30 de setembro de 2013

Resenha - Línguas de fogo de Karen Soarele

Línguas de Fogo

Sinopse - Línguas de Fogo - Crônicas de Myríade, V.1 - Karen Soarele

Aisling é uma jovem camponesa que vive numa área remota de Vulcannus, o reino mais poderoso de Myríade. 

Entretanto, um acontecimento vem para mudar completamente sua vida: seu melhor amigo, Dharon, é ferido em batalha enquanto tentava protegê-la, e a única chance que ela tem de salvá-lo é deixar para trás tudo o que conhece e atravessar a fronteira até o território inimigo, onde pode encontrar o antídoto para o veneno que o consome. 

Em sua jornada, Aisling se defrontará com diversos perigos, descobrirá que toda história possui mais de um ponto de vista e aprenderá que nas amizades verdadeiras está a força para seguir pelo caminho correto.

A história

Aisling é uma camponesa que vive com sua avó até que uma criatura desconhecida ameaça e destrói o vilarejo. Dharon, seu amigo e protetor da vila tenta de todas as formas acabar com aquele monstro, por um momento quase consegue, até que é atingido... e de forma misterioso sua Avó os protege, mandando-os para longe, à procure da cura para Dharon que foi atingido, e o veneno daquela criatura sem coração ameaça sua vida.
E a aventura começa, encontrando mistérios e segredos que ninguém esperava.

O que achei

A narrativa é em terceira pessoa. Gostei muito da narração, descreve bem os acontecimentos, as aventuras, fazendo que com que tenhamos uma boa ideia de como tudo está acontecendo. Conseguimos ver as cenas. É surpreendente! Os personagens são autênticos e a garra deles em proteger o povo e aquilo em que acreditam é forte. Gostei do lance de quem alguns dominam a arte do fogo e outros do vento. Muito bem elaborado!
A história fala sobre amizade e a pureza disso, fazendo a personagem passar por muitas provações para salvar a vida do seu amigo.
E quando finalmente as coisas começam a ficar mais tranquilas, nem tudo se resolve. Há mais uma mistério e agora terá que encontrar a sua Avó para descobrir... E isso, você vai poder conferir no próximo livro da série.

Resultado

Aprovado. Gostei muito da história, é linda, pura, cheia de aventuras e mistérios. A leitura realmente fluiu de forma muito gostosa para se ler. Gostei do jeito da autora escrever.

Adicione mais um livro nacional no Skoob 

25 de setembro de 2013

Série Simplesmente ame e Uma vida que surpreende

Olá pessoas queridas. Passei uns dias ausente no blog, mas não esqueci de vocês, pelo contrário, sempre penso em vocês e trago uma boa notícia.



Simplesmente ame, meu primeiro romance lançado vai virar uma série.
Isso mesmo, agora teremos quatro livros da série Simplesmente ame.
O primeiro você já conhece, é o livro que deu o titulo da série, o
segundo livro já estou na reta final, e vai se chamar...

Ela tinha a essência
Tinha a canção
Mas então
... Tudo se perdeu

Ah, e para os queridos leitores que ainda estão esperando Uma vida que surpreende ser lançado.
Desculpem a demora, mas em breve vou poder disponibilizar ele. 
Estou trabalhando na capa, assim que estiver tudo OK mostro para vocês :-)

Vocês moram no meu coração. Obrigado por todo o carinho.

24 de setembro de 2013

Capítulo 28 – Intimidações




Melody acordou um pouco incomodada, na verdade nem conseguira dormir muito bem durante a noite. Ficou rolando de um lado, com os pensamentos embaralhados e um vendaval emocional que, consequentemente, tirou-lhe o sono.
Talvez estivesse sendo um pouco paranoica. A reação de Rodrigo a estava perturbando mais do que deveria, principalmente porque tinha certeza absoluta de não ter feito nada de errado. O comportamento dele fora uma surpresa para ela, afinal, haviam concordado em caminhar para um futuro juntos com calma, e isso dependia de uma construção sólida de confiança e troca mútua.
Não fora o aconteceu, isso a desolou.
Ficar na companhia de Rodrigo era ótimo. Mas uma pequena porção do coração de Melody temia o pior.
Ela não escolheu amá-lo, aconteceu naturalmente, e Melody sabia que além de lidar com esse sentimento inesperado também deveria se preparar para espantar todos os seus fantasmas, e resolver todos os seus problemas se quisesse que o relacionamento deles realmente fosse consolidado, sem rachaduras. Mas aparentemente ele não pensava da mesma forma.
Por que Rodrigo não podia fazer o mesmo? E por que sofrer sozinho se ela estava disposta a ajudar?
Suspirou sentindo-se exausta, ela não sabia respostas para nenhuma dessas perguntas. Era frustrante, no mínimo.
E, além de tudo isso, tinha algo em que ela não conseguia parar de pensar um só segundo, e estava perseguindo-a há semanas. Um dos problemas que estava disposta a resolver. Um dos seus piores medos. Um sentimento que a destruía e a impedia de ser plenamente feliz.
Jogando o cobertor para o lado, desceu da cama e foi até seu guarda-roupa, de onde rapidamente pegou a caixinha de música que Rafael lhe dera logo ao se conhecerem. O pequeno objeto estava escondido atrás de uma pilha de roupas, protegido.  Apesar de ter amado o presente na época, ela não conseguia olhá-lo por muito tempo, pois ele trazia consigo algumas lembranças confusas que, ao mesmo tempo em que a faziam sorrir também a deixavam deprimida.
Levou a caixinha com ela e voltou para a cama, encarando o delicado objeto de madeira, decidindo se deveria abri-lo ou não. Desde que o ganhara não havia tido coragem de abri-la novamente.
− Melody? – ouviu a voz de Juliano surgir quebrando o seu silêncio reflexivo. Ela levantou a cabeça e o viu parado na porta entreaberta. – Algum problema?
− Não.
− Tem certeza? – ele perguntou, desconfiado. Ela o olhou por um momento, poderia ver a preocupação que ele inutilmente tentava esconder.
Mel poderia tentar tranquilizá-lo dizendo que estava bem, mas isso seria uma mentira, e, de todas as pessoas em todo o mundo que a conhecia, seu irmão era o único para quem não conseguia esconder sua tristeza, nem mesmo se quisesse. Ele a conhecia muito bem como fazia questão de lembrá-la sempre.
− Na verdade... não tenho certeza. – respondeu com um tom de voz fraco e monótono. Juliano foi até ela e a abraçou, sem fazer nenhum questionamento, porém com a cabeça fervilhando de perguntas.
Mel suspirou e se aconchegou nos braços dele, ela sempre se sentia segura, protegida, perto do irmão... mesmo que dentro dela um furacão desorganizasse tudo.
− E essa caixinha? – Juliano perguntou após alguns minutos em silêncio. – Não me lembro dela. É nova?
− Foi o Rafael quem me deu de presente. – revelou sem muito entusiasmo.
− Posso? – ele indagou segurando a caixinha e a abrindo após Mel assentir em seguida.
E, novamente, enquanto a música tocava, Melody fechou os olhos e a mesma a cena que vira na luteria depois de abrir a caixinha pela primeira vez surgiu na sua mente. E mais uma vez foi impossível evitar algumas lágrimas.
Somewhere over the Rainbow. – ele murmurou reconhecendo a melodia. Era a música que a mãe de Melody costumava cantar e tocar ao piano para ela.
O mágico de Oz era a história preferida de Melody, e ela amava quando sua mãe, todas as noites, narrava as aventuras de Dorothy e do cachorrinho Totó. E depois de contar a história que ela, definitivamente, nunca se cansava de ouvir, era a vez de sua mãe cantar o tema do filme – que Mel também não cansava de assistir. – numa voz suave e sussurrada que a fazia dormir e sonhar com um campo de flores silvestres.
Juliano desviou a atenção da caixinha quando percebeu que Melody estava chorando.
− Shhhh... Mel... – como sempre, quando isso acontecia, ele não tinha certeza do que dizer, então a abraçou com segurança, retirando algumas lágrimas da sua face e a beijou o topo da cabeça.
− Eu sei que faz muito tempo... – soluçou. – mas eu sinto saudades dela.
− É claro que sente. – hesitou um momento. – Mas, eu gostaria que você parasse de pensar que foi sua culpa.
Mesmo que Juliano estivesse certo, Mel não conseguia concordar inteiramente. Não que ela realmente tivesse culpa na morte da sua mãe, não diretamente pelo menos, era o que repetia para si mesma.
Durante anos foi perseguida por pesadelos onde vozes gritavam com ela: Se você não tivesse nascido sua mãe ainda estaria viva! Foi exatamente o que a mãe da sua mãe havia dito no enterro. Foi uma cena lamentável, principalmente para uma criança que havia acabado de perder a mãe. Melody nunca esquecera, depois disso também nunca mais os vira novamente. Alguns anos depois, seus avôs maternos desenvolveram um súbito interesse pela neta, antes indesejada, e tentaram chegar até ela. No entanto, Fernando os proibiu de se aproximarem dela, de alguma forma o aviso funcionara. Eles não tentaram entrar em contato novamente.
− Você tem razão. – falou num sussurro. Sorriu tristemente, fez uma pausa breve aproveitando o silêncio para tomar uma decisão, suspirou antes de falar novamente. – Juliano, tem um lugar onde gostaria de ir. Você pode vir comigo?
− Claro! – respondeu ainda a mantendo os braços em volta dela.

≈ • ≈ • ≈

O orvalho cobria as pétalas das flores, deixando-as com uma aparência suave e primaveril, foi a primeira coisa que notou ao vê-las, em sua maioria flores do campo. Mas, quase escondida em um canto secreto estava um arbusto e ao lado dele estavam plantadas uma porção de tulipas amarelas, era a flor preferida dela, pensou.
Melody já estava olhando fixamente para a lápide da mãe há quase uma hora, o silêncio imperava e ela não tinha vontade de falar absolutamente nada. Juliano percebeu isso.
− Você quer ficar um pouco sozinha? – perguntou, Melody assentiu afirmativamente. E algum tempo depois sentiu o rosto sendo banhado por lágrimas quentes e dolorosas, enquanto pensava na mãe e como sentia a sua falta.
O vento matinal soprava silvos suaves, e o clima estava neutro para o horário.
− Um lenço? – ouviu uma voz suave oferecer.
Melody ergueu o rosto e se deparou com uma mulher que a olhava atentamente. Ela era bonita, tinha um cabelo loiro que pendia em camadas estrategicamente onduladas, olhos azuis e um sorriso estranhamente indecifrável, Mel a fitou por alguns segundos. Nunca a vira antes, concluiu.
− Obrigada. – agradeceu segurando o lenço que tinha um leve aroma de jasmim, e enxugou as lágrimas com cuidado.
Silêncio.
− Marissa. – a mulher sussurrou o nome da mãe de Melody com doçura. – Ela era linda, e tinha um sorriso tão puro, você se parece muito com ela. – comentou um momento depois.
− Obrigada! – Melody piscou e abriu um sorriso fraco.
Quem era ela afinal? Falava da sua mãe como se tivesse a conhecido muito bem. Queria perguntar, mas não sabia como sem parecer indelicada.
− Desculpe, acho que você estava querendo ficar um pouco sozinha. Não quero atrapalhar o momento de vocês.
− Está tudo bem. – garantiu-lhe sinceramente. Tomou coragem e falou. – Como conheceu a minha mãe? Desculpe a pergunta direta é que, desde que sai daqui não tenho contato com ninguém que a conhecia. – explicou. Por alguma razão desconhecida, no momento em que a viu, decidiu que gostava dela.
− Sua mãe foi minha professora de piano. Quer dizer, ela não era minha professora literalmente. Eu tinha oito anos quando a conheci, acho que ela devia ter a sua idade. – assinalou pensativa. – Eu estava passando minhas férias escolares na casa de uma tia no Rio de Janeiro, Marissa morava na casa ao lado, e todos os dias enquanto eu brincava com algumas primas no quintal a ouvíamos tocar piano. – Melody sorriu escutando atentamente. – Um dia resolvi matar a minha curiosidade, havia uma paisagem entre a cerca viva da casa dela e uma árvore, e fui espioná-la. Lembro que pensei que estava sonhando quando a vi, ela parecia um ser fantástico que acabara de sair de um conto de fadas, suas mãos deslizavam nas teclas com suavidade e destreza e sua aparência era a de um querubim altivo e benevolente. Marissa não percebeu que eu a estava observando, e nos dias seguintes espioná-la se tornou uma espécie de passatempo. – sorriu com a lembrança. – Então um dia eu estava tão absorta na ideia de vê-la que simplesmente não notei que ela não estava ao piano, como estivera todos os dias. Levei um susto quando ouvi uma voz ao meu lado.
− Procurando alguém? − ela havia perguntado em tom divertido. – Desculpe, não queria assustá-la. – falou quando me sobressaltei, e logo depois sorriu. Fiquei um pouco nervosa quando ela subitamente me convidou para entrar na casa perguntando se eu não queria tocar também ao em vez de só observá-la. Eu disse que não sabia tocar, então ela disse que me ensinaria. Foi assim que ela se tornou minha professora de piano.
− Ela era maravilhosa! – Mel sussurrou olhando para a pequena fotografia da sua mãe na lápide de mármore, e permaneceu assim durante longos minutos. Por isso não percebeu quando a mulher desconhecida olhou rapidamente para o relógio e suspirou, ela estava quase atrasada para um compromisso, mas ao mesmo tempo não queria ir embora sem antes ter a chance de falar mais um pouco com a filha de Marissa, sabia que ela fora levada pelo pai para a Itália um pouco depois do enterro da mãe. No entanto ela estava tão concentrada que não quis incomodá-la, já havia sido inconveniente o bastante. No momento seguinte começou a caminhar em direção a saída.
O som dos seus passos trouxe Melody de volta do seu torpor.
− Espere! – a chamou rapidamente.
A mulher parou instantaneamente a aguardando. Melody caminhava na sua direção quando Juliano apareceu.
− Melody? Está tudo bem?
− Sim! – disse casualmente, e olhou novamente para a mulher com quem estivera conversando. – Juliano esta é a... – Melody havia ficado tão envolvida na conversa e tão à vontade na presença dela que simplesmente esquecera-se de perguntar qual o nome dela.
− Luísa. – ela falou erguendo a mão para cumprimentar Juliano. Melody achou o nome familiar, mas não sabia o porquê.
− Luísa, este é Juliano, meu irmão. Ela conhecia a minha mãe. – relatou a Juliano.
− Olá! – ambos disseram em uníssono.
Melody voltou-se para Luísa com um sorriso tímido.
− Bem... é que... – pegou um bloquinho de anotações e uma canta que estavam na sua bolsa escrevendo rapidamente o que queria, antes de entregar, por momento, repensou se deveria seguir a diante ou estaria sendo muito precipitada. – Aqui. – finalmente entregou o papel. – É o meu endereço, e da cafeteria onde trabalho. Pode aparecer qualquer dia desses... se quiser. – deu de ombros.
Luísa sorriu, principalmente quando olhou ambos os endereços e os reconheceu.
− Eu vou, sim. – garantiu. – Bem, eu tenho que ir. Foi um prazer conhecê-la, Melody. – lembrou que foi assim que o irmão dela a chamara. Afastou-se e cainhou novamente em direção à saída, acenando sobre o ombro alguns metros depois.
− Ela é bonita, não é? – Melody comentou.
Juliano franziu o cenho.
− É. – concordou apenas. – Mas nem por isso você deveria distribuir seu endereço para estranhos.
Melody revirou os olhos. Estava demorando!

≈ • ≈ • ≈

Dora não conseguia entender o motivo pelo qual Melody quisera ajudá-la com o seu visual para o passeio que teria com Carol. Entretanto, após voltar do cemitério, Mel achou melhor se distrair com outra coisa, e já que a amiga parecia tão despreocupada com o que vestir achou melhor lhe dar alguma ajuda, de certa forma isso a auxiliou a manter os pensamentos tranquilos. Durante todo esse tempo Juliano ficou em silêncio assistindo ao noticiário – às vezes ele assumia a seriedade de um homem de negócios, igual ao pai, só que mais relaxado – achando tudo isso um grande exagero. Ele tinha a nítida impressão de que esse encontro não acabaria bem.
Algum tempo depois Juliano observava a irmã atentamente.
Ela parecia perdida em pensamentos, e estivera assim desde que voltaram da lanchonete onde aquele sujeito – como costumava chamar Rodrigo. – tocara uma música especialmente para ela. Juliano ainda não sabia a razão pela qual de uma hora para outra sua irmã mudou de comportamento. Durante o show ele pôde ver a admiração estampada no rosto de Melody. Isso não era nada bom. Sua marcação cerrada não estava funcionando como deveria, pensou incomodado.
Mel percebeu a presença do irmão assim que ele entrara no cômodo. Podia sentir o seu olhar perito a absorvendo, como se tentasse ver algum indício do motivo de ela estar tão quieta desde a noite anterior. E nesse momento, ela sentia o quanto ele estava se segurando para não questioná-la. Mas ela não estava muito a fim de falar sobre o assunto, por isso decidira ler um pouco para se distrair.
No entanto já era a décima vez que lia o mesmo parágrafo, não conseguia prestar atenção em uma mínima frase, as letras pareciam apenas com símbolos indecifráveis. E tinha absoluta certeza de que continuaria assim, pelo menos até falar com Rodrigo. Ela pensou se deveria procurá-lo, mas achou melhor não. Talvez ele ainda quisesse ficar sozinho. Mas...
− Por que está chateada? – Juliano perguntou como quem não quer nada, sentando ao lado dela no sofá.
− Não estou chateada.
− Certo. – achou por bem mudar de tática e reformular a pergunta. – Então, por que está tão isolada?
− Você me conhece. Eu gosto de silêncio quando estou lendo. – deu de ombros esperando a próxima pergunta que sabia que ele faria.
Ele o encarou seriamente.
− Antes que tente criar alguma outra desculpa, eu tenho certeza que você não está lendo, pois, até onde sei, você não sabe ler com o livro de ponta à cabeça, não é? – explicou lentamente como se ela fosse uma criança de cinco anos que estivesse aprendendo uma lição muito simples. Prosseguiu com cautela. – Parece que está em outro lugar, na verdade você está assim desde ontem à noite. Aconteceu alguma coisa? Você não gostou da música, talvez? – perguntou sem realmente querer saber a resposta. – Claro isso seria surpreendente! – comentou em tom de deboche.
Melody suspirou, e começou a falar calmamente olhando diretamente para Juliano.
− O Rodrigo é legal, Juliano. – ela já tinha perdido as contas das vezes que repetira a mesma frase, mas seu irmão sempre a ignorava, como estava fazendo agora ao rolar os olhos desinteressado na declaração da irmã. – Será que poderia, pelo menos, tentar conhecê-lo antes de formular uma ideia fixa sobre ele? Por favor?
− Se ele é tão legal como você diz, por que a deixou assim? – disse referindo-se ao fato de ela estar aérea e com os olhos tristes e distantes. – Não diga que ele não tem nada a ver com isso, não vou acreditar em você. Então...
− Não quero falar sobre isso. – disse por fim.
Ele considerou a reposta dela por um curto momento.
− Tudo bem. – concordou simplesmente, deixando Melody com uma pulga atrás da orelha. O que será que ele está aprontando?, questionou-se franzindo a sobrancelha direita. – Tive uma grande ideia. – anunciou subitamente entusiasmado, fazendo o vinco na testa dela aumentar, ignorando a expressão no rosto de Mel, ele prosseguiu deixando-a ainda mais desconfiada. – Que tal um almoço à la irmãos Angel, hã? Está a fim de se divertir um pouco? – abriu um sorriso estimulante. Melody sorriu largamente concordando, largou o livro de qualquer jeito, e foram para a cozinha.
Ele sabia exatamente o que fazer para deixá-la um pouco mais alegre. Há muito tempo não cozinhavam juntos, se é que a bagunça que eles faziam na cozinha poderia ser classificado como cozinhar. Logo depois de ir morar na Itália Melody estranhou a comida e durante algum tempo se recusava a comer qualquer coisa. Foi assim que ficara anêmica. Encontrando uma saída simples, Juliano fez uma proposta a Mel, eles mesmos fariam sua própria comida, não que realmente chegassem a comer o que preparavam já que era praticamente indigerível, mas esse era apenas um modo de distraí-la e fazê-la comer como deveria. E funcionou. Com o passar do tempo eles resolveram adotar essa prática como algo somente deles, e aperfeiçoaram os seus pratos.
Após uma rápida analise no armário da cozinha e na geladeira, eles se olharam frangiram os lábios.
− Salada Caprese? – ela indicou.
− E nhoque de batatas? – sugeriu.
− Perfeito! – falaram ao mesmo tempo e sorriram.
Durante as horas seguintes eles conversaram tranquilamente em tom familiar, enquanto cada um deles encarregava-se dos detalhes dos seus pratos.  
Falaram sobre os seus irmãos, a reação do pai deles ao descobrir que a filha havia viajado sem dizer para onde, a maneira incessante como a frágil e persuasiva nonna o fez contar para onde sua netinha de mãos de fada havia ido. Tudo isso os fizera rir por um tempo longo e agradável.
Depois o assunto mudou bruscamente para Rodrigo. Juliano finalmente quis saber sobre tudo em relação a ele e Mel. Desde a forma que se conheceram no corredor após o acidente com o café – que após uma careta de desagrado, Juliano classificou como totalmente clichê. – até o momento em que ela soube que estava sentindo a “coisa”. Essa havia sido exatamente a palavra que ele usara para descrever o que Melody sentia por Rodrigo. Ela tentou não rir, mas fora inútil. Gargalhou enquanto lavava os tomates e as folhas de manjericão.
Quem o visse falando dessa maneira, sem a menor sensibilidade, poderia jurar que ele era um ogro sem sentimentos. Mas Melody sabia que isso estava longe de ser verdade. Não era que seu irmão não acreditasse no amor. Ele acreditava. O casamento dos pais dele não o deixou descrente para isso. Não, de forma alguma. O problema era que, da mesma maneira que ele sabia que o amor existia, também tinha certeza de que, não importa o quanto duas se amem, uma das partes sempre sairá machucado inevitavelmente. É a lei simples e real do de se viver um relacionamento: o amor rima com dor. Não que Juliano tenha chegado a essa conclusão por experiência própria. Na verdade, ele nunca se apaixonara, e isso devia-se exatamente ao fato de saber – ou pensar saber – como tudo acabaria. Para isso ele desenvolveu um método muito simples e prático: não olharia nos olhos de uma garota por mais tempo que julgasse necessário, pois era ali que estava o perigo, não em curvas de um corpo atraente, mas, sim, na intensidade de um olhar, como se em um breve momento você tivesse a chance de escolher querer dar-se ao outro ou não, eram apenas segundos que decidiam... enfim.
Esse pensamento, segundo Melody, fazia seu irmão parecer um romântico incorrigível, e sabia que a garota que tivesse a chance e sorte de namorá-lo seria feliz, mesmo que brevemente. E nesse momento, existia uma garota que ela tinha quase certeza estar presa ao poder do olhar dele. E, ao pensar um pouco no assunto, notou que pela primeira vez o grande método do irmão falhara... Ou, pelo menos, tinha grandes chances de dar errado. Coitado!
Ela achou melhor testar para saber se estava certa.
− Não sei por que está sendo tão implicante. Você sabe exatamente do que estou falando, já que está sentindo o mesmo.
− O quê? – perguntou confuso. – Espera um pouco, eu não sei do que você está falando, não. Aliás, não faço nem ideia.
Melody fez uma pequena pausa antes de prosseguir.
− Não seja idiota, Julian. Eu estou me referindo a Bianca.
− Humm... O quê é que tem ela? – perguntou comprimindo os lábios.
Melody colocou os tomates e as folhas de manjericão, já lavados, sobre a mesa, e encostou-se na bancada da cozinha para encará-lo.
− Ela... mexe com você. – afirmou estudando o semblante do irmão, por apenas um segundo viu algo refletido me seus olhos que não soube afirmar ao certo o que era... constrangimento? Porém ele recompõe-se rapidamente.
− Ela é bonita, não posso negar. E é interessante também, além de engraçada, inteligente, espontânea e... enfim. – agitou a cabeça rapidamente expulsando a estranha sensação de leveza que de repente o envolveu. Estranho!, pensou. – Não estou interessado nela, se é o que está insinuando. – declarou convicto, enquanto levava os nhoques à água fervente.
− Não é o que parece quando você a ver. – provocou erguendo uma sobrancelha.
− Não tente mudar de assunto, garota, não vai funcionar. Estamos falando de você, não de mim. – retrucou.
− Eu só quero que saiba que não acho certo você se envolver... romanticamente com ela, já que não pretende ficar aqui.
− Você também não, lembra? – parou para observá-la com atenção. − Mel? Você não está pensando em morar no Brasil para sempre, certo? Você vai voltar para a Itália, não vai?
− Eu... – Melody fechou os olhos por alguns segundos. Sabia que mais cedo ou mais tarde teriam essa conversa. Inspirou lentamente antes de prosseguir. – Eu não sei. E antes que você crie um mal entendido quero que saiba que não é por causa do Rodrigo. Afirmou, embora nesse momento ela não conseguisse nem se imaginar tão distante dele assim. – Eu gosto daqui, sinto que nunca deveria ter ido embora. Não me leve a mal, eu amo a Itália e... eu não sei... também gostaria de estar lá. Mas é estranho, sabe. – sorriu nervosamente, achando melhor começar a montar a salada. – Quando estou lá, sinto saudades daqui. E agora que estou aqui, bem, não consigo parar de pensar em todos que estão lá e como gosto do clima, das pessoas, do olhar pela janela e me deparar com aquela paisagem única e maravilhosa. No entanto, sei que só posso escolher um lugar para ficar, e não tenho certeza de qual. Preciso de um tempo decidir, entende?
− Entendo. Mas você sabe que o papai não vai concordar com isso. – objetivou, sem querer pressioná-la.
− Eu tenho dezoito anos, posso tomar minhas próprias decisões, fazer minhas próprias escolhas. Não preciso da permissão dele.
− Como se isso pudesse adiantar de alguma coisa. Uma hora ou outra ele vai decidir que precisa falar com você. Já parou para imaginar que ele pode aparecer aqui a qualquer momento. – falou e Melody tinha que admitir que ele estava certo. Era bem do estilo do seu pai decidir alguma coisa inesperadamente. Olhando para Juliano percebeu que ele estava sorrindo, ele apenas deu de ombros. – O quê? Eu gostei da ideia. Se o seu pretendente a pretendente acha que eu sou intragável, espera só até ele conhecer o possível sogro. Ele desistiria de você em um passo de mágica. – gargalhou.
Melody semicerrou os olhos o encarando.
− Ah, é? E você apresentaria a Bianca a ele? Tenho certeza que o sério e centrado Sr. Fernando iria adorar conversar por algumas horas com a sua... pretendente a pretendente ainda não tão pretendente assim? – ela amava a amiga, mas sabia o quanto a garota gostava de falar, seu pai ficaria louco sem dúvida. Fitou Juliano e sorriu satisfeita vendo-o ficar sem palavras por um curto período. Isso parecia muito promissor, pensou. Atormentá-lo sobre isso seria bastante divertido.
− Tudo bem, vamos parar com isso. Eu não estou a procura de uma namorada. − Juliano falou um pouco na defensiva, sentindo seu rosto ficar gradualmente vermelho. Céus! Até parece que há um cupido a solta nesta cidade, pensou apreensivo evitando olhar diretamente para a irmã. De repente suas mãos tornaram-se bem mais interessantes. Eu não estou apaixonado... Estou?, questionou-se. Passione? Dio, Juliano! É claro que não, afirmou para si mesmo. – Alguém precisa confiscar o arco e flecha dessa criatura. – resmungou baixinho.
Melody o encarou com o cenho franzido.
− O que você disse?
− Er... eu disse que não quero nenhuma distração. Tenho que ficar de olho em você. – advertiu.
Melody revirou os olhos de maneira teatral.
− Às vezes você é insuportável. – afirmou jogando um pouco de farinha na direção dele, surpreendendo-o.
− Pelo menos te faço sorrir. – ele falou revidando o seu ataque e mirando diretamente nos cabelos dela. Garotas superprotegem os cabelos como um grande tesouro, pensou sorrindo, enquanto ela lançava um olhar zangado na sua direção. – Foi você quem começou. – disse erguendo as mãos em defesa. – Então, humm, agora me fala, o que aconteceu ontem entre você e... aquele lá.
− Rodrigo.
− Tanto faz!
− Tudo bem, você venceu. Ele não quer falar comigo, acho que está um pouco... chateado comigo.
− Não sei se acho isso ruim. Gosto da ideia de vê-lo longe de você.
− Você prefere me ver triste? – perguntou ofendida.
− Não. – negou com a cabeça sentindo-se um idiota, soltou uma boa parte do ar dos pulmões. – Me desculpe. Você tem razão, eu não posso controlar o que você sente por ele. E tenho que admitir, com muito custo, que... acho que ele realmente gosta de você. Só não deixe que ele fique sabendo disso, está bem? – avisou. – Eu ainda não gosto dessa situação. Eu não o odeio, mas não ficaria nem um pouco triste se ele desaparecesse de repente.
− Isso é uma ameaça?
− Não, apenas um sonho irrealizável.  – refletiu pesarosamente. – Afinal, por que ele está chateado com você?
Melody não sabia se deveria falar algo ou não, mas toda vez que analisava a cena detalhadamente sentia que nada fazia sentido. Ponderou por um logo instante antes de narrar a história toda. Juliano ouviu atentamente sem nada dizer, e após Mel terminar de contar ficaram em silêncio por muito tempo, até ficar um pouco desconfortável.
− Eu não sei o que está havendo com você, Melody, sinceramente? É com alguém tão complicado assim que você quer se envolver? Isso é loucura! O que é isso afinal, síndrome de adolescência? – seu tom de voz era contido, porém Melody podia ver o quanto ele estava aborrecido com tudo isso.
Mas, na verdade Juliano estava ficando impaciente. Sua irmãzinha que tanto amava e lutava para proteger estava ficando maluca, só podia. Concluiu sem tirar os olhos do rosto dela. E sua vontade de simplesmente socar o rosto daquele idiota só aumentava. E aquela música que ele cantara para ela havia sido golpe baixo. E o acréscimo do violino então... Juliano suspirou pesadamente. O sujeito sabia exatamente o que estava fazendo.
− As coisas não são como você pensa, se tentasse ao menos me ouvir...
− O quê você quer que eu faça? Hã? Que fique parado enquanto um cara qualquer seduz a minha irmã?
− Quê? Juliano, você está sendo ridículo. Não aconteceu nada entre a gente, se é o que está querendo saber. Eu só gosto de estar perto dele. Tê-lo próximo a mim é... importante.
− E vivemos rodeados por fadas e duendes, olha só, um unicórnio. – debochou. – Não espera que eu acredite que ele sente o mesmo, não é? Ah, por favor?
− Por que não?
− Não sei. Que tal o fato simples de ele ser homem.
− Você está sendo machista. Nem todos os homens são iguais. O Rodrigo é um gentleman.
− Ele está começando a me dar nos nervos, isso sim.
− Eu amo o Rodrigo, Juliano. – falou calmamente, porém decidida a amenizar a situação. – Isso já está ficando um pouco insuportável, não acha? Quer parar de me tratar como se eu fosse uma criança.
− Isso por que você está agindo como uma... – afirmou cruzando os braços. – e completamente ingênua. – completou.
Ela o fitou irritada.
− Eu... quer saber? Quando você decidir ser um pouco mais racional, nós conversamos.
− Ótimo! – Juliano falou tão irritado quanto Melody. Ele lhe deu as costas e voltou-se inteiramente para a que estava fazendo. Os pobres tomates sentiram-se ligeiramente prejudicada com o mau humor dele.
− Ótimo! – falou ela, dando atenção a sua salada.
O almoço foi silenciosamente longo. Nenhum dos dois falou uma palavra sequer. Juliano até pensou em pedir desculpas, ele sabia que estava sendo insensível e irritantemente exagerado. Mas o que poderia fazer? Não esperava chegar aqui e dar de cara com a irmã vivendo no mundo da fantasia dos apaixonados. Por Deus! Isso era ridículo! Por isso, decidiu não falar mais nada, pois mesmo se pedisse desculpas sabia que junto com ela viria mais outras palavras e estava cansado de discutir com Melody.
Mas, havia alguém que estava prestes a ouvi-lo.
Melody também permaneceu em silêncio sem a menor intenção de falar com Juliano pelas próximas... horas. Era o máximo que conseguiam ficar sem trocar uma só palavra. Depois de limparem a cozinha Juliano foi para o seu quarto, calado. Melody permaneceu na sala tentando ver TV. Era um comportamento totalmente infantil, eles tinham ciência disso. No entanto, todos os irmãos discutem de vez em quando por motivos diversos, e com eles não era diferente.
− Ei! – Mel se assustou ao ver Dora entrar em casa praticamente como um zumbi, andando sem prender a atenção em nada a sua volta. Dora demorou um momento para registrar que haviam falado com ela. – Então, como foi o passeio?
− Foi... legal! – respondeu sem ânimo, isso deixou Melody preocupada.
− O que aconteceu, Dora?
Dora fechou os olhos e respirou profundamente, tentando reorganizar os pensamentos confusos. Caminhou na direção de Melody, desbando no sofá em seguida.
− Tudo estava indo maravilhosamente bem, sabe? Tudo bem que o beijo foi acidental, mas tudo estava perfeito. – falou sentindo seus olhos marejarem. Eu não vou chorar, repetia mentalmente como um mantra desde que saíra do parque. – Aí então, ela apareceu do nada e estragou tudo, a Luísa. Depois foi como se ele nem me visse mais, fiquei completamente invisível. – relatou com a voz embargada.
− Sinto muito. – Melody falou sutilmente, sentia-se culpada afinal de contas acabara ajudando Caio nesse passeio. Ele a convencera dizendo que queria colocar um sorriso no rosto dela, então por que teve que fazer exatamente o contrário? Ele teria muitas explicações a dar, pensou seriamente.
Caio Cruz, você vai se ver comigo!
− Não, não se desculpe. Não é sua culpa, afinal. – deu de ombros, mordendo exageradamente os lábios, parecia que iria entrar em colapso a qualquer momento.
− Eu pensei que seria uma boa ideia. – Melody procurou se justificar. – Bem, talvez o Caio só esteja, não sei, confuso? – meneou a cabeça discordando do próprio comentário. Juliano estava certo quando disse que esse “encontro” não iria dar certo. Talvez devesse dar um pouco mais de crédito ao seu irmão. Mas, por hora, deveria tentar animá-la. – Bem, além de um bobo convicto, o Caio é um cara legal, e seria um completo idiota se não a notasse. – sorriu. – Você é linda, engraçada e... Espera um pouco. – havia ficado tão incomodada com o estado da amiga que não prestara atenção em um detalhe que ela consciente ou inconscientemente deixou escapar. A fitou com olhos arregalados. – Você disse que ele te beijou? Como aconteceu?
Dora piscou os olhos rapidamente, envergonhada.
− Não importa. – falou brevemente, sua garganta ardia e estava ficando difícil respirar. Agora não tinha certeza de quanto tempo mais conseguiria conter as lágrimas. – Estou caindo fora antes que me machuque de verdade. – avisou. – Não estou apaixonada nem nada do tipo. Eu só gosto dele, mas não chega a ser algo tão complexo e sublime como é entre você e o Rodrigo. – suspirou. – Aliás, como vão as coisas entre vocês? Ele já falou com você?
Dessa vez foi Melody quem deixou os ombros caírem e a tristeza tomou conta dos seus olhos.
− Não, ainda não.
− Isso é ruim. – Dora comentou. Não sabia o motivo pelo qual ele poderia ter ficado chateado com a amiga, mas estava chegando a conclusão de que ele era tão idiota quanto Caio.  – Eh, Mel, não quero ser pessimista, mas acho que você deveria ouvir o Juliano. – disse pegando Melody de surpresa. – Ele pode estar sendo um pouco mais cuidadoso do que deveria, mas de certa forma, sei lá, ele está certo. – soltou uma risada desanimada ao perceber o que acabara de dizer. Juliano é homem e homens são todos uns idiotas, pensou, ele não está certo coisa nenhuma. – Deixa para lá, não leve nada do que eu disse em consideração. E não se preocupe comigo, só estou um pouco deprimida, nada que um belo pote de sorvete de chocolate não resolva. – declarou otimista indo na direção da cozinha. Abriu a geladeira, pegou o pote de sorte e sorriu.
− Tem certeza de que está bem? – Mel perguntou hesitante.
− Na verdade não. – piscou na direção da amiga e sorriu ainda mais quando notou que realmente não havia derramado uma única lágrima. – Mas, vou ficar. – garantiu.
Melody assentiu.
− Sorvete e um filme qualquer da TV, que tal? – sugeriu e Dora concordou rapidamente.
O estado emocional das duas garotas pediam uma comédia que as fizessem rir por horas, no entanto, zapearam durante algum tempo sem encontrar nada de interessante, pelo menos nada que fosse hilário o bastante. Após alguns minutos, pararam em um canal onde estava reprisando, pela enésima vez, o romance mais visto de todos os tempos; Titanic. Ao julgar pelo final da história e tudo por trás dela, já que era baseado em fatos reais, este realmente não seria o filme indicado. Porém, assistiram ao filme fazendo comentários lógicos, e com isso o filme não era tão triste assim.

≈ • ≈ • ≈

Juliano bateu na porta três vezes antes de ser atendido. Esperou um momento oportuno para agir, e no instante em que Dora e Melody foram para os seus respectivos quartos, ele resolveu sair, havia algo que precisava fazer, e graças a falta de oportunidade nunca conseguia.
Pelo menos, até agora.
− Ah, é com você mesmo que eu quero falar. – disse entrando rapidamente no apartamento, sem esperar um convite e com sua postura mais intimidadora possível.
− Juliano!? – Rodrigo exclamou estranhando a presença dele.
− Eu!
− O que você quer?
Juliano não respondeu. Dando uma rápida olhada no interior do apartamento viu Caio sentado numa cadeira com um violão em mãos.
− Será que você se importaria de nos deixar sozinhos, Caio? – Juliano pediu num tom de voz neutro com o máximo de educação que pôde. Seus olhos estavam impassíveis, mas isso não amenizou a situação que ficara tensa rapidamente.
− Er... Bem... – pigarreou dando de ombros. – Olha, eu só quero lembrá-los de que a violência não leva a lugar nenhum. – só a um hospital, pensou olhando de Juliano para Rodrigo, e balançou a cabeça. Por qu o Rodrigo teve que se apaixonar logo pela Mel? Tudo bem, ela é encantadora, maravilhosa, incrível... Mas, sério, esse irmão dela é louco!, concluiu internamente.
− Fique tranquilo. Eu não quero que nada de ruim aconteça com o meu pretenso futuro cunhado. – falou num tom jocoso que, combinado ao seu sotaque dava a ligeira impressão de que ele estava sendo sincero. No entanto, Rodrigo percebeu o sarcasmo carregadamente implícito vindo do seu comentário, e a forma séria como o encarava não amenizava nada. Sendo assim, achou melhor se preparar para o que estava por vir.
− Boa sorte! – Caio falou a Rodrigo ao cruzar por ele, deixando-os a sós.
− Então... Acho que você veio falar sobre o que está acontecendo entre mim e a Mel, certo? – comentou Rodrigo, sem saber exatamente o quê dizer.
− Você acha? – debochou. – É claro que estou aqui para isso, visitá-lo por educação é que não foi. Tudo bem, vamos por os pingos nos “is”, definitivamente.  Se acha que vou ficar de braços cruzados enquanto você fica ludibriando a minha irmã com esses seus olhos azuis idiotas e um monte versos melosos, você está tremendamente enganado!
− Eu não...
Juliano o interrompeu.
− Eu não vou com a sua cara. – assumiu. Isso não é nenhum segredo, Rodrigo, observou mentalmente. – E parece que você é mais idiota do que eu pensava.
− Espera aí...
E mais uma vez Juliano ignorou os protestos dele de se defender. E relatou exatamente o que Melody havia contado sobre ele, o irmão e a ex-noiva, e o acusou de idiota mais uma vez por ousar deixar a Melody triste. Também não foi nada interessante quando ele começou a falar em italiano, e Rodrigo teve quase certeza de que ele o estava xingando.
− A Mel te contou tudo isso? – indagou quando ele finalmente deu uma pausa, não acreditando no que ele dizia.
− É claro que me contou, ela não esconde nada de mim. – ou quase nada, a falta de informações da história do que realmente acontecera entre ela e Victor ainda o aborrecia.
− Tudo bem. Mas acho que isso não é da sua conta.
− É aí que você se engana, meu caro. Se diz respeito a você, consequentemente tem a ver com a minha irmã, e se tem a ver com ela é sim da minha conta. – inexplicavelmente o argumento dele fazia sentido, Rodrigo pensou. – Olha aqui, enquanto você estava tendo pena de si mesmo, e por uma razão praticamente lamentável estava equivocadamente aborrecido com ela, a Mel não fazia outra coisa se não se culpar, e ela só disse o que era óbvio. Mas quer saber, ela é assim mesmo, altruísta. Então, o que pretende fazer? – perguntou. – Porque eu vou logo avisando, se você fizer mais alguma coisa que posso deixá-la magoada novamente, eu acabo com você.  E se não esta disposto a resolver os seus problemas antes em pensar levar um relacionamento com a minha irmã a sério, acho melhor sair de cena. A Melody passou por muita coisa, não vou permitir que ela sofra mais. E antes que diga alguma coisa, esteja certo que não pensarei duas vezes e a levarei embora daqui e você não a verá jamais. – exasperou-se.
Rodrigo o encarou dando um largo suspiro exausto. Ótimo, pensou decididamente, hora de acabar com essa situação incômoda.
− Já chega, ok!? – ele assumiu uma postura mais confiável, subindo um pouco o tom da sua voz. – Eu estou cansado da sua atitude. Você resolveu aparecer do nada e, antes de tentar me conhecer e saber o que está acontecendo entre mim e a Mel, simplesmente me trata como se eu fosse um pária. Não estamos fazendo nada de errado. Quer saber, você é que é o idiota aqui. Confesso, minha reação não foi nada madura na outra noite e se não fosse por você me impedir de vê-la já teria pedido desculpas. Se alguém tem culpa, é você!
Juliano ergueu uma sobrancelha, em provocação.
− Como é que é?
− É isso mesmo que você ouviu. Desde que chegou aqui está sufocando ela. Certo, você é um ótimo irmão que realmente se preocupa com o bem estar da irmã, eu entendo. Mas acho que está passando dos limites do bom senso.
− Passando dos limites? Não faz ideia do que está falando. E não adianta o possa me dizer, eu não vou concordar com esse... romance!
− Esse é o problema. Não é você quem tem que decidir, é ela. – retrucou.
− Você tem razão. Mas a Mel é inteligente e respeita a minha opinião o bastante para não seguir com isso.
− E você está sendo egoísta manipulando-a dessa forma. Acha isso justo?
− Não. – Droga! O idiota estava certo, absolutamente. Mas ele não precisava saber disso.
− Eu realmente amo a Mel. – garantiu-lhe um pouco nervoso. Nunca se imaginou em uma situação como essa, mas pela Mel valia a pena, sem dúvida.
− Você já a convenceu disso. – retorquiu. – Espero que consiga me convencer.
− Parece um desafio.
− Acredite. – sorriu debochado. – É um. – desfez o sorriso rapidamente dirigindo-se à saída, por hoje era o bastante. No entanto... – Ah, e mais uma coisa. – girou nos calcanhares e olhou fixamente para Rodrigo. – Nós nunca tivemos esta conversa, se é que você entende. – enfatizou.
− Sem problema!

≈ • ≈ • ≈

Mel apareceu na cozinha um pouco depois de ouvir o barulho da porta batendo, e observou o irmão tamborilando distraidamente os dedos sobre o balcão encarando o nada. Ela notou que ele murmurava palavras ininteligíveis.
− Juliano? – chamou-o um tanto curiosa. – Você demorou. Onde estava?
Ele a olhou por um segundo e sorriu, parecia estranhamente satisfeito.
− Humm... Dando alguns avisos. – avisou com um tom irônico. Mel ergueu uma sobrancelha em confusão. Ignorando a expressão de interrogação no rosto da irmã, aproximou-se e a beijou na bochecha. – Buona notte!
− Mmmm... Buona notte!
Um minuto depois Melody ainda estava parada tentando entender o que ele quisera dizer com “dando alguns avisos”. Por alguma razão, deu uma rápida olhada na direção da porta e suspirou ao entender exatamente do que ele estava falando. Meneou a cabeça incrédula.
Ele não fez isso, fez? Relembrando o sorriso no rosto do irmão, concluiu. Sim, ele fez!
Respirou fundo tentada a pedir explicações para Juliano, mas achou melhor encerrar o assunto por essa noite. Voltou para o seu quarto e ficou durante algum tempo encarando o teto de maneira fixa e desanimada. Ela queria falar com Rodrigo, precisava, mas não sabia como estavam as coisas entre eles naquele momento. Ela não deveria ter dito nada, pensou.
Todo vez que fechava os olhos conseguia imaginar a cena com perfeição. Relembrou pela milésima vez tudo o que havia acontecido, cada detalhe mínimo.
Ela apenas ficou parada sozinha, desolada, sem saber o que fazer. Por um momento pensou em ir atrás dele, mas ao julgar pela expressão de confusão e traição que ela vira no rosto dele, percebeu que não seria uma boa ideia.
Ele precisava ficar sozinho, e ela não era uma companhia ideal para o momento em questão. Isso doeu um pouco, na verdade muito mais do que poderia prever.
Respirou fundo e mordeu o lábio tentando segurar as lágrimas. Ela não podia chorar. Olhou para a mesinha de cabeceira e encarou seu celular, que parecia estar brilhando, chamando-a.
Ela deveria ligar para ele? Ir até o seu apartamento estava fora de cogitação, sem dúvida. Mas, talvez ela devesse deixar as coisas como estavam. No entanto, uma indagação assombrava seus pensamentos. E se ele tivesse desistido e quisesse acabar tudo o que havia entre eles, e só estava tentando encontrar um modo rápido e simples para fazer isso?
Resolveu não ligar, deitou de lado e inutilmente, fechou os olhos para dormir.
 renata massa