Rodrigo
ficou desconcertado ao ver Mel abraçado naquele sujeito estranho. O clima que
surgiu entre eles alguns minutos atrás se dissipou completamente. Afinal quem
era aquele cara?
Caio também
ficou intrigado, mas não tanto quanto o seu amigo, que tentava disfarçar o incômodo
que sentia com aquele abraço e a intimidades que ambos tinham e que com certeza
dava para ver de longe.
_ Não
acredito que você esteja aqui – Mel largou os braços do sujeito estranho e o
encarou.
Ele deu um
sorriso cativante como sempre _ Pois acredite, por que agora não vou mais sair
do seu pé.
_ Como
assim? O que você quer dizer?
_ Vim para
ficar Mel.
Ela fitou o
irmão por um segundo não sabendo como reagir. É claro que ficava feliz com a
sua presença, era o seu irmão e sentia-se tão bem com ele, mas...
_ O que
foi? Não gostou? – Juliano franziu a testa estranhando.
_ Claro que
não seu bobo, só estou surpresa – Ela deu de ombros e então notou um movimento
ao seu lado. Foi tudo muito rápido que quando percebeu Rodrigo havia acabado de
sair pela porta sem trocar uma palavra com ela, aliás, o seu semblante estava
estranho. Muito diferente de minutos atrás quando ambos se perderam por alguns
segundos em seus olhares. Mel suspirou por um momento e sem querer deixou transparecer
algo para seu irmão. Havia algo entre os dois.
*****
Rodrigo
trabalhou até tarde naquele dia. O motivo não era a quantidade de serviços, mas
simplesmente não conseguia se concentrar no seu trabalho. Por mais que se
esforça-se seus pensamentos sempre voltavam àquela cena, Mel e o cara
desconhecido – só para ele – pois ela parecia ter muita intimidade com ele o que
o deixou ainda mais frustrado. Agora que finalmente as coisas pareciam melhorar...
Ainda não haviam conversado sobre o beijo que evitavam falar, mas seus gestos
diziam claramente aquilo que nenhum dos dois tivera coragem de falar, ou tempo
a sós para conversarem. Por mais que ele
acha-se que foi precipitado aquele beijo, não conseguia se arrepender por que
foi sincero e real. Algo tão profundo que o deixou intrigado. Como uma mulher
podia fazer isso com ele?
Abanou a
cabeça novamente, deixando seus pensamentos virarem poeira. Quem sabe assim
tudo o que sentia por Mel também desaparece-se. Sinceramente? Era o que queria
naquele momento. Um medo conhecido tomou conta do seu ser e odiava ter este
tipo de sentimento. Era homem, não precisava deixar que sentimentos o deixassem
daquele estado.
Desligou o
computador e suspirou. Poderia ficar ali até meia-noite que não conseguiria
terminar aquele trabalho. Havia só uma coisa que poderia o acalmar e contava
com a ajuda de Caio para isso.
Avistou o
síndico assim que entrou no prédio.
_ Você guardou as minhas coisas, certo?
_ Claro, acha que já está na hora?
_ Sim, preciso disso hoje. Onde você guardou?
O sindicou deu um sorriso alegre pela primeira vez em semana
e o levou até o seu apartamento que fica no térreo. Dispensando a ajuda do
síndico carregou aquela caixa em suas mãos como se fosse algo precioso. Subiu
no elevador e quando saiu escutou algumas vozes, risadas e um cheiro que
impregnou o seu olfato.
Caminho
lentamente tentando desvendar da onde vinha aquilo tudo. Tudo indicava o seu
apartamento. Estranhou por um momento até que escutou vozes de alguém. Dora? Mel?
Antes de
seguir mais um passo alguém abriu a porta do apartamento e então ele viu quem
não queria de forma alguma ver naquele dia. Ficou mudo, parado, imóvel,
esperando o que viria a seguir. Mas então Mel não o viu, deixou a porta aberta
e entrou no seu apartamento. Estava tão distraída que simplesmente não o viu.
Rodrigo
ficou estarrecido com isso. Parecia que as coisas mudaram e não esperava nada
disso.
Quando se
deu conta ainda estava parado no mesmo lugar e então novamente Mel apareceu,
saindo do deu apartamento. Agora ela o viu e abriu um sorriso se aproximando _
Você demorou.
Rodrigo
continuou a encará-la querendo saber o que estava acontecendo. Quem era aquele
sujeito? E o que foi aquele beijo para ela? Entretanto, essas perguntas ficavam
se martelando apenas em seus pensamentos, por que sua única resposta para Mel
foi _ Estava trabalhando – Então segurando aquela caixa com muito mais força
que precisava passou do seu lado entrando em seu apartamento e ignorando-a.
_ Até que
enfim chegou Rodrigo – Caio disse assim que o viu _ Onde você estava cara?
_
Trabalhando – Mel deu de ombros querendo fuzilar o comportamento de Rodrigo.
Caio
encarou os dois não entendo aquele clima _ O que há com vocês dois?
Nenhum dos dois disse nada, pelo contrário evitaram se olhar
e se distanciaram.
O sujeito
estranho também estava ali, Rodrigo logo o avistou e ficou olhando para Caio e
Dora querendo uma explicação. No entanto Dora estava entretida numa conversa
com aquele cara e Caio terminando o jantar enquanto dava algumas olhadas na
direção dos dois, numa cara nada amistosa.
Então
percebeu que ainda estava com aquela caixa nas mãos e ninguém lhe perguntou
nada. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Estava no SEU apartamento
e com um ser desconhecido, e todos simplesmente o ignoram?
Rodrigo
suspirou e então encarou Caio _ Dá para prestar atenção aqui?
Caio largou o que estava fazendo assustado com o tom de voz
de seu amigo.
Todos pararam de conversar e olharam para ele, estranhando o
seu comportamento.
Pela primeira vez Rodrigo não se importou se estavam todos o
encarando. Não queria ser enganado de novo e não iria admitir isso em seu
apartamento, independente do que estivesse acontecendo.
_ Isso é
seu! – Disse em um tom áspero deixando Caio confuso _ Abra! – Ordenou.
O amigo o
olhou por um momento e sem dizer nada abriu o embrulho e quando conseguiu ver o
que era ficou surpreso. Surpreso é pouco, ficou simplesmente maravilhado com o
que seus olhos viram.
_ É sério
Rodrigo?
_ É um
presente – Ele deu um sorriso satisfeito em ver que tomou a atitude certa em
ter comprado um teclado para o colega. Tinha dinheiro guardado no banco
justamente para as horas em que precisava. Caio era um homem honesto e humilde,
merecia isso pela sua honestidade e coragem.
Rodrigo
ajeitou o pedestal que havia na sala – escondido – para esse momento e Caio
colocou o grande teclado em
cima. Não era qualquer modelo, era um profissional.
Assim que ele ligou e tocou algumas notas seu sorriso antes
escondido brotou novamente fazendo com que Dora se aproxima-se dele. Ambos de
olharam por um momento e então sem que percebesse Dora sussurrou _ Toca pra
mim!
Pela
primeira vez Rodrigo e Mel se olharam em cumplicidade ao perceber aquele momento entre os dois amigos. As brigas
há semanas haviam parado e Dora aos poucos sentia-se melhor embora a dor sempre
existia dentro dela. Entretanto ver aquele momento entre os dois, aqueles
olhares silenciosos, mas que diziam tudo, isso era algo raro de verem, ainda
mais entre os dois. E Rodrigo e Mel não resistiram em sorrir um para outro
sabendo que ambos também tinham alguma ligação.
No entanto Juliano passou a mão sobre seu ombro cochichando
algo que deixou Mel sem graça e Rodrigo então lembrou que aquele ser estranho
ainda estava em sua casa e ninguém o havia apresentado.
Parecendo
sentir os pensamentos do amigo, Mel levantou-se e respirando fundo chamou
Juliano para vir junto.
_ Rodrigo,
fizemos esse jantar pra recepcionar o Juliano. Ele vai morar comigo.
Ele fitou Mel por um momento, confuso _ Morar com você?
Juliano o
encarou seriamente enquanto cruzava os braços _ Algum problema em eu morar com
a minha irmã?
_ Irmã? –
Ele estreitou os olhos.
_ É, o
Juliano é meu irmão.
Sem dizer nada Rodrigo olhou de um para o outro e então
completamente sem graça respondeu _ Ah, seja bem vindo cara – Ele apertou a mão
de Juliano que não pareceu muito satisfeito com a sua atitude e antes que
alguém pudesse falar algo sentiram um forte cheiro. Rodrigo foi rapidamente no
fogão e desligou as duas bocas que estavam ligadas.
Verificou o
que havia dentro das panelas e então anunciou _ Nosso jantar queimou.
_ Queimou?
Como assim? – Caio venho correndo em sua direção _ Não cara. Eu nunca queimo
nada. Não acredito! – Colocou a mão na nuca e olhou para Dora sem graça. Esta
apenas sorriu e aproximou-se dele _ Vamos pedir pizza!
Sem nenhuma outra alternativa ele deu ombros e todos apreciaram
a ideia de Dora.
Rodrigo
ligou para a pizzaria da esquina e fez o pedido dizendo que buscaria o pedido.
Mel escutou e não compreendeu. Não seria mais fácil deixarem trazer? Entretanto
os planos eram outros, isso se ele consegui-se uma brecha entre os irmãos que
não se desgrudavam. O que faria? Dora e Caio continuavam concentrados no
teclado.
Pegou o
celular e mandou uma mensagem para Mel.
Precisamos conversar
Mel leu a
mensagem sem que o irmão a visse, por milagre. Olhou para o lado e avistou
Rodrigo a encarando esperando respostas. Ele parecia ansioso, e ela ficou do
mesmo jeito. Então sem pensar muito foi ao banheiro e de lá mandou outra
mensagem.
Com meu irmão por perto é
complicado.
Ignorando a resposta e percebendo que pelo jeito Juliano era
ciumento, digitou:
Vem junto comigo buscar a pizza.
É só isso que eu peço.
Rodrigo
esperou por respostas, mas não houve. Mel continuou no banheiro.
Entretanto como se Dora assisti-se a tudo de camarote, mesmo
concentrada na música de Caio, ela inocentemente colocou a sua mão sobre a de
Caio fazendo com que ele parasse de tocar na mesma hora. Ambos se entreolharam
confusos. Dora não tinha ideia de que aquele toque iria causar um turbilhão de
sentimento entre eles. Antes que perde-se a coragem – ou melhor – a fala,
disse:
_ Vamos
buscar a pizza com Juliano? Aproveitamos e mostramos um pouco da nossa rua para
ele.
Caio a
olhou mais confuso ainda _ Por quê?
Dora suspirou
e fazendo biquinho implorou _ Por favor...
No entanto Caio não se deu por satisfeito _ Por quê? – Ficou
firme em saber a resposta.
Percebendo o jeito estranho dele,
disse em poucas palavras _ O Rodrigo e a Mel precisam conversar.
Caio não estava gostando do rumo
daquela conversa _ O que você sabe que eu não sei?
Dora deu de
ombros _ O necessário.
Antes que
Caio desse mais uma de suas perguntas ela o puxou pela mão deixando-o ainda
mais transtornado pelo seu toque.
_ Luciano
queremos que venha com a gente – Dora o tirou de seus devaneios.
_ O que? –
Ele a fitou não compreendendo.
Dora deu uma leve risada _ Vamos buscar a pizza e daí
queremos te mostrar algo.
_ Vou
esperar só a Mel sair do banheiro daí vamos.
_ Ah é
rapidinho cara, e nem é bom a Mel ficar andando tanto.
Olhando para Rodrigo ele disse seriamente _ E você arruma a
mesa.
Antes que
Juliano pudesse dizer algo Dora o puxou pela mão deixando Caio perplexo pela
sua atitude.
Rodrigo
suspirou e abriu um sorriso assim que Mel saiu, minutos depois. Ela olhou para
a sala e cozinha confusa.
_ Onde
estão todos?
Rodrigo não evitou um sorriso _ Foram buscar a pizza.
_ O Juliano
foi sem mim? – Ela arregalou os olhos.
_ E eu não
disse nada – ele deu de ombros e aproximou alguns passos de Mel.
Ela também não conteve um sorriso. Era tão bom estar em sua
presença.
Rodrigo não
sabia por onde começar a conversa, mas precisava esclarecer as coisas entre
eles.
_ Desculpe
se agi de maneira errada hoje, não sabia que era o seu irmão.
Mel abriu ainda mais o sorriso _ E quem pensou que seria?
Ele deu de
ombros sem graça o que a deixou ainda mais fascinada.
_ E meu
irmão não facilita as coisas. Ele é muito protetor, sabe.
_ Percebi.
Acho que não foi muito com a minha cara.
_ É por que
ele sabe que tem algo entre a gente – Mel respondeu espontaneamente fazendo com
que Rodrigo se aproxima-se ainda mais dela.
_ Têm? –
Ele segurou a sua mão fazendo Mel estremecer com aquele gesto.
_ Você acha
que tem? – Perguntou com a voz fraca sentindo a aproximação dele _ Só, por
favor, não me beije – Ela implorou.
_ Por que
minha linda? Você sabe que...
Antes de
pudesse falar a porta abriu-se
rapidamente e Dora veio anunciando _ A pizza chegou!
Todos
olharam para Rodrigo e Mel, ambos de mãos dadas e apenas alguns centímetros de
distancia. Juliano e Caio indagaram em alto e bom som _ Mel?!
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