6 de agosto de 2013

Capítulo 21 - Um ser estranho


            Rodrigo ficou desconcertado ao ver Mel abraçado naquele sujeito estranho. O clima que surgiu entre eles alguns minutos atrás se dissipou completamente. Afinal quem era aquele cara?
            Caio também ficou intrigado, mas não tanto quanto o seu amigo, que tentava disfarçar o incômodo que sentia com aquele abraço e a intimidades que ambos tinham e que com certeza dava para ver de longe.
            _ Não acredito que você esteja aqui – Mel largou os braços do sujeito estranho e o encarou.
            Ele deu um sorriso cativante como sempre _ Pois acredite, por que agora não vou mais sair do seu pé.
            _ Como assim? O que você quer dizer?
            _ Vim para ficar Mel.
            Ela fitou o irmão por um segundo não sabendo como reagir. É claro que ficava feliz com a sua presença, era o seu irmão e sentia-se tão bem com ele, mas...
            _ O que foi? Não gostou? – Juliano franziu a testa estranhando.
            _ Claro que não seu bobo, só estou surpresa – Ela deu de ombros e então notou um movimento ao seu lado. Foi tudo muito rápido que quando percebeu Rodrigo havia acabado de sair pela porta sem trocar uma palavra com ela, aliás, o seu semblante estava estranho. Muito diferente de minutos atrás quando ambos se perderam por alguns segundos em seus olhares. Mel suspirou por um momento e sem querer deixou transparecer algo para seu irmão. Havia algo entre os dois.

*****

            Rodrigo trabalhou até tarde naquele dia. O motivo não era a quantidade de serviços, mas simplesmente não conseguia se concentrar no seu trabalho. Por mais que se esforça-se seus pensamentos sempre voltavam àquela cena, Mel e o cara desconhecido – só para ele – pois ela parecia ter muita intimidade com ele o que o deixou ainda mais frustrado. Agora que finalmente as coisas pareciam melhorar... Ainda não haviam conversado sobre o beijo que evitavam falar, mas seus gestos diziam claramente aquilo que nenhum dos dois tivera coragem de falar, ou tempo a sós para conversarem.  Por mais que ele acha-se que foi precipitado aquele beijo, não conseguia se arrepender por que foi sincero e real. Algo tão profundo que o deixou intrigado. Como uma mulher podia fazer isso com ele?
            Abanou a cabeça novamente, deixando seus pensamentos virarem poeira. Quem sabe assim tudo o que sentia por Mel também desaparece-se. Sinceramente? Era o que queria naquele momento. Um medo conhecido tomou conta do seu ser e odiava ter este tipo de sentimento. Era homem, não precisava deixar que sentimentos o deixassem daquele estado.
            Desligou o computador e suspirou. Poderia ficar ali até meia-noite que não conseguiria terminar aquele trabalho. Havia só uma coisa que poderia o acalmar e contava com a ajuda de Caio para isso.
            Avistou o síndico assim que entrou no prédio.
_ Você guardou as minhas coisas, certo?
_ Claro, acha que já está na hora?
_ Sim, preciso disso hoje. Onde você guardou?
O sindicou deu um sorriso alegre pela primeira vez em semana e o levou até o seu apartamento que fica no térreo. Dispensando a ajuda do síndico carregou aquela caixa em suas mãos como se fosse algo precioso. Subiu no elevador e quando saiu escutou algumas vozes, risadas e um cheiro que impregnou o seu olfato.
            Caminho lentamente tentando desvendar da onde vinha aquilo tudo. Tudo indicava o seu apartamento. Estranhou por um momento até que escutou vozes de alguém. Dora? Mel?
            Antes de seguir mais um passo alguém abriu a porta do apartamento e então ele viu quem não queria de forma alguma ver naquele dia. Ficou mudo, parado, imóvel, esperando o que viria a seguir. Mas então Mel não o viu, deixou a porta aberta e entrou no seu apartamento. Estava tão distraída que simplesmente não o viu.
            Rodrigo ficou estarrecido com isso. Parecia que as coisas mudaram e não esperava nada disso.
            Quando se deu conta ainda estava parado no mesmo lugar e então novamente Mel apareceu, saindo do deu apartamento. Agora ela o viu e abriu um sorriso se aproximando _ Você demorou.
            Rodrigo continuou a encará-la querendo saber o que estava acontecendo. Quem era aquele sujeito? E o que foi aquele beijo para ela? Entretanto, essas perguntas ficavam se martelando apenas em seus pensamentos, por que sua única resposta para Mel foi _ Estava trabalhando – Então segurando aquela caixa com muito mais força que precisava passou do seu lado entrando em seu apartamento e ignorando-a.
            _ Até que enfim chegou Rodrigo – Caio disse assim que o viu _ Onde você estava cara?
            _ Trabalhando – Mel deu de ombros querendo fuzilar o comportamento de Rodrigo.
            Caio encarou os dois não entendo aquele clima _ O que há com vocês dois?
Nenhum dos dois disse nada, pelo contrário evitaram se olhar e se distanciaram.
            O sujeito estranho também estava ali, Rodrigo logo o avistou e ficou olhando para Caio e Dora querendo uma explicação. No entanto Dora estava entretida numa conversa com aquele cara e Caio terminando o jantar enquanto dava algumas olhadas na direção dos dois, numa cara nada amistosa.
            Então percebeu que ainda estava com aquela caixa nas mãos e ninguém lhe perguntou nada. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Estava no SEU apartamento e com um ser desconhecido, e todos simplesmente o ignoram?
            Rodrigo suspirou e então encarou Caio _ Dá para prestar atenção aqui?
Caio largou o que estava fazendo assustado com o tom de voz de seu amigo.
Todos pararam de conversar e olharam para ele, estranhando o seu comportamento.
Pela primeira vez Rodrigo não se importou se estavam todos o encarando. Não queria ser enganado de novo e não iria admitir isso em seu apartamento, independente do que estivesse acontecendo.
            _ Isso é seu! – Disse em um tom áspero deixando Caio confuso _ Abra! – Ordenou.
            O amigo o olhou por um momento e sem dizer nada abriu o embrulho e quando conseguiu ver o que era ficou surpreso. Surpreso é pouco, ficou simplesmente maravilhado com o que seus olhos viram.
            _ É sério Rodrigo?
            _ É um presente – Ele deu um sorriso satisfeito em ver que tomou a atitude certa em ter comprado um teclado para o colega. Tinha dinheiro guardado no banco justamente para as horas em que precisava. Caio era um homem honesto e humilde, merecia isso pela sua honestidade e coragem.
            Rodrigo ajeitou o pedestal que havia na sala – escondido – para esse momento e Caio colocou o grande teclado em cima. Não era qualquer modelo, era um profissional.
Assim que ele ligou e tocou algumas notas seu sorriso antes escondido brotou novamente fazendo com que Dora se aproxima-se dele. Ambos de olharam por um momento e então sem que percebesse Dora sussurrou _ Toca pra mim!
            Pela primeira vez Rodrigo e Mel se olharam em cumplicidade ao perceber  aquele momento entre os dois amigos. As brigas há semanas haviam parado e Dora aos poucos sentia-se melhor embora a dor sempre existia dentro dela. Entretanto ver aquele momento entre os dois, aqueles olhares silenciosos, mas que diziam tudo, isso era algo raro de verem, ainda mais entre os dois. E Rodrigo e Mel não resistiram em sorrir um para outro sabendo que ambos também tinham alguma ligação.
No entanto Juliano passou a mão sobre seu ombro cochichando algo que deixou Mel sem graça e Rodrigo então lembrou que aquele ser estranho ainda estava em sua casa e ninguém o havia apresentado.
            Parecendo sentir os pensamentos do amigo, Mel levantou-se e respirando fundo chamou Juliano para vir junto.
            _ Rodrigo, fizemos esse jantar pra recepcionar o Juliano. Ele vai morar comigo.
Ele fitou Mel por um momento, confuso _ Morar com você?
            Juliano o encarou seriamente enquanto cruzava os braços _ Algum problema em eu morar com a minha irmã?
            _ Irmã? – Ele estreitou os olhos.
            _ É, o Juliano é meu irmão.
Sem dizer nada Rodrigo olhou de um para o outro e então completamente sem graça respondeu _ Ah, seja bem vindo cara – Ele apertou a mão de Juliano que não pareceu muito satisfeito com a sua atitude e antes que alguém pudesse falar algo sentiram um forte cheiro. Rodrigo foi rapidamente no fogão e desligou as duas bocas que estavam ligadas.
            Verificou o que havia dentro das panelas e então anunciou _ Nosso jantar queimou.
            _ Queimou? Como assim? – Caio venho correndo em sua direção _ Não cara. Eu nunca queimo nada. Não acredito! – Colocou a mão na nuca e olhou para Dora sem graça. Esta apenas sorriu e aproximou-se dele _ Vamos pedir pizza!
Sem nenhuma outra alternativa ele deu ombros e todos apreciaram a ideia de Dora.
            Rodrigo ligou para a pizzaria da esquina e fez o pedido dizendo que buscaria o pedido. Mel escutou e não compreendeu. Não seria mais fácil deixarem trazer? Entretanto os planos eram outros, isso se ele consegui-se uma brecha entre os irmãos que não se desgrudavam. O que faria? Dora e Caio continuavam concentrados no teclado.   
            Pegou o celular e mandou uma mensagem para Mel.

Precisamos conversar

            Mel leu a mensagem sem que o irmão a visse, por milagre. Olhou para o lado e avistou Rodrigo a encarando esperando respostas. Ele parecia ansioso, e ela ficou do mesmo jeito. Então sem pensar muito foi ao banheiro e de lá mandou outra mensagem.

Com meu irmão por perto é complicado.

Ignorando a resposta e percebendo que pelo jeito Juliano era ciumento, digitou:

Vem junto comigo buscar a pizza. É só isso que eu peço.

            Rodrigo esperou por respostas, mas não houve. Mel continuou no banheiro.
Entretanto como se Dora assisti-se a tudo de camarote, mesmo concentrada na música de Caio, ela inocentemente colocou a sua mão sobre a de Caio fazendo com que ele parasse de tocar na mesma hora. Ambos se entreolharam confusos. Dora não tinha ideia de que aquele toque iria causar um turbilhão de sentimento entre eles. Antes que perde-se a coragem – ou melhor – a fala, disse:
            _ Vamos buscar a pizza com Juliano? Aproveitamos e mostramos um pouco da nossa rua para ele.
            Caio a olhou mais confuso ainda _ Por quê?
            Dora suspirou e fazendo biquinho implorou _ Por favor...
No entanto Caio não se deu por satisfeito _ Por quê? – Ficou firme em saber a resposta.
Percebendo o jeito estranho dele, disse em poucas palavras _ O Rodrigo e a Mel precisam conversar.
Caio não estava gostando do rumo daquela conversa _ O que você sabe que eu não sei?
            Dora deu de ombros _ O necessário.
            Antes que Caio desse mais uma de suas perguntas ela o puxou pela mão deixando-o ainda mais transtornado pelo seu toque.
            _ Luciano queremos que venha com a gente – Dora o tirou de seus devaneios.
            _ O que? – Ele a fitou não compreendendo.
Dora deu uma leve risada _ Vamos buscar a pizza e daí queremos te mostrar algo.
            _ Vou esperar só a Mel sair do banheiro daí vamos.
            _ Ah é rapidinho cara, e nem é bom a Mel ficar andando tanto.
Olhando para Rodrigo ele disse seriamente _ E você arruma a mesa.
            Antes que Juliano pudesse dizer algo Dora o puxou pela mão deixando Caio perplexo pela sua atitude.

            Rodrigo suspirou e abriu um sorriso assim que Mel saiu, minutos depois. Ela olhou para a sala e cozinha confusa.
            _ Onde estão todos?
Rodrigo não evitou um sorriso _ Foram buscar a pizza.
            _ O Juliano foi sem mim? – Ela arregalou os olhos.
            _ E eu não disse nada – ele deu de ombros e aproximou alguns passos de Mel.
Ela também não conteve um sorriso. Era tão bom estar em sua presença.
            Rodrigo não sabia por onde começar a conversa, mas precisava esclarecer as coisas entre eles.
            _ Desculpe se agi de maneira errada hoje, não sabia que era o seu irmão.
Mel abriu ainda mais o sorriso _ E quem pensou que seria?
            Ele deu de ombros sem graça o que a deixou ainda mais fascinada.
            _ E meu irmão não facilita as coisas. Ele é muito protetor, sabe.
            _ Percebi. Acho que não foi muito com a minha cara.
            _ É por que ele sabe que tem algo entre a gente – Mel respondeu espontaneamente fazendo com que Rodrigo se aproxima-se ainda mais dela.
            _ Têm? – Ele segurou a sua mão fazendo Mel estremecer com aquele gesto.
            _ Você acha que tem? – Perguntou com a voz fraca sentindo a aproximação dele _ Só, por favor, não me beije – Ela implorou.
            _ Por que minha linda? Você sabe que...
            Antes de pudesse falar a  porta abriu-se rapidamente e Dora veio anunciando _ A pizza chegou!
            Todos olharam para Rodrigo e Mel, ambos de mãos dadas e apenas alguns centímetros de distancia. Juliano e Caio indagaram em alto e bom som _ Mel?!
















                       





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