13 de agosto de 2013

Capítulo 22 – Quase Melhor



Contemplando as folhas agitadas pelo vento Dora refletia sobre a vida. Os últimos acontecimentos a levaram a tal ato.
Sofrerá uma perda irreparável e tudo jamais seria como antes. Tantas dúvidas, escolhas e certezas pairavam sobre a sua cabeça. Fugir não era a solução, porém foi o que fez. Sentia-se sufocada pelos cuidados de seus novos amigos então tomou tal decisão. Precisava de um tempo para si. Até estava gostando da atenção de Mel, Caio, Rodrigo e da pequena Carol o problema é que nunca teve essa oportunidade de ter alguém fazendo as coisas por ela; de ser protegida. Sempre tivera o amor zeloso de sua mãe e a companhia de sua irmã, entretanto faltava o amparo do pai, de certa forma a figura paterna era como uma gaiola de proteção e Dora sempre fora livre, mas não por vontade própria.
Hoje ter o acolhimento das pessoas no mínimo era estranho para ela, porém era necessário se acostumar com isso, pois aqueles três não pareciam deixa-la livre tão breve.
Dora olhou para Mel que estava ao seu lado, pensava em como a garota estava sendo uma rocha ao lembrar-se de tudo que sofrera quando perdeu sua mãe. Mel era apenas uma garotinha e por mais que doa, Dora já era uma mulher feita. A dor e a perda pode ser a mesma, porém para uma criança sempre é mais difícil.
-Obrigada por vir atrás de mim. Sinto muito por deixa-la preocupada. – agradeceu sinceramente.
Mel tinha enfrentado seu medo de andar em uma moto e foi até ao cemitério onde constatou que seu pressentimento estava certo, Dora estava lá e sabia que ela precisava daquele tempo para refletir. Dora prometerá a si mesma que por mais difícil que as coisas sejam ela seria forte e seguiria em frente.
-Eu te perdoo. – Mel sorriu- Mas acho que você deve mais dois pedidos de desculpa.
Dora olhou para onde Mel apontava e viu Caio e Rodrigo.
Não conseguia acreditar no que estava vendo. Aqueles três que mal a conheciam se preocuparam e se importaram com ela. Ficou envergonhada por fugir sem deixar um bilhete, entretanto estava decidida a nunca mais sair sem dar explicações.

Agora que tinha um novo lar Dora tentou ser mais organizada; a sua maneira é claro. Sabia que Mel era quase uma maníaca por organização, então procurou não deixar nada fora do lugar. Por mais que quisesse ela não conseguiria ser tão detalhista como a amiga, mas tentaria da melhor maneira possível ser impecável como ela. Dora admirava o jeito da amiga e faria de tudo para compensar o bom tratamento que Mel teve para com ela.
-Ufa, até que enfim terminei. – A garota suspirou fechando a gaveta que acabara de arrumar.
Depois de tomar o café-da-manhã e bater um papo de mulher com Mel sobre sentimentos ela conseguiu finalmente arrumar seu quarto.
Dora foi até sua escrivaninha e pegou seu celular. Reparou no rachado da tela e lembrou-se em que momento o fato tinha acontecido. Fechou os olhos e com as mãos procurou afastar as lágrimas que insistiam em vir. Colocou o celular de volta na mesinha e pegou uma folha que estava lá em cima.
Fitando, analisou o desenho que a Carol fez. Havia uma menina dando flores para uma mulher. Dora olhou para seu criado-mudo e viu um vasinho de flores cor de rosa que começara a murchar e a garota sorriu, sabia que o desenho representava Carol e ela. 
Quando a garotinha tinha levado o presente ela não estava nada bem. Embora agora não esteja cem por cento, estava melhor.
Novamente pegou o celular para olhar as horas. Constatou que ainda era cedo, porém Mel já havia ido trabalhar. Rapidamente fez uma ligação e contente foi para a cozinha. Teve uma ideia e foi pô-la em pratica.

Já estava atrasada, mas bateu na porta do seu vizinho.
-Oi?! – Caio disse surpreso ao abrir a porta.
Dora sorriu e entregou uma lata de alumínio com alguns desenhos decorando-a.
-Pra vocês! – falou cerrando os lábios.
Caio ficou confuso.
-São biscoitos. – Explicou a garota.
Ainda sem entender o rapaz abriu a lata que estava cheia de biscoitos caseisos de confeitos coloridos de chocolate.
-Adoro esses biscoitos. – Ele sorriu – Como sabia que eu gostava deles? E onde comprou? – perguntou contente.
-Eu não sabia e ... foi eu que fiz. – Respondeu acanhada .
Caio ia colocando um biscoito na boca e parou logo que ouviu “foi eu que fiz”. Com dúvida fitou a garota.
-Eu sei que falei que não sei cozinhar, mas... se há duas coisas que sei fazer é um bom café forte e esses biscoitos. – esclareceu e mesmo assim o jovem ficou apreensivo.
-Minha mãe era confeiteira. Ela fazia encomendas de doces, bolos e biscoitos para festas. – falou naturalmente – E... Eu era a degustadora dela. O padrão de qualidade. – riu – Como eu gostava deles – apontou para os biscoitos – pedi para ela me ensinar a fazê-los.
-Tudo bem. – Ele deu um sorriso compreensivo.
-Não é que eu queira me gabar mais está igualzinho os dela. – Confessou.
-Ok. Vou provar – falou pegando um biscoito na lata.
Ele deu uma mordida no biscoito e arqueou a sobrancelhas impressionado com a habilidade culinária de sua amiga.
-E então? – Ela quis saber a opinião dele.
-Está muito bom. – disse admirado – Mas, porque trouxe-os pra mim?
-Bom... é pra você e para o Rodrigo. É só uma forma de agradecer pela força que me deram. Sei que isso não paga o que estão fazendo por mim, porém queria agradecer de alguma forma. – disse abaixando a cabeça.
-Não por isso. – Ele disse acariciando o rosto dela que a fez estremecer toda.
Ultimamente ele tem sido tão atencioso e meigo com ela, mas a garota estava fora de si para perceber todo o carinho e atenção que ele devotara a ela.
-Eu tenho que ir. – Disse afastando-se dele.
Ele ficou surpreso com a atitude repentina dela.
-Obrigada. – falou levantando a lada de biscoito enquanto ela partia.
-Ah! Não coma tudo. – ordenou – Guarde para o Rodrigo.
-Vou tentar! – Ele gritou sorrindo.

Carol sairá da escola de cabeça baixa e com o rostinho triste.
Por mais que gostasse da tia não queria ir para casa dela de novo. Atravessou o portão da escolinha e não acreditou em quem viu de costa.
-Dora!!! – Paralisada gritou para a babá.
Dora virou-se no mesmo instante e avistando a garotinha deu um sorriso de contentamento.
Carol correu até ela e deu um abraço forte na moça.
-Eu voltei. –sussurrou ao ouvido da garotinha e por fim sorriu.
-Que bom. – a garotinha não conseguia larga-la – Já estava com saudades.
-Eu também. –Dora confessou com uma lágrima rolando pelo rosto.
Há pouco tempo Dora pensava que conviver com aquela garotinha seria uma tortura, mas o tempo só mostrou como estivera enganada. Carol conquistara seu coração de uma tal forma que não conseguiria descrever e ela sabia que o mesmo sucedia com a menina que no inicio estava relutante por pensar na ideia de ter uma babá. Hoje ela imaginava que Carol à via como sua super- heroína.
-Vamos? – sugeriu Dora afastando-se do abraço.
Carol balançou a cabeça afirmando e a babá notou seu rostinho vermelho e seus olhinhos azuis da cor do céu marejados, o que cortou o coração dela. Ela abraçou a menina de lado e elas seguiram grudadas umas na outra.

Ao chegar em casa após o trabalho Dora se depara com Mel e Juliano sentados no sofá.
-Quem é ele? – Perguntou a garota espantada com a intimidade com que sua amiga tinha com o rapaz.
-Olá. – Juliano cumprimentou Dora com um abraço e um beijo no rosto. –Você deve ser a Dora? Sou Juliano irmão da Mel.
-Oi – Dora cumprimentou sem graça.
Mel explicava a presença repentina do irmão para sua companheira e Dora reparava no rapaz.
Olhos castanhos, cabelo loiro na altura dos ombros, corpo atlético e com certeza um belo sorriso. Não tinha como não reparar no jovem italiano.
-Então o Caio se ofereceu para fazer um jantar de boas vindas ao meu irmão. – Foi a única coisa que Dora ouviu.
-Hã?! – A garota sorriu sem graça – Seja bem vindo. – Não conseguiu pensar em nada melhor para dizer.
Dora se retirou para o quarto para tomar banho e se aprontar para o jantar. 
Olhando-se no espelho lembrou-se do primeiro jantar entre amigos o que a fez sorrir por um momento. Suspirou como se faz os apaixonados.
-Ele estava lindo. – disse sonhadora lembrando de cada momento daquela noite.
-Ai, ai, ai. –Repreendeu a si própria- Toma tipo Dora Borges. – Apontou o dedo para seu reflexo no espelho. – Não começa.
Afastou os pensamentos e terminou de se aprontar.
O jantar ainda não estava pronto o que prolongou a conversa. Enquanto Caio preparava tudo, Juliano e Dora se conheciam melhor e Mel ora conversava ora dava uma ajuda ao cozinheiro. Rodrigo demorava a chegar e quando chegou parecia irritado. Chamou a atenção toda para ele e presenteou Caio com um teclado que não perdeu tempo e foi ligar o instrumento esquecendo-se das panelas.
Dora era encantada por música, mas dos quatros amigos era a única que não tinha aptidão para o ramo musical. Não tocava, não cantava, porém adoraria dançar uma balada romântica acompanhada.
-Toca pra mim. – sussurrou se aproximando de Caio.
Sem rodeios Caio começou a tocar uma bela canção. Ela fitava-o fantasiando que a canção era pra ela por ter feito o pedido, embora sabia que de qualquer forma ele tocaria, porém dentro dela sabia que aquela canção era especial.
Pela primeira vez ela não ficava acanhada enquanto o rapaz tocava e às vezes a olhava de relance. Era bem nítido o clímax entre ele e o momento foi quebrado pela voz de Rodrigo anunciando que a comida havia queimado.
No fim decidiram comer pizza por sugestão de Dora e enquanto esperava que a pizza ficasse pronta a garota reparou que Rodrigo estava inquieto e sua intuição levava a crer que o rapaz tinha necessidade de ficar a sós com Mel. Em um ato impensado Dora conseguiu tirar Caio e Juliano do apartamento dos rapazes com intuito de buscar a pizza.
Ficaram pouco tempo fora e chegaram a tempo de ver o casal de mãos dadas.
-Mel?! – Juliano e Caio quase gritaram.
Dora olhou para Caio tentando entender o por que da sua atitude em relação a amiga, mas lembrou-se de Juliano e prestou socorro a amiga.
-Mel, menina cuidado. – gritou a garota assustando Mel.
-Cuidado com o que? – indagou Juliano bravo.
Dora correu para junto da amiga e segurou-a fazendo com que Rodrigo se soltasse dela.
-Vocês não viram quando ela quase caiu e Rodrigo a segurou? – inventou – Ai, amiga eu não devia ter saído. Esses homens não sabem cuidar de uma mulher direito. – exagerou no drama.
Juliano e Caio não engoliram aquela história, mas não disseram nada.
-Não precisavam se preocupar eu ia cuidar dela. – Rodrigo procurou demostrar confiança.
-Sei. – Dora o olhou de cima a baixo – Um pouquinho mais e ela caia... – fingiu brigar com o rapaz - ... quase caiu nos seus braços. – cochichou ao ouvido de Mel.
Ignoraram o drama da Dora e foram comer a pizza antes que esta esfriasse.

Já era tarde e Dora não conseguia dormi. Ali sozinha no seu quarto o medo batia a porta e a tristeza se instalava em seu peito.
De repente seu celular anunciou uma mensagem.
Ela se levantou e pegou o celular e leu.
“Oi. Como você está?” – era Caio.
A garota sorriu.
“Bem” – respondeu e deitou-se colocando o celular sobre a cama ao seu lado e o celular bipou de novo.
“Não me convenceu” – ela percebeu que ele não iria parar.
“Vou ficar melhor” – enviou e ficou a espera da resposta.
“Assim espero. Sabia que eu nunca queimei uma comida em toda minha vida. Você me distraiu.”
“Devo me considerar especial???” – ousou perguntar.
“Não. Deve se considerar com uma divida. Kkkk” – confundiu a cabeça dela.
“Por quê? Não entendi.”
“Queimou minha janta. Me deve um jantar. E eu vou cobrar.” – ela riu dele.
“Tecnicamente o fogo é que queimou o jantar.” – riu de sua esperteza.
“Você entendeu narizinho.”
Já fazia uns dias que não ouvia seu apelido.
“Você sabe que não sei cozinhar. Vai arriscar???” – ela estava se divertindo com isso.
“Pra isso existe restaurante.”
Engraçadinho – pensou ela.
“Hum... vou pensar no seu caso.”
“Mudando de assunto...” – ela estranhou.
“Fala”
“O que foi aquilo entre a Mel e o Rodrigo?” – Dora revirou os olhos.
“O que foi aquilo entre eles? O que foi aquele grito seu chamando a Mel?” – perguntou irada.
“??? Está brava?”
Estava tudo indo muito bem até que ele tinha que perguntar da Mel. Ela gostaria de saber o que estava sentindo e pensando nisso acabou não mandando uma resposta.
“Ah, entendi. Está com ciúmes.” - afirmou ele deixando ela mais brava ainda.
“Vai dormi” – ela encerrou as mensagens.
“Ok! Boa noite, anjo.” – foi a última mensagem dele.
Ela ainda não estava com sono. Se já estava triste antes agora estava mais. Como um homem pode alterar nossos sentimentos assim?
Era o que ela se perguntava.
Levantou-se e foi para sala, pegou seu álbum de fotos, sentou no chão e começou a esquadrinha-lo. Parou em uma foto de sua mãe.
Passou os dedos sobre a imagem como se acariciasse a própria mãe.
-Mãe. – sentiu as lágrimas chegarem – Sinto tanto a sua falta.
-Dora?! – enxugou as lagrimas ouvindo a voz de Juliano atrás de si.
-Está tudo bem? – perguntou se aproximando.
-Por que todo mundo pergunta isso? – indagou.
-Talvez por falta de palavras. – Juliano se sentou ao lado dela. – É sua mãe? – Dora afirmou com a cabeça. – A Mel me falou tudo o que aconteceu. Eu sinto muito. – Disse dando um abraço na garota.
-Sente saudades, né? –ela balançou a cabeça novamente – O seu pai ... ele... você já falou com ele? – perguntou com cuidado pois a irmã já alertara que o assunto era delicado.
-Pra que? Ele não está ne ai. –desabafou com um sorriso triste. – Se si importasse não me abandonaria. Como um pai pode ser assim? – perguntou revoltada.
-Por mais errada que a pessoa seja, ela sempre tem um motivo. Talvez não um motivo razoável, mas sempre tem um. – falou calmo e terno. – Você deveria procurar saber qual foi o motivo dele.
Dora se levantou irritada.
-Motivo? Me diz você, qual é o motivo que um pai tem para evitar sua filha? – esbravejou com os olhos já seco.
Juliano se levantou ainda mais sereno.
-Dora, ... ele pode ter falhado, mas é seu pai e merece uma chance. Mostre a ele que ele tem uma chance para mudar tudo. – aconselhou o rapaz.
-Pai? Eu não tenho pai. – saiu brava em direção ao seu quarto e logo parou virando-se para Juliano. – E se eu tiver. Eu o odeio. – disse com a cara fechada – Entendeu? Eu o odeio.
Juliano se aproximou dela e a abraçou, sabia que ela precisava daquele abraço.
-Por que ele não me ama? – disse se entregando as lagrimas.
-Queria eu poder ter todas as respostas para você , linda. – confessou beijando os cabelos da garota.

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 renata massa