tempo Mel e Rodrigo riram dos dois.
-Nada de importante pra fazer?! – Caio olhou para ela – Isso é um fato minha cara Dora.
Caio passou a frente dela e a garota fez careta pra ele.
-Acho que esse é o inicio de uma bela amizade. –Anunciou Rodrigo para que todos ouvissem enquanto começava a pegar as caixas.
-Não exagera!!! –Gritou os dois briguentos da onde estavam e encararam um ao outro.
-Cuidado com as caixas da Mel. – alarmou Dora – Do jeito que você é bruto pode estragar alguma coisa. – Caio fez careta remedando ela o que a fez olhar brava pra ele.
Os dois foram em seguida buscar a segunda caixa de ambos e Caio mais uma vez passou na frente dela.
-Cavalheirismo zero! – Dora quase gritou.
Enquanto eles ainda persistiam em discutir Rodrigo já tinha levado três caixas e estava na quarta, Mel ainda estava sentada por ordens médicas do Drº Rodrigo.
-Você tem noção do quanto sua voz é irritante?! –Ironizou Caio ao se cruzar com a garota de óculos enfurecida.
Rodrigo passou por Mel e ela segurou seu braço.
-Sobre aquela história de “inicio de uma bela amizade”. Você acha que não falou cedo de mais?
Ela se referia ao fato dos dois continuarem de forma camuflada discutindo.
Rodrigo olhou para os dois que retornaram o olhar.
-Elementar minha cara Angnel, elementar. – Mel riu da expressão do rapaz.
Depois de alguns minutos todas as caixas estavam empilhadas na sala de Mel e enquanto elas foram empilhadas Rodrigo e ela se divertiam com Dora e Caio que ainda continuavam se desentendendo embora as discursões deles passaram para outro nível, ao invés de serem dois brigões eles pareciam duas crianças discutindo por um doce.
Parecia que uma lâmpada se acendeu na cabeça de Caio depois daquela trabalheira toda.
-Tive uma ideia. – o rapaz fitou Dora.
-Não vai fazer nenhuma piada? – indagou – Não. Por que é normal eu falar algo e você discordar. – se explicou.
Enquanto eles prosseguiam os outros dois só observavam.
-O caso é o seguinte, você é que discorda de tudo que eu falo e já que você teve uma ideia é melhor eu ouvir primeiro e depois tiro minhas conclusões. – disse satisfeita.
Caio ignorou a garota e prosseguiu.
-Como você não tem se alimentado bem e nós fizemos um acordo de vivermos em paz. –ignorou o fato que ele e Dora ainda estavam em guerra – eu proponho que façamos um jantar. Não é que eu queira me gabar, mas cozinho muito bem. Dora é prova disso. – apontou para ela.
-É verdade. –Concordou calmamente assim que todos olharam pra ela.
Mel e Rodrigo se espantaram. Em um momento os dois eram um campo minado explodindo de um lado para o outro e agora pareciam a leve brisa do outono que carregava consigo as folhas secas.
-Por mim tudo bem. – disse Mel ainda impressionada com os dois – Já que você oferece a janta eu ofereço a minha casa. Pode ser?
Caio consentiu com a cabeça.
-Só falta marcar o dia. – observou Rodrigo.
-Como esta em cima da hora pra este sábado que tal marcarmos para o próximo? – Sugeriu Caio.
-Ah sim. E até lá a garota morre de fome. – disse Dora sarcástica e depois riu do que disse.
Caio a olhou desapontado.
-Ok! Eu prometo não fazer mais gracinhas, é claro se ele parar de me chamar de irresponsável e coisas do tipo. – disse finalmente.
Rodrigo e Mel esperaram a reação de Caio.
-Certo! – concordou Caio.
E finalmente marcaram o jantar para o próximo final de semana.
*****
-O que está fazendo? – perguntou Lia ao entrar no quarto de sua irmã.
-Estou procurando uma roupa para o jantar na casa da Mel.
-Hum... aquela sua amiga do prédio que você trabalha? –perguntou mesmo sabendo a resposta.
-Sim. Que tal esta?
Perguntou Dora levantando uma calça jeans escura e uma blusa azul o que fez a irmã fazer uma careta.
-Afinal, o que tem de errado? É só um jantarzinho entre amigos. – esclareceu a garota.
-Ai Dora! – Lia balançou a cabeça negativamente – Primeiro não é só um “jantarzinho”, são novos amigos se conhecendo, você tem que passar uma boa impressão. Segundo vai ter garotos ou seja; interação com o sexo oposto ou seja você tem que estar apresentável e terceiro, por que não usa um vestido? – finalizou abrindo o guarda-roupa e pegando uns vestidos.
-Hello! –Dora balançou as mãos na frente da irmã – Isso não é um encontro. Não preciso estar toda emperiquitada.
Lia pegou um vestido azul-escuro de malha, meia estação que vai até os joelhos.
-Tem como estar bonita e elegante mais sem exagero. – falou colocando o vestido em frente a Dora – Confie em mim.
-É... – Dora analisou o vestido pelo espelho – Não é tão exagerado – por fim concordou com a irmã.
-Ótimo, vai tomar banho – empurrou a garota para o banheiro - ...e rápido senão não dá tempo de eu fazer a maquiagem.
Dora parou no meio do caminho e encarrou Lia.
-Calma. Tudo sem exagero lembra?!
Dora não tinha costume de se maquiar e estava apreensiva só de pensar em como os outros iriam vê-la. Por fim a irmã conseguiu convence-la a se arrumar melhor.
Estava bonita naquele vestido e a maquiagem era leve e não dava nem para ver embora destacasse seus olhos dando um ar bem jovial, a luta foi para conseguir soltar seus cabelos. Isso ela já achava um exagero, mas como persuadir era um dom de Lia, lá estava Dora no elevador subindo para o apartamento de Mel com seus longos cabelos solto e sem seus óculos e lembrando-se das ultimas palavras de sua irmã.
-Depois você me agradece... ah, e guarde esses óculos na bolsa, você só precisa dele para ver de longe.
Estava impressionada consigo mesma, entretanto como não tinha costume de se arrumar tanto estava se sentido uma otária.
Ao chegar no apartamento de Mel pensou milhares de vezes em voltar atrás, porém foi impedida por Rodrigo que chegou no mesmo instante.
-Está muito bonita. – elogiou o rapaz.
-Obrigada. – agradeceu com as bochechas começando a ficar vermelhas.
Rodrigo fez as honras e bateu na porta que logo foi aberta. Os dois foram surpreendidos por Bianca.
-Rodrigo. – disse ela logo cumprimentando o rapaz – E você deve ser a Dorcas! – falou sem dar a mínima importância para a garota.
-É Dora. – corrigiu-a, porém ela parecia não ouvir.
-Entrem. –Convidou-os – A Mel teve que ir no mercado por que acabou o sal, o óleo ou... –ela pensou – sei lá. Não importa. Então ela pediu para fazer sala pra vocês enquanto o mestre- cuca termina a janta.
Os dois ainda não entendiam o porquê de ela estar ali, mas foram logo se acomodando.
-Nossa eu fui a sua apresentação e você tocou tão bem. – comentou Bia sentando-se ao lado de Rodrigo – A proposito, você toca bem todos os dias e, além disso, canta muito bem é bonito.
-Obrigada! – agradeceu e olhou para Dora como se pedisse ajuda.
-Você trabalha com a Mel? – Dora perguntou tentando pensar em algo pra chamar a atenção da garota.
-Se eu pedir pra fazer uma música pra mim você faz? – Dora arregalou os olhos por causa do atrevimento de Bia.
E novamente Dora foi ignorada.
-Eu vou ver se o Caio precisa de ajuda. – levantou-se fugindo da fã do Rodrigo.
Aliviada chegou na cozinha. Caio estava concentrado no que fazia e não se virou para conversa com ela.
-O que teremos pra hoje? – perguntou assim que o viu com os seus afazeres.
-Como passou pela segurança Bianca? – indagou ainda de costas para a garota e ignorando a pergunta dela.
-Ah! Foi fácil. Felizmente eu não era uma procurada dela. Mas, o Rodrigo – ela fez cara de pesar e uma voz desolada – nós o perdemos.
E os dois riram da situação.
-Eu não conhecia a colega da Mel. – comentou Dora.
-Vi ela uma vez. – ele foi em direção ao forno e abriu – Ela veio aqui chamar a Mel para sair e por fim ficou para jantar.
-Entendo.
-Ai... – Caio estava com um pano-de-prato tentando tirar uma lasanha do forno.
-O que foi? – Dora deu a volta na mesa e imaginou que ele tinha queimado a mão e pegou outro pano.
-Queimei! – resmungou ele.
-Toma. – entregou o outro pano para ele.
-Obrigada – finalmente ele olhou pra ela e sorriu – Obrigada – agradeceu novamente pegando o pano.
-Já disse isso. – ela sorriu.
Ele permaneceu olhando ela. Ele parecia ter reparado em como ela estava bonita e ela percebeu  que ele reparou nela e isso de certa forma a deixou feliz. Ele também estava bonito usando uma calça preta e uma camisa de tecido branco o que deu certo charme ainda mais por ele estar cozinhando.
Dora não havia reparado em Rodrigo, porém Caio chamou sua atenção e acabou lembrando que Bianca estava de vestido também.
-Voilá! – disse colocando a lasanha sobre a mesa.
-Está divino! – disse com uma voz sonhadora.
-Hã?
-Divina. Eu quis dizer divina. – corrigiu-se.
Caio entendeu o que ela disse, mas preferiu ficar calado, não queria começar  implica-la tão cedo.
-Será que estão precisando de ajuda? – perguntou Rodrigo logo que chegou na cozinha seguido de Bia.
Rodrigo revirou os olhos e Caio riu da expressão do amigo.
-Já terminei tudo, agora só falta a Mel chegar com o shoyu. – o rapaz respondeu feliz.
-Não falta mais. – anunciou Mel ao entrar na cozinha surpreendendo a todos.
-Shoyu? – indagou Dora para Caio.
Dora novamente ficou feliz por perceber que Mel também estava de vestido.
-É pra salada e é ótimo. –respondeu Caio.
-É mesmo depois daquele dia que marcamos a janta eu e Caio conversamos sobre comida e ele me falou que gosta de colocar esse molho em quase tudo. – disse mostrando o vidro de molho – E agora eu não fico sem shoyu, principalmente na salada.
-Nossa, parece tudo muito bom. – elogiou Bianca se aproximando de Caio – Você deve ser um excelente cozinheiro, na próxima vez vamos fazer lá em casa e você cozinha pra mim. – disse se insinuando para Caio o que fez Mel arregalar os olhos  e Dora olhou para Bia de soslaio.
“A gente nem começou a jantar e a garota já tá falando na próxima. Acho que não é comer que ela quer”. – pensou indignada.
-Por mim tudo bem Bianca. – Caio foi gentil – Pra mim é sempre uma alegria fazer o que gosto. Ainda mais se for para os meus novos amigos.
Dora sorriu ao ouvir a palavra amigos.
-Bom... então vamos comer. –disse Mel.
-Se não se encomendarem gostaria de fazer uma oração pelo alimento. – pediu Caio.
-Fique a vontade. – permitiu Mel com seu jeito meigo.
Todos fecharam os olhos em sinal de respeito. Caio fez uma breve oração de agradecimento pelo alimento e todos finalizaram com um sonoro “amém”.
Durante a janta conversaram e riram muito. Era cedo ainda e eles aproveitariam o tempo para conversarem e se conhecerem mais.
-Que pena que sujou seu vestido Dora. Está tão linda. – disse Mel conduzindo a garota ao banheiro.
-Não tem problema. Eu sou meio desastrada mesmo. Se eu não derrubar nada na roupa, não sou eu – riu do seu próprio comentário.
Chegou ao banheiro e começou a passar uma agua na parte suja do vestido.
-Olha. – Mel chamou sua atenção – Espero que não esteja brava por Bianca estar aqui. – Dora fitou confusa – É que você pareceu não gostar quando ela se dirigiu ao Caio. É que você e o Caio...
-Não. Não há nada entre ele e eu. – suspirou – Acho que você entendeu errado. Lembra?! Caio e Dora, brigas, discursões e desentendimentos. A gente deu uma trégua, mas ainda brigamos. – disse apontando para a cabeça – Nós discutimos mentalmente.
Mel riu dela.
-Eu te espero na sala. – Mel saiu deixando ela sozinha.
Acabou de se limpar deixando seu vestido impecável e foi para sala. Chegando lá encontrou o pessoal conversando. Mel e Rodrigo falavam sobre música e Caio se divertia ouvindo as histórias de Bia e ninguém pareceu notar a presença de Dora. De repente o celular dela tocou e todos olharam pra ela. Dora deu um sorrisinho sem graça e foi para cozinha atender ao telefone.
Após falar ao telefone Dora foi pra sala pegar sua bolsa.
-Aonde você vai? – Mel perguntou percebendo que ela iria sair.
-Eram os pais da Carol. – explicou sobre o telefonema – Eles vão a um jantar e pediu para mim ficar com a Carol.
-Ai que pena! – lamentou Mel.
-Tudo bem. Mas, mesmo assim, obrigada pelo jantar. Até mais. – disse saindo as pressas.
****

-Vamos assistir um filme? – sugeriu Carol
-Tanto faz. – falou Dora desanimada.
Carol pegou o controle da TV e começou a trocar os canais. As duas estavam deitadas em um colchonete no chão.
-Olha, o único filme que esta passando é de terror. Legal né?! – riu Carol.
Dora fez uma careta pois tem pavor deste tipo de filme, mas mesmo assim começou a assistir o filme.
-Nossa que pão! – Falou distraída assim que apareceu um ator bonito em cena.
-Pão?! – Carol ficou confusa – Por que pão?
Dora ficou constrangida e pensou.
-É que ele é bonito e pão é gostoso então uma coisa tem a ver com a outra. – suas explicações estavam ficando piores.
-E o que tem a ver? Pão, gostoso e bonito? – a menina estava confusa.
-É só uma forma de dizer que o cara é bonito. – disse aliviada vendo que Carol desistiu de conversa para terminar de ver o filme.
As duas ficaram fazendo gracinha com as cenas de terror que nem deu pra ficar assustadas. Comeram pipoca e brigadeiro e assim que o filme acabou limparam a bagunça e por fim adormeceram no chão da sala.
-Dora. –A garota acordou assustada com a voz dos pais de Carol.
-Oi. – disse alerta – A gente acabou dormindo – riu nervosa.
-Tudo bem. A gente demorou mais do que devia. – explicou a mãe da menina enquanto o pai foi para o quarto.
-Tome.- disse entregando o dinheiro para a babá. – Pelas horas e extras e para o taxi.
Já estava tarde e Dora sabia que teria que enfrentar um taxi para chegar em casa.
-Obrigada. – agradeceu saindo.
Antes que fechasse a porta se surpreendeu com Caio no corredor.
-Caio?! – arqueou as sobrancelhas.
-Espera Dora. Eu não dei um beijo de boa noite. –Carol saiu correndo pela porta e abraçou a moça.
-Boa noite Carol. – Dora retribuiu o abraço e deu um beijo no rosto dela e Caio acariciou os cabelos da loirinha.
Antes que Carol voltasse para seu apartamento olhou bem para Caio e ficou parada.
-O que foi? – perguntou intrigado.
-Você parece o cara do filme. – a garotinha tinha um sorriso travesso. –Sabia que a Dora disse que você é um pão?!
-Pão? – Caio fitou Dora rindo e se divertindo com o jeito em que ela ficou corada.
-É... Sabe como é; gostoso e bonito. Vai entender. – a garotinha deu de ombros e voltou correndo para dentro fechando a porta.
Caio encarou a babá esperando que ela se explicasse.
-Não ligue pra ela. Eu não disse isso de você. – Caio deu um sorriso sínico o que começou a deixa-la nervosa – era do cara do filme.
-Sei.
-Eu nem sei por que estou me explicando. – saiu batendo perna furiosa.
Entrou no elevador e cruzou os braços.
-Espera. – Caio entrou também. – Eu preciso usar o elevador também.
Desceram calados. Enquanto Dora esperava o taxi na frente do prédio Caio em vez de ir para seu apartamento foi fazer companhia a ela.
Dora pegou os óculos na bolsa e colocou no rosto.
-Hum... de óculos. É tão você. – o rapaz se aproximou com o seu sorriso de lado.
-Se vai começar a me zoar é melhor sair de perto. – falou alerta.
-Calma! Amigos. Não morda. – falou como se conversasse comum cachorrinho – Foi só um comentário e não leve como uma ofensa. Você fica bem de óculos. – foi sincero.
-Lindona! – Ironizou ela.
-Por que esta brava? Achei que estávamos em paz. Aliais o jantar foi pra isso.
-Você não esta se saindo muito bem também. –comentou – Fica me provocando.
Ela cruzou os braços impaciente e olhou pra rua.
-Tudo bem! Eu não vou mexer com você mais. –ofereceu a mão a ela. – Será que podemos ser amigos? Sabe. De verdade?
Ela olhou para a mão dele estendida e olhou pra ele em seguida, mordeu os lábios e finalmente apertou a mão do rapaz. Demoraram em soltar as mãos e no mesmo momento não desgrudaram os olhos um dos outro.
“O que será que está passando na cabeça dele” – pensou Dora.
-Acha mesmo que eu sou um pão?
Quando percebeu que a coisa estava ficando seria e sem graça Caio decidiu abrir a boca para quebrar o clima fazendo com que Dora soltasse a mão dele e revirasse os olhos.
-Caio Cruz eu te odeio! – declarou começando a andar fazendo com que ele fosse atrás dela.













 renata massa