9 de julho de 2013

Capítulo 17 - O inesperado...


Rodrigo bateu na porta pela quinta vez.
_ Mel? Eu sei que você está ai. Abra! Está tudo bem?
Bateu na porta mais uma vez, mas ninguém respondeu. Não houve nenhum barulho do outro lado da porta. Estranhou. Será que havia acontecido algo com ela. Será que Dora havia saído e a deixado sozinha? Começou a ficar preocupado no que poderia estar acontecendo. E se Mel tivesse desmaiado novamente?
Correu até o térreo procurando pelo síndico. Explicou rapidamente a situação.
Ele pode ver o quanto Rodrigo estava apreensivo. Pegou a chave reserva e foi com ele verificar se havia acontecido algo com Melody.
Destrancou a porta do apartamento e Rodrigo entrou correndo e ficou desnorteado ao ver Mel e Dora na sala, comendo pipoca e assistindo a um filme. 
Mel o fuzilou com os olhos sem nada a dizer. Dora ficou ainda mais surpresa.
Ele ficou confuso por um tempo _ Por que você não abriu a porta Dora?
Ela ficou sem graça, não soube o que responder. E antes que pudesse Mel tomou a posse da palavra.
_ Por que eu não quis. Já cansei de ver a sua cara. Dá um tempo. Larga do meu pé. Já não basta tudo o que aconteceu hoje?
Rodrigo não estava acreditando na falta de tato de sua vizinha.
_ Eu apenas te salvei de algo que poderia ter sido pior. E se isso foi um erro, me perdoe. Deixe de ser teimosa e acorda para a vida garota. O mundo não está a seus pés como você pensa – ele estava irritado com a falta de noção de Mel.
Ela olhava surpresa com as palavras que saíram daquela boca que uma vez quase beijara. Como ele pôde falar isso? Quem pensa que é? Sua vontade era de falar tantas coisas que nem sabia por onde começar, e por mais que quisesse atacá-lo mais ainda, simplesmente ficou sem força. Estava irritada e nervosa demais que preferiu apenas 
encara-lo seriamente evitando que qualquer lágrima caísse. Não iria chorar por aquelas palavras, não iria chorar na sua frente. 
Num momento de muito esforço levantou a sua voz e disse em alto e bom som 
_ Saía daqui AGORA!
Rodrigo e Mel se olharam fuzilando um ao outro com os olhos. Dora não sabia o que fazer, sabia que nada do que falasse iria adiantar. Nunca viu Mel daquele jeito e muito menos Rodrigo com seu semblante tão sério. As coisas haviam ido longe de mais.
Ele fechou a porta do apartamento e se desculpou com o sindico. Este que apenas observou tudo de longe deu de ombros _ Deve ser TPM. Daqui a pouco ela relaxa. Rodrigo deu um meio sorriso e entrou em seu apartamento indignado.

A madrugada não foi das melhores, teve um pesadelo atrás do outro e isso o deixou ainda mais nervoso. Se fosse um pesadelo com pessoas que não conhecesse tudo bem, mas era com quem ele menos esperava e isso apenas o atormentou ainda mais.
Levantou mais cedo do que de costume. Vestiu uma roupa leve e desceu para fazer uma corrida. Precisava respirar ar puro e sentir a adrenalina da corrida. Quem sabe com isso teria mais vontade de trabalhar naquela Segunda-feira. 
Percorreu em torno de dois quilômetros e decidiu voltar. Se não chegaria atrasado na empresa. Chegando em frente ao prédio que morava viu Caio com sua mala.
_ O que aconteceu? – Perguntou preocupado, seu semblante era de uma noite de insônia.
Ele encarou o amigo e suspirou longamente _ Estou sem teto para ficar.
Rodrigo estreitou os olhos _ Como assim? O que aconteceu com o apartamento em que estava?
_ Era de uma prima bem distante minha. Resolveu voltar do nada e não dá para mim ficar lá. Tem marido e bebê. Muita gente.
Sem pensar muito, ele convidou Caio para vir em seu apartamento. Que situação! Venho do interior para tentar uma vida nova e acontece isso. Não, isso não iria ficar assim. Enquanto o elevador subia Rodrigo teve uma excelente ideia, a mais certeira que já teve. Seria ótimo... Isso mesmo.
Entraram no apartamento, Caio colocou sua mochila em um canto e sentou no sofá. Estava totalmente perdido, não sabia o que fazer com sua vida. Voltar para casa agora? Não, não e não.
_ Caio, por que você não vem morar aqui? Tem espaço suficiente para nós dois. Dividimos as despesas, vai ficar mais fácil para nós.
Caio olhou perplexo para seu amigo _ Isso é sério? Sério mesmo?
_ Claro cara, mas com uma condição – Rodrigo disse seriamente evitando dar risada.
Caio apenas o encarou com receio do que viria a seguir. Mas quando ouviu uma das palavras que mais gosta ficou animado.
_ Pode deixar, eu vou ser o cozinheiro da casa. 
_ Fechado. Vou resolver algumas coisas e mais tarde conversamos.
Há, a hora que sair deixa a chave na portaria que vou avisar sobre o novo morador.

Sem que percebesse Caio salvou o seu dia do mal humor que teria. Realmente ter alguém morando com ele seria bom. Estava entusiasmado que fez uma loucura.
Chegaria uma hora atrasado no trabalho, mas com certeza valeria a pena.
No meio de suas compras recebeu um telefonema da empresa. Atendeu rapidamente. Já havia avisado que chegaria tarde, o que seria então?
_ Alô! Sim... – Pediu um papel e uma caneta para a atendente e marcou um endereço - Pode deixar. Vou ver isso e volto depois do almoço... Certo. Tchau!
Passou o cartão de crédito, deu o endereço de entrega e subiu em sua moto.
Não ficava muito longe daí, o nome era conhecido. Estacionou a moto em frente. Era uma cafeteria. Era raro ele ter clientes nesse ramo. Mas ordens eram ordens. Deu de ombros e repensou rapidamente toda a estratégia que tinha que fazer sem chamar a atenção do que ele era. Essa parte do trabalho geralmente Kevin fazia, mas parece que ele teve que tirar férias de última hora, então isso acabou ficando em seu encargo.
Respirou fundo e abriu a porta, a porta fez um plim plim e sentiu um aroma gostoso de café no ar. O lugar era realmente aconchegante, mas havia poucos clientes.
Avaliou as mesas por onde passou e sentou na última, onde dava para ver todo o ambiente e ter uma noção de como era o atendimento e do que talvez precisasse mudar.
Pegou um pequeno cardápio e olhou as opções. Estava com fome, não havia tomado o café ainda. Olhou um por um decidindo logo o que queria.
_ Bom dia! O que o senhor deseja?
Ele conhecia aquela voz. Mas não, não poderia ser ela. Ficou imóvel por um momento temendo que a sua suspeita estivesse certa.
_ Senhor?
Ele respirou fundo e então abaixou o cardápio a encarando seriamente.
Ela deu um passo para trás quando o reconheceu _Rodrigo? O que faz aqui?
_ Eu é que pergunto, você não estava no exterior?
_ É, voltamos...
Rodrigo levantou-se e a encarou furiosamente. Pensou que estava mais tranquilo em relação a isso, mas jamais pensou que a encontraria aqui, na sua cidade.
_ Voltaram, então?
Jogou o cardápio em cima da mesa e disse sem olhar para aqueles olhos que um dia acreditou amar _ Faz um favor então? Fiquem longe de mim.
_ Mas ele é seu irmão...
_ Que me traiu com a minha noiva. Você acha que simplesmente as coisas se resolvem assim?
_ Já te pedimos perdão Rodrigo, o que mais quer que façamos?
_ Que me deixem em paz. 
Nesta hora a porta fez plim plim e Rodrigo escutou uma voz muito familiar. Não esperava. Por que Mel e Dora estavam ali? Parecia um complô contra ele.
_ Por favor, somos da mesma família Rodrigo, você precisa conhecer a sua sobrinha.
Ele engoliu seco. A filha que eles tiveram, resultado daquela noite da traição.
Rodrigo estava inconformado, não acreditava na facilidade com que ela falava aquelas coisas. Como se não fosse nada de mais o que ela fez. Se fosse com outra pessoa seria menos doloroso, mas com seu irmão? Ela realmente não tinha ideia do estrago que fez em sua família.
_ Eu já disse, me deixa em paz! Não quero saber de ninguém.
A porta fez plim plim de novo. Rodrigo e Rebeca escutaram uma risada de criança. Na mesma hora olharam em direção a porta e então as coisas acabaram piorando.
Rodrigo não soube o que fazer com o impacto daquilo. Saber de sua sobrinha era uma coisa, agora ver seu irmão a segurando nos braços o deixou sem chão. Como se caísse em um buraco. As feridas voltaram a abrir e estavam sangrando de um jeito que o deixou sem chão. Como doía ver que formaram uma família a custa de uma traição.
Queria esquecer, mas simplesmente não esquecia. E por mais que aquela menina tão linda fosse inocente na história, não tinha coragem de chegar perto dela, aliás, de todos.
Seu irmão o reconheceu e hesitou se aproximar por um momento.
Mel e Dora estavam sentadas e apenas observando o clima tenso entre os três. Perceberam que Rodrigo estava transtornado, o semblante estava muito estranho. Suas mãos pareciam tremer. Então o homem com a criança no colo foi na direção dele e da garçonete. Dava para ver de longe que eram irmãos, mas este alguns anos mais velho.
Rodrigo e Robson se encararam por um momento _ Sinto muito cara, só Deus sabe como me arrependo de ter feito isso com você.
Ele continuou em silencio. Conhecia o seu irmão o suficiente para saber que o que falara era sincero.
Rebeca pegou sua filha do colo de Robson e saiu de perto dos dois. Precisavam ficar a sós.
_ Não sei mais o que fazer para você me perdoar.
_ Devia ter pensado nisso antes de ficar com minha noiva.
_ Foi um erro, eu sei – Robson estava com o semblante triste. 
_ Se foi um erro então por que continuou com ela? – Rodrigo esbravejou. Nunca chegaram a conversar sobre isso, por mais que Robson tentasse. Houve um tempo que ligava todos os dias, mas depois de meses cansou, e não mais ligou.
_ Ela engravidou.
Rodrigo não estava convencido de sua resposta.
_ Desculpe, mas eu me apaixonei por ela.
Rodrigo cruzou os braços rindo cinicamente _ E você acha isso lindo, né?
Se coloca no meu lugar, você era meu irmão. Você não tem ideia de como me sinto um idiota. E acha que simplesmente pedindo perdão vai resolver tudo?
_ Sei que não, mas deixa de ser teimosa cara – Robson estava ficando impaciente.
Rodrigo riu sem achar graça. Quem dera fosse tão fácil assim. Chega de conversa, sabia não chegariam a lugar algum. Simplesmente começou a andar em direção à porta e só então lembrou da presença de Mel e Dora. Parou naquele instante a encarando. Seu semblante estava melhor que o dia anterior e seus olhos transmitiam algo que não conseguia entender. Era como se ela compreende-se, ou estava ficando maluco?
_ Espera, vou com você! – Mel sussurrou e por mais que a vontade dele fosse de fugir imediatamente dali, a sua doçura, os seus lindos e profundos olhos não deixaram. Ela ia pegou a sua muleta quando Rodrigo a impediu. Estendeu a mão e passou os braços em torno de sua cintura e ajudou a sair dali. Sabia que estavam todos olhando, não se importava, só não queria estar no mesmo lugar que Rebeca e Robson.

Rodrigo estava exausto, não de ajudar Mel a andar, mas pelo acontecido. Foram até seu apartamento em silêncio.
_ Você não devia fazer muito esforço, pelo bem do seu pé.
Mel suspirou e levantou ele descansando-o. Ele tinha razão, estava latejando de dor. Mas ela não reclamou.
_ Precisava sair. 

Rodrigo a fitou por um momento, sentindo que suas palavras queriam dizer muito mais que isso. Ela não resistiu àquela situação e completou _ Não quero falar sobre isso, mas apenas preciso te dizer que você não está sozinho... – Mel suspirou e desviou o seu olhar _ Também passei por uma relação que me deixou marcada.
Rodrigo sempre soube que havia uma ligação entre eles, e agora estava compreendendo um pouco mais sobre isso. Mas, não era só isso, havia ainda algo a mais, no entanto estava em dúvidas em relação a isso.
Ele pegou carinhosamente em sua mão e a apertou. Ela sentiu-se segura e de alguma forma próxima a ela. Em todos os sentidos e isso a deixava com medo.
Ambos de entreolharam por um momento e então Rodrigo colocou a mão em seu rosto _ Você precisa se cuidar... Não quero que nada de ruim aconteça...
Ela o fitou surpreendida com aquele toque, com o carinho de suas palavras.
Rodrigo aproximou-se ainda mais _ Você é uma mulher fascinante... Não deixe que ninguém tire nada de você...
Mel fechou os olhos sentindo o poder daquelas palavras invadirem diretamente o seu coração. Antes de pudesse pensar ou falar sentiu os lábios quentes do Rodrigo nos seus. Ela estremeceu com aquele toque, era doce, suave e foi se tornando intenso, mas de repente os dois se afastaram rapidamente.
_ Não posso! – Os dois falaram e então percebendo o que acontecera se olharam perdidos e confusos.

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 renata massa