5 de novembro de 2013

Capítulo 34 - Nada mais que a verdade.


Pela janela da sala Dora analisava o tempo lá fora. O clima estava mudando e as nuvens cinza anunciavam chuva.
Fechou as cortinas e temerosa sentiu um frio na espinha. O tempo chuvoso pode até parecer ameno para uns, mas só de pensar que algumas vezes a chuva era acompanhada de raios e trovoes isso lhe dava medo, afinal das contas sofria de vários temores incluindo medo de escuro, altura e até de ficar sozinha – tinha seus motivos pra isso.
-Aonde você vai? – Indagou ao ver Mel passando pela sala em direção à porta.
Mel parou terminando de colocar um moletom.
-Preciso ir a um lugar. – Limitou-se na resposta.
Dora percebeu que a amiga estava aflita e tensa e notará que ela carregava uma sacola.
-Não acho uma boa ideia. –Comentou – Parece que vai chover.
Ignorando Dora, Mel saiu deixando a amiga frustrada.
Entediada a garota pegou uma revista, sentou-se no sofá e começou a folheá-la.
-Dora... – Juliano a chamou – Eu fui ao quarto da Mel e não a encontrei. Sabe onde ela está?
Juliano estava bem arrumado e lá no fundo Dora pressentia que algo muito estranho estava acontecendo.
-Ela acabou de sair. –Informou a garota.
-Ela disse aonde ia? – Juliano parecia tenso e preocupado.
Dora negou com a cabeça.
-Ótimo – Ironizou ele pra si mesmo e mexendo no celular caminhou em direção a porta.
-Aonde vai todo arrum...
A porta bateu antes que Dora terminasse a frase.
Legal, agora eu estou sozinha – Pensou um pouco apavorada.
Não demorou muito e seu celular anunciou uma mensagem.
“Está na sua casa?” – era Caio.
“Sim” – respondeu imediatamente.
Só falta ele querer vir aqui me fazer companhia. Espera ai. Até que não seria má ideia – Refletiu consigo mesma.
Ficar sozinha durante a noite não estava nos seus planos, então ter a companhia de um amigo – além de ser alguém especial – seria muito bom, pois eles poderiam aproveitar para estudar.
Como nenhuma resposta veio ela ficou fitando o celular e se assustou quando escutou batidas na porta. Com muita cautela foi até ela e abriu vagarosamente procurando conter as batidas aceleradas do seu coração. Mau ela abriu a porta Caio entrou de supetão fechando a porta rapidamente atrás de si.
-Você quer me matar de susto? – Dora arregalou os olhos assustada e deu um tapa de leve no braço dele.
O rapaz riu dela.
-Fala logo. – Disse irritada – Ou só queria me assustar? Por que seria bem típico seu. – Cruzou os braços.
-Jamais viria aqui te assustar. – Falou sério. – Se bem que você fica uma gracinha com essa carinha assustada. – Falou segurando o queixo dela fazendo-a ficar mais brava e afastou-se dele.
Era notório que ela ficava nervosa perto dele e quando ele implicava com ela era difícil esconder seu sorriso, entretanto mantinha se firme para que não percebesse as reações que ele mesmo causava nela.
Os dois ficaram se olhando por um momento e ela fez sinal para que ele falasse.
-Então... – Ele olhou em volta – Está sozinha?
-Acho que você não veio perguntar isso, não é? – Ele afirmou com a cabeça. – Chega de rodeios e vai direto ao ponto. – Ordenou.
-É o seguinte, amanhã é aniversário do Rodrigo e eu estava querendo fazer um bolo pra fazer uma surpresa pra ele.
-E eu com isso?!
Mostrou indiferença, pois ainda estava irritada com as atitudes de Rodrigo. Caio a olhou reprovando a fazendo ficar envergonhada de sua atitude.
-O que quer que eu faça? Afinal, você é o cozinheiro. – Ela disse baixando a guarda.
-Será que pode me ajudar a fazer o bolo? – Dora balançou a cabeça afirmando – Então vamos. – Disse puxando-a pelo braço.
-Espera ai.  Aonde vamos? – O deteve.
-Não podemos fazer o bolo no meu apartamento e nem aqui. Ele descobriria logo. – Ele pegou na mão dela conduzindo a porta – Tenho um lugar secreto.
Com dúvidas Dora o seguiu até o barzinho do seu Pedro que foi a primeira pessoa que Caio conheceu logo que chegou a Quatro Rios. O senhor era um homem muito bom e fizera amizade com Caio e permitiu que eles usassem o espaço do bar para fazer o bolo.
-Lamento informar Caio Cruz, mas isto aqui não é um lugar secreto. – Objetou a garota colocando a farinha na tigela.
-Sempre tem algo a dizer, não é narizinho atrevido. – Ele se aproximou dela pegou um pouco de farinha e assoprou na cara dela fazendo com que ela ficasse perplexa.
-Isso foi muita ousadia da sua parte. – Ela falou pegando um pouco de farinha e jogou nele.
-Não pode fazer isso. Eu só tenho essa farinha aqui. – Fingiu brigar com ela.
Dora colocou as mãos na cintura.
-E você pode?
-É claro. Sou o chef, sei o quanto posso desperdiçar. – Anunciou rindo.
Ela ria enquanto pegava um pano de prato e começou a se limpar e ainda rindo limpou Caio também até que ficaram sérios e fitassem um ao outro. De repente ouviram um trovão e os dois ficaram sem graça.
-Eu avisei que iria chover, mas ninguém me ouviu. – Tentou quebrar o clima que ficou entre os dois. – Acho que vou ligar pra Mel pra avisar onde estou. Ela e o Juliano podem ficar preocupados.
- Ok.
-Droga.
-O que foi? – Ele perguntou se aproximando dela.
-Sem bateria. –Mostrou o celular dela.
-Usa o meu. – Ele entregou o celular pra ela.
-Sem torre. – Disse desolada – Essa chuva não vai passar tão cedo. Como vamos embora?
-Primeiro vamos terminar o bolo e depois vemos o que faremos. O seu Pedro disse que tem um colchão e umas cobertas no quartinho ali nos fundos. Qualquer coisa a gente dormi por aqui. – Dora o olhou apavorada com a ideia. – Não precisa olhar desse jeito. Se essa chuva não parar esse vai ser o único jeito.
E foi o que aconteceu. Terminaram o bolo tarde da noite e a chuva não tinha nem estiado. Caio ajeitou o colchão para que ela dormisse e ele ficou sentado do lado dela ora acordado ora cochilando até que amanheceu.
(***)
Chegando ao prédio Caio foi com Dora explicar para Mel e Juliano o porquê deles terem dormido fora. Infelizmente ela não encontrou nenhum dos dois.
-Eles sumiram. – Dora alertou Caio – Eu tenho que falar com o Rodrigo. – Falou saindo do seu apartamento.
Caio a seguiu.
-Ninguém some assim, espera. – Puxou-a pelo braço a fazendo olhar nos seus olhos – Em hipótese alguma diga para o Rodrigo que estivemos juntos essa noite.
Caio sabia que Rodrigo ficaria uma fera e o rapaz poderia até pensar coisas que não aconteceu.
-Primeiro o Rodrigo age estranho e agora você. Isso já está virando paranoia. – Falou se soltando dele e entrou correndo no apartamento do amigo deixando Caio para trás.
* * *
As coisas não estavam nada bem e por mais que Dora esteja irritada com Rodrigo ficou mais chateada com a atitude de Mel e Juliano que sumiram assim sem dar explicação. Dava pra ver que Rodrigo gostava muito de Mel, mas ela ainda não entendia esse extinto protetor que o rapaz adquiriu de repente para seu lado.
Dora também não cuidaria hoje de Carol então tirou a tarde inteira para vasculhar a casa em busca de indícios que levava ao sumiço dos irmãos Angnel, porém não teve nenhum êxito.
-Cara como ela fez isso justo no aniversário dele?! – Falava pra si própria – Ai, Mel espero que você tenha um bom motivo.
Ela não conseguia esconder que estava preocupada com o Rodrigo. Ele demostrava estar levando numa boa, mas lá no fundo ela sabia que as coisas não estavam bem.
Caio, Rodrigo e ela combinaram de ir a uma cafeteria para ver se o animo de Rodrigo voltava e isso era bom, pois daria certinho com o plano de cantar parabéns para ele.
Dora bateu na porta dos seus vizinhos e esperou que alguém atendesse. Assim que a porta abriu ela deu de cara com uma bebê que estava sendo entregue em suas mãos.
-Segura. – Caio disse pegando o sapatinho de sua prima que estava no chão.
Dora pegou a bebezinha com muito cuidado.
-Caio, da onde saiu essa criança? – Perguntou estarrecida.
-Da barriga da mãe dela. – Ele falou como se fosse obvio enquanto colocava o sapato na menina.
-Eu estou falando sério.
-Uai. E da onde se tira os bebês?! – Dora o fitou impaciente – Ela é filha da minha prima. Vou leva-la no apartamento dela. –Por fim explicou a situação deixando Dora mais tranquila – O Rodrigo está terminando de se aprontar, mas você pode entrar e esperar. Eu não demoro.
* * *
Rodrigo e seu irmão Robson fizeram as pazes, porém Dora não compreendia o motivo pelo qual estavam brigados, lembrou-se que certa vez Melody comentará com ela que ele tinha problemas com a família agora sabia que esses problemas tinham a ver com os irmãos.
-Que bom que se entenderam. – Dora sorriu colocando sua mão sobre a de Caio que estava distraído olhando para Rodrigo e Robson. - Belo presente de aniversário. Não acha?! – Sussurrou como se confidenciasse um segredo.
-Tem razão. –Caio sorriu em resposta.
-Quero que conheça meus amigos. –Rodrigo se aproximou de volta aonde Caio e Dora estava agora junto com seu irmão, cunhada e sobrinha.
Dora ao ver que a sobrinha de Rodrigo é a prima de Caio ficou um pouco confusa.
-Esse é Caio meu amigo e parceiro e essa é Dora minha... – Rodrigo fitou a irmã por um instante -... minha amiga.
Dora sorriu um pouco sem jeito.
-Caio é da família... é meu primo, certo? – Robson cumprimentou Caio que sorriu assentindo – E você... – Olhou para Dora – Acho que tenho a impressão que te conheço de algum lugar.
Dora sem jeito corresponde ao cumprimento e Rodrigo olha para Caio em cumplicidade por Robson ter de certa forma sem saber reparar que Dora lembra o pai deles.
-É um prazer conhece-lo, mas acho que nunca o vi antes. – Disse sinceramente sem graça e respirando aliviada olhou para Caio fazendo sinal de que era hora para o bolo.
Rodrigo ficou feliz com a surpresa e Dora sentiu-se melhor em ver que o amigo estava contente. Ao devolver a prima Caio fez o convite a Robson e sua família que aparecesse na cafeteria. O rapaz tinha certeza que a situação estava apaziguada por causa da pequena Amanda. Após cantarem parabéns e comerem o bolo Rodrigo e Robson foram conversa no balcão distante de Dora e Caio tinha certeza que ele iria contar a verdade sobre a Dora, então Caio fez sala pra ela e tratou de esclarecer a história do desentendimento dos dois irmãos para a garota assim que sua prima saiu para ir ao banheiro trocar a bebê que havia se sujado do delicioso bolo de chocolate.
-Que história! – Espantou-se Dora. – Ele sendo tão legal comigo e eu sendo uma chata e o coitado passado por tudo isso. – Pensou ela.
-É. A história toda é tensa e complicada. – Analisou Caio.
-Será que você pode me levar pra casa?! Acho que eles têm muito que conversa e o sono já bateu. – Pediu ela.
-Ok. Vou pagando a conta e você avisa o Rodrigo que estamos indo.
Caio e Dora seguiram juntos até o balcão, então Caio foi até o caixa e Dora chegou perto dos irmãos.
-E quando pensa em contar a verdade? – Robson perguntou a Rodrigo sem que eles percebessem a presença de Dora.
-Eu ainda não sei. – Rodrigo respondeu e logo notou a presença da irmã. – Dora...
-Oi. Não se importa de Caio me levar agora? É que estou exausta. Sabe como é noite mal dormida. – Ela falou e eles perceberam que ela não ouvirá nada ou não entendeu sobre o que estavam falando.
Robson fitou Rodrigo achando que ele contaria agora.
-Tudo bem. – Consentiu o rapaz. – Preciso conversa mais com meu irmão.
Antes que Dora dissesse mais alguma coisa duas garotinhas passaram correndo trombando nela. Sem que se machucasse as meninas seguiram correndo para uma mesa nos fundos e logo após elas entrou uma jovem senhora.
-Desculpa-me. Acabamos de chegar de viagem e elas estão com fome. – A mulher foi super gentil se desculpando.
-Tudo bem. Já tive a idade delas, sei bem como é isso. – Dora disse educadamente com um sorriso e a senhora se afastou dela.
-Tudo pronto. – Caio disse se aproximando dos três.
-Ótimo, então vamos. –A garota se virou em direção a porta e ficou perplexa em ver o homem que acabará de entrar.
Augusto olhou para todos que estavam com Dora e sorriu.
-É bom ver vocês três juntos. – Comentou o pai da garota.
Dora olhou para trás de soslaio sem entender.
-Está me perseguindo? – Perguntou revoltada.
Rodrigo, Robson e Caio ficaram imóvel. Estavam alerta a qualquer palavra que Augusto poderia pronunciar.
-Não filha. Eu acabei de chegar à cidade... – Explicou ele.
-Papai eu posso pedir batata frita. – Gritou a garotinha menor lá dos fundos da cafeteria.
Dora olhou e viu que a garotinha segurava o cardápio e olhava na direção deles. Percebeu que a menina lembrava muito ela quando era pequena.
-Ana – A garota mais velha tomou o cardápio da pequena e a repreendeu – A mamãe já disse que aqui não vende porção de batata frita.
-Bela família. – Dora riu com sarcasmo.
-Dora...
-Vê se cuida delas direito. – Sugeriu a Augusto e saiu do local sem que alguém impedisse.
* * *
Atordoada e desesperada Dora saiu correndo para seu apartamento e nem percebeu que Rodrigo e Caio estava atrás dela como se fosse dois guarda costas. Entrou em seu apartamento e foi direto ao quarto de sua amiga.
-Mel – Chamou ao entrar no quarto.
Percebeu que não havia ninguém foi até o banheiro chamando a amiga e não encontrando ninguém foi para o quarto de Juliano.
-Dora eles não estão aqui. – Rodrigo afirmou preocupado com a irmã.
-Juliano. – Ela chamou-o batendo na porta do quarto do rapaz.
Procurou pela casa inteira seus amigos e nada. Caio e Rodrigo estavam sempre atrás dela pensando que ela poderia ficar em estado de choque assim como quando sua mãe morreu.
Cansada de procurar foi para sala e sentou-se no sofá e os meninos sentaram no outro.
-Dora está tudo bem? – Caio perguntou.
-Eles foram embora mesmo. – Falou desolada olhando para o chão.
Caio e Rodrigo se entreolhou.
-Ninguém gosta de mim. – Ela começou a deixar as lágrimas molhar seu rosto – Todos se foram. Meu pai, minha mãe, minha irmã, a Mel e o Juliano...
-Mas nós estamos aqui. – Declarou Rodrigo se ajoelhando perto dela e secando suas lágrimas.
-O que eu fiz de errado? Como ele pode me abandonar e agora tem duas filhas? – Ainda chorando levantou-se e começou a andar de um lado para o outro.
Rodrigo e Caio entenderam o motivo da aflição dela. Ela não se conformava com fato do pai partir deixando-a e agora ele aparecer com sua família isso para ela era desolador. Nada para ela fazia sentido.
-Eu não quero falar com ele e não quero vê-lo. – Dora falava pra si própria.
Caio levantou-se e foi na direção dela fazendo sinal de “T” com as mãos.
-Dá um tempo para sua cabeça senão você não vai aguentar. – Aconselhou ele fazendo ela ficar parada no meio da sala – Respira e expira. Relaxa. Ninguém vai te obrigar a ver ninguém. Ok?
-O que você está fazendo? – Rodrigo ficou confuso.
-Não gosto de vê-la triste a quero sorrindo. – Respondeu o rapaz sendo sincero.
Dora começou a deixar mais lágrimas escorrerem e Rodrigo a abraçou.
-Olha o que você fez. – Rodrigo ralhou com o amigo.
-Desculpa, achei que iria funcionar. – Falou sem graça – Dora eu sei que é chato a gente se apegar a alguém e essa pessoa partir, eu entendo isso. – Fitou Rodrigo – Nós entendemos. É triste a gente ir dormi a noite e acordar no outro dia e não encontrarmos quem a gente gosta saber que aqueles que a gente ama partiu, mas pode ter a certeza absoluta que isso vai acontecer sempre, muitas vezes. – Rodrigo revirou os olhos e mentalmente deu uma louca vontade de dar um soco em Caio – E amanhã, infelizmente, você vai acordar e esse cara aqui – Colocou a mão sobre o ombro do Rodrigo – e eu, ou seja, nós estaremos aqui sempre que você precisar, mesmo que você não queira. Você é muito importante pra nós.
Dora havia parado de chorar e deu um sorriso de leve e Caio sorriu pra ela. Acanhada encolheu-se nos braços do Rodrigo.
-Não adianta esconder, eu vi o sorriso. – Caio puxou ela dos braços de Rodrigo e abraçou.
-Obrigada. – Rodrigo sussurrou.
-De nada. – Caio sussurrou também.
Conseguindo fazer com que Dora se acalma Caio e Rodrigo permaneceram no apartamento dela até que ela pegasse no sono. No outro dia Dora acordou melhor e ficou chocada ao encontrar os amigos tomando café na sua cozinha.
-O que fazem aqui? – Perguntou bochechando e coçando os olhos.
-Ficamos a noite toda aqui cuidando de você. Somos seus guardas costas. – Rodrigo respondeu com um sorriso.
-Não, vocês são anjos sem asas. – Considerou ela. – Eu queria me desculpar por ontem – Falou olhando para Rodrigo – Era seu aniversário e eu estraguei o fim do dia com meus problemas...
-Dora, não se preocupe com ontem e apesar dos pesares, foi um ótimo aniversario. Poder passar o dia de ontem com meus melhores amigos e ao lado do meu irmão não tem preço. –Conclui com um sorriso sincero.
Rodrigo bebeu o resto do seu suco e se levantou.
-Tenho que ir senão vou chegar atrasado. – Falou olhando de Dora para Caio - Você já vai também, não é?! – Dirigiu-se a Caio mais com uma ordem do que uma pergunta.
Caio que permanecia calado até o momento olhou as horas no celular.
-Ainda tenho tempo. –Disse com um sorriso travesso na cara.
Rodrigo o fitou sério e Dora percebeu a tensão estranha sobre os dois.
-Tudo bem gente podem ficar a hora que quiserem. – Tentou cortar a tensão.
Rodrigo estaria com ciúmes? – Pensou
Se tais ideia já passaram sobre sua cabeça quando Mel estava por lá imagina agora que a garota sumiu.
-OK. – Rodrigo disse por fim. – Vê se não demora. – Deu nova ordem para Caio e saiu, mas antes deu um beijo na testa de Dora deixando a garota com um olhar indecifrável.
Abismada sentou-se para tomar seu café e ficou absorta em seus pensamentos.
- Você pode almoçar comigo e o Rodrigo no nosso apartamento até decidimos o que fazer com você. – Caio fez com que a garota voltasse para o mundo real e ficasse confusa. – Bom, agora que você está sem a Mel e o Juliano temos que ver como vai ficar as coisas. Não é fácil pagar o aluguel e os gastos sozinha e agora que você não irá cuidar mais da Carol fica mais complicado. Mas, não se preocupe, nós vamos te ajudar. Agora mudando de assunto, ainda está de pé hoje à noite? – Vendo que Dora ainda estava confusa com tanta informação – A gente marcou de estudar. –Lembrou.
-Ah sim. – Dora colocou a mão na cabeça. – Eu já estava me esquecendo. Desculpa Caio eu venho sendo uma idiota fazendo tantas idiotices. Sabe você tem razão. Eu tenho que ser mais confiante. Não posso deixar que coisas ou pessoas como o Augusto me tirem fora do foco. Eu prometo que não vou deixar mais nada me abater e não vou ficar chorando por coisa atoa.
-Chorar às vezes faz bem. – Refletiu ele.
-Eu sei. Só que eu andei pensando e cheguei a conclusão que eu exagero e abuso desse bem. – Disse rindo de si própria.
-Gosto de pessoas assim... – Ele sorriu pra ela. – que apesar de tudo consegue manter um belo sorriso no rosto.
Dora o olhou com carinho. Era tão fácil se manter aérea quando encontrava aqueles olhos verdes intensos.
-Bom... eu tenho que ir. – Caio desviou o olhar - Quero passar na papelaria e comprar uma calculadora. Vamos precisar em matemática. – levantou-se da cadeira.
-Espera. – Dora deteve-o – Já que vai à papelaria e se não for nenhum incomodo, será que eu poderia ir com você? – Perguntou sem jeito – Tenho que tirar xerox dos meus documentos. – Explicou-se. – Tenho que começar a procurar um novo emprego, então quero adiantar o processo para que logo eu possa ser contratada.
-É claro que pode. – Ele sorriu ao ver que a garota tomará uma atitude de fé.
Era de total agrado que ela fizesse companhia a ele. Caio era bem comunicativo e adorava as pessoas e Dora de certa forma era especial pra ele.
-Eu vou buscar meus documentos, trocar de roupa e já volto. – Falou como se ele fosse fugir – Ai, meu Deus. Faz tanto tempo que não uso eles que nem sei onde estão. – Disse coçando a cabeça – Mas, eu encontro – Gritou correndo para o quarto.
Chegando ao quarto Dora pegou sua bolsa e começou a determinada busca atrás dos seus documentos. Era bem relaxada e só se lembrava de ter pegado eles no dia que teve que busca-los e no dia da mudança, porém mesmo assim eles ficavam guardados em uma pasta, então praticamente ela já até tinha se esquecido de como era sua foto da identidade.
Revirou o quarto até que se lembrou de onde guardara a pasta.
-Já sei. – Disse pra si mesma fitando a cômoda ao lado de sua cama.
Abriu a gaveta com toda força quase puxando toda para fora. Encontrou a pasta, tirou os documentos necessários e guardou a pasta novamente na cômoda.
Levantou-se da cama e rapidamente trocou de roupa, olhou no espelho e ajeitou o cabelo que havia bagunçado durante a busca. Abriu a bolsa e um a um começou a colocar os documentos assim que conferia rapidamente sem dar a mínima importância. Ao chegar ao ultimo documento –sua identidade- fez careta ao se deparar com sua foto de quando tinha seus 15 anos e por fim o virou para conferir nome e sobrenome. Aquele sobrenome que tanto evitará e que fez o favor de esquecer por pertencer aquele homem.
-Isadora Borges Evanz. –Leu sem pretensão e guardou na bolsa.
Olhou-se de novo no espelho e conferiu que tudo estava bem dentro dos conformes e foi até a porta do seu quarto e girou a maçaneta, porém parou no mesmo instante que algo chamou sua atenção.
-Evanz. – Pensou lembrando-se de seu sobrenome – Quem nem Rodrigo Evanz? – Indagou a si própria.
Só poderia estar louca era o que pensava. Abriu sua bolsa novamente e pegou sua identidade não acreditando no que lia.
-Nossa!- Admirou-se – Eu e o Rodrigo temos o mesmo sobrenome.
Pasma foi até a cozinha contar o que acabará de descobrir a Caio.
-Já aconteceu com você de ficar muito tempo sem ver ou usar algo que até esquece-se de como era. –Dora entrou na cozinha segurando a identidade em uma das mãos e batendo o documento na outra.
Caio a fitou não entendendo nada.
-Do que está falando? – Perguntou confuso.
-Da minha identidade. – Ela sorriu maravilhada e Caio tentava interpretar seu sorriso. – Olha. – Entregou seu documento ao amigo.
Caio desconcertado pegou o documento temendo pelo o que estava por vir.
-Uau! – Falou impressionado.
-Eu sabia que você iria pensar o mesmo que eu...
-Sua foto saiu bem melhor que a minha. – Comentou interrompendo-a e ela riu.
-Caio, eu estou falando do meu nome. – Falou séria cruzando os braços.
-Ok, ok. Vamos ver. –Ele tentou enrolar – Minha nossa. – Espantou-se – Seu nome é Isadora? Isso não se esconde dos amigos. – Brincou ele.
-É uma longa história. – Disse impaciente – Agora leia o resto. – Ordenou.
Caio tomou folego para concluir o que vinha por ai.
-Isadora Borges Evanz. É o mesmo sobrenome do Rodrigo, não é? –Tentou mostrar surpresa.
-É. – Dora respondeu encantada. – Eu mal sei da vida do meu pai e muito menos que ele tinha um irmão ou uma irmã e que teriam um filho.
-Como assim? O que você quer dizer com isso? – Caio ficou atónito.
-Que Rodrigo é meu primo. É você que entende de coisas obvias ainda não compreendeu. – Falou com convicção - Ele precisa saber disso. – Falou pegando o documento das mãos de Caio e guardou de volta na bolsa e ameaçando sair. – Quando ele voltar para o almoço conversarei com ele.
Caio estava perplexo não sabendo se contava a verdade ou deixava para o amigo contar.
É assunto de família. Melhor eu não me meter – Pensou parado.
-Você não vem? – Chamou Dora.
-É claro. – Respondeu o rapaz saindo de seus devaneios.
-Isso não é incrível? – Perguntou Dora animada.
-É claro. – Respondeu sorrindo pra ela. – E vai ficar interessante – Essa ultima disse pra si mesmo.
Dora e Caio andavam pela rua conversando. A garota estava toda entusiasmada com a história de que Rodrigo fosse um primo seu.
 – Eu não vejo a hora de falar isso pra ele. – disse ansiosa.
Ela andava saltitando e Caio sorria ao vê-la feliz daquela forma, mas será que ela reagiria desse mesmo jeito se soubesse que o Rodrigo é seu irmão em vez de primo?
-Eu sei. Já é a milésima vez que você diz isso. – Caio analisou esperançoso que essa alegria não se desvaia. – Já estamos chegando à luteria. Você vai ficar por aqui ou vai buscar a Carol?
-Hoje a dona Marta não irá trabalhar, pois vai ao médico e me deu o dia de folga. – Comentou olhando para Caio e distraiu-se do caminho. – A Mel precisava saber disso.
-Você tem realmente certeza que ele é seu primo? Sabe, por que pode não ser,  isso é sua opinião...- Caio falava gesticulando distraído.
-Hã?
Antes que Dora objetasse, virou-se para frente e deu de cara com um poste. Ao se inclinar para trás Caio a segurou e reparou o corte sangrando na testa.
-Dora?! – Caio disse assim que a pegou no colo – Dora fala alguma coisa?
-Alguma coisa. – Ela riu – Caio eu só bati a cabeça não precisa me carregar no colo. Eu sei andar. – Protestou a garota que fora levada para dentro da luteria.
-O que aconteceu com ela? – Perguntou seu Rafael ao ver que Caio entrara com a garota em seu colo.
-Bateu a cabeça em um poste. - Anuncio Caio colocando a garota sentada em um banquinho.
-Espera ai que vou buscar uns curativos. – Rafael disse vendo o machucado de Dora e saiu logo em seguida.
-Tem que ver se o poste está de pé, por que eu sou cabeça dura demais. – Dora riu pondo a mão na cabeça e fazendo uma cara de quem está sentindo dor.
Caio puxou outro banco sentando se perto e de frente para Dora.
-Dora você está bem? – Perguntou muito preocupado analisando a ferida.
-Está doendo um pouco. Mas, acredito que irei sobreviver. –Brincou com um sorriso sem vigor.
-Aqui está! – Rafael entregou os curativos para Caio.
Caio limpou e cuidou do ferimento dela.
-Como se sente? – Perguntou seu Rafael.
-Estou melhor, obrigada. – Dora educadamente agradeceu.
-Quem bom. – Caio disse aliviado.
-Rapaz você sempre trouxe moças lindas e talentosas aqui, mas é a primeira vez que trás uma donzela em perigo. – Analisou Rafael – A mocinha do café toca excelentemente bem o violino e aquela bela jovem loira toca maravilhosamente piano.  E você minha jovem? Além de tocar os corações dos jovens com esse sorriso encantador, toca algum instrumento? – Quis saber o velho e Caio se levantou arrastando o banquinho de lado.
-Ah não. Eu não toco nada. – Dora confessou acanhada – Não tenho talento algum.
Rafael balançou a cabeça negando.
-Na verdade, - Caio iniciou – Dora é um diamante bruto. Ela precisa ser lapidada para saber sua utilidade e seu valor. – Caio falou olhando no fundo de seus olhos e sentiu a mesma coisa que sentia toda vez que a via, se sentia hipnotizado pelo sentimento que nutria por Dora e seu Rafael conseguiu perceber isso.
-E dançar? – Rafael se sentou ao velho piano e piscou para Caio e o rapaz entendeu o que ele queria dizer. – Você dança, não é?
-Mais ou menos.  Acho que eu já vou... – Dora se levantou e antes que terminasse pode ouvir os acordes que Rafael dedilhou no piano.
- Me concede a honra dessa dança? – Caio se aproximou e estendeu a mão para Dora esperando uma resposta.
Não relutou nem questionou simplesmente cedeu ao pedido do rapaz, afinal não queria ir embora mesmo. Ela estava feliz e isso era notório.
-Você parece outra pessoa. – Caio disse assim que começara a dançar. – Mais confiante e menos triste.
Enquanto Rafael tocava e cantava distraído, Dora e Caio dançavam como se existisse só eles naquele mundo.
-Resolvi adotar um novo estilo de vida. Eu sei que ainda vou ter meus momentos de fraqueza, vou chorar por coisas bobas, mas ...– Disse despreocupada - ... Quem se importa?
-Eu me importo. – Caio disse sério.
Ela riu.
-Não. Esse é meu lema agora. – falou mantendo o sorriso – Tipo, não importa o que as pessoas pensem de mim. Não vou deixar que o que a opinião das pessoas me impeça de ser feliz. Ah, mas é claro que não sou do tipo que irá pisar nas pessoas pra conseguir o que eu quero. Só vou apenas aprender a viver... como você disse uma vez.
-Eu me lembro. – Caio falou pensativo.
-Mudando de assunto. –Ela tomou um semblante sério. – Qual é o problema do Rodrigo? Não que eu esteja reclamando das atitudes dele, mas parece que o Juliano andou treinando um secretario antes de ir embora. – Ponderou – No começo eu pensei que ele estava interessado em mim até fiquei com medo da Mel pensar coisas desse tipo, porém ficou claro que ele gosta dela e mesmo que não diga ele está sofrendo, eu sei disso dá pra ver nos olhos dele, mas eu percebi que ele tem algo contra você em relação a mim.
Caio ficou receoso.
-Não é nada Dora. – Caio desviou o olhar.
-Eu não sou boba Caio e não gosto que me tratem assim. – disse sincera – É importante eu saber o que está acontecendo.
Caio fitou-a demoradamente.
-Certas verdades cabem a eu dizer. – Refletiu – Nós nos preocupamos um com o outro é normal somos amigos e o Rodrigo te vê tão frágil e sente a necessidade de protegê-la...
-Proteger do que? – indagou lançando um olhar confuso.
-De mim. – Confessou diretamente – Por causa da nossa relação. Foi instantânea a ligação entre o Rodrigo e a Mel e entre nós de certa forma também. Eu gosto de você, de estar perto de você. Você é uma grande amiga, mas não tenho certeza sinceramente que é só isso. – Ela ouvia atentamente e ele dizia tudo baixo para que só ela escutasse – Há uma coisa, só não sei o que é e se é verdadeiro. Nem sempre fui um bom rapaz e acredita que há fantasmas do passado que ainda me assombram. E é isso que preocupa o Rodrigo, essa indecisão. Ele tem medo que eu te magoe e acredite também tenho medo de te magoa, porque eu a vejo como um cristal que a qualquer hora pode ser quebrado e eu não quero ser o responsável por isso. Então entenda que não adianta ter algo entre a gente senão for duradouro não vale a pena ariscar.
Dora ficara muda a tal revelação. A emoção era tamanha, mas segurou as lagrimas. Não queria demostrar que aquilo mexera muito com ela e não por que era orgulhosa, mas conteve-se para não deixar seus impulsos te guiarem. Ela viu sinceridade nos olhos do rapaz e percebeu um brilho diferente no olhar.
Seria uma lagrima? Talvez. Antes que pudesse dizer alguma coisa a música cessou e os dois podiam ouvir as palmas de Rafael e contagiados pela animação do velho aplaudiram também desfazendo o clima tenso que embora era emocionante. Por fim sorriram.
-Esse velho aqui precisa de um pouco de agua. – Rafael disse se levantando. – E Caio... – Ele se aproximou dos dois – Seus amigos tem permissão para vir aqui na loja sempre que quiserem. – Caio sorriu agradecendo – Principalmente você mocinha. – Dora estava de cabeça baixa e olhou para o dono da loja – Já que conseguiu passe livre aqui. – Ele bateu com a mão no peito esquerdo de Caio e deixando o rapaz sem jeito saiu.
-Ok. – Dora respondeu com o rosto corado. – Eu tenho que ir. – Disse virando se rapidamente e saiu deixando Caio só.
Antes que chegasse à porta do estabelecimento Dora deteve-se, estava disposta a fazer aquilo que seus sentimentos e emoções lhe dirigiam. Tomou folego e voltou para o fundo da luteria e encontrou Caio de cabeça baixa ao piano. Ele tocava algumas notas lentamente até que percebeu a presença da garota ao lado do piano.
-Dora... – ele ficou atônito – Esqueceu alguma coisa?
Ela não disse nada, simplesmente se aproximou dele que ainda estava sentado e colocou sua mão direita na face esquerda dele e chegando mais perto pressionou seus lábios contra os dele e se afastou lentamente deslizando sua mão do rosto dele. Saiu como entrou deixando o rapaz estarrecido e com um sorriso bobo.
(***)
Já estava chegando a hora do almoço e Dora estava na espera de se encontrar com Rodrigo e revelar o que descobriu. Andava de um lado para o outro –estava receosa - era possível fazer um buraco no chão de tão nervosa. Talvez não seja por querer contar a verdade para o Rodrigo e sim de ter que olhar para Caio depois do beijo. Será que ele interpretaria mal sua atitude?
Ela não fez aquilo na intenção de demostrar o que sente por ele e sim uma forma de agradecer por tamanha sinceridade da parte dele para com ela e com seus sentimentos. Ele era especial pra ela também e seus sentimentos por ele eram puros.
Olhou no celular e viu que a essa hora Rodrigo estaria em casa, então decidiu de uma vez encarar a realidade custe o que custar.
Bateu na porta dos meninos e antes que alguém atendesse fechou os olhos respirou fundo e ao abrir os olhos deu de cara com Caio. Os dois perderam a voz no mesmo instante e só se encaravam. Havia muito que dizer, mas palavra alguma saia da boca deles. A respiração dela ficou presa ela acreditava que iria desmaiar e se isso não acontecer ela desejaria ser uma avestruz para enterrar a cara em um buraco.
Ela deu um passo para trás e ele agarrou sua mão fazendo seu coração ir de 90 a 160 quilômetros por hora.
-Espera. – Ele parou pensando nas palavras, porém não tinha ideia do que iria dizer – Aposto que seu coração excedeu o limite de velocidade assim como o meu.
Certamente que se a coisa não fosse tão tensa eles ririam do que ele disse.
Dora olhava para a mão dele na sua e engoliu seco ao olhar em seu rosto.
- Então seriamos multados por excesso de velocidade. – Ela disse mantendo o nervosismo e a seriedade controla-la.
-A gente precisa conversar. – As palavras saíram engasgadas da boca dele.
Antes que se falasse alguma coisa Rodrigo apareceu e mirou bem nas mãos deles. A velocidade de seus corações foi sendo reduzidas e a capacidade de seus cérebros de inventar uma desculpa ia aumentando.
-O que está acontecendo? – Rodrigo perguntou confuso ainda olhando para as mãos deles.
-Rodrigo a Dora precisa muito te dizer uma coisa importante. – Caio falou soltando a mão dela e a garota consentiu com a cabeça.
-Sobre o que? – Rodrigo olhou apreensivo para a irmã.
Ela abriu a bolsa e pegou sua identidade.
-Sobre isso. – Disse com um sorriso ameno.
Ela entregou o documento para ele e o rapaz verificou e olhou sério para Caio.
-Eu sei que é estranho, mas somos parentes. – Disse para o rapaz – Eu devia saber disso antes, porém sou um poço de esquecimento e desorganização.
-Então... –Rodrigo ainda estava abismando por ela saber disso tudo sozinha.
-Rodrigo, Dora acredita que vocês são primos. – Caio anunciou demostrando que a hora da verdade era agora.
Rodrigo fitou Caio e acenou com a cabeça e Dora estranhou a reação dos dois.
-Vamos entrar. – Rodrigo chamou Dora e Caio abriu a porta dando espaço para eles entrarem. – Precisamos conversa.
Dora entrou e sentou-se no mesmo sofá que Rodrigo e Caio permaneceu em pé. A garota estava triste com o jeito deles.
-Acho que não temos nada para conversa. – Dora disse abatida e olhou para Rodrigo – Você vive dizendo que se preocupa comigo e quando descubro que somos parentes age assim. Eu sei que posso estar me precipitando, mas Evanz não é um nome tão comum como Silva, Costa ou Oliveira para as pessoas se enganarem em dizer que são parentes...
Enquanto a garota falava sem parar Rodrigo passava a mão na testa nervoso.  Já havia adiado muito a verdade e não era agora que iria enrolar.
-Dora a gente somos irmãos. – Disse de uma vez só.
Dora parou no mesmo instante admirada e olhou para Caio que estava sério.
-Sabe que isso não tem cabimento. – Riu dele.
Rodrigo não disse mais nada. Na verdade estava em dúvida do que dizer.
-Ele está falando a verdade. Augusto é pai de vocês dois e é claro do Robson também. – Caio informou.
-O que vocês querem com isso? –Disse incrédula – Isso não faz sentido Caio. Nós temos um ano de diferença de idade. – Ela disse apontando para o Rodrigo – E meus pais estavam juntos dois anos antes de eu nascer.
-A história é longa e complicada, mas é a verdade Dora. – Rodrigo falou finalmente. – Eu estou disposto a responder todas as suas perguntas e contar tudo pra você.
Dora compreendeu que eles não estavam brincando e começou a chorar essa verdade mudaria muita coisa em seus pensamentos e sua concepção de família.
-Não pode ser. – Negava pra si própria.
-É tão ruim saber que somos irmão?– Rodrigo perguntou triste.
-É terrível saber como minha família foi formada. – Chorava tentando afastar tais pensamentos. – Minha mãe ... não é possível.
-As coisas não são como você está pensando. – Rodrigo a alertou. – Ela não sabia que ele tinha uma família. Para sua mãe você e ela era a única família dele. Ele enganou nossas mães, elas não têm culpa. Só que hoje ele está arrependido do que fez. – Dora olhou pra ele não acreditando no que ouvia.
-Como você pode estar do lado dele depois de tudo que ele fez? – Dora levantou-se revoltada.
-Eu não estou do lado de ninguém. Só acredito que as pessoas precisam de uma chance pra se arrepender e mudar. Eu tive que passar por isso também. – Rodrigo levantou-se e chorando segurou levemente sua irmã pelos braços.
-Eu nunca vou te perdoar por isso. – Disse entre lágrimas.
-Não diga isso Dora. – Pediu ele e Caio só observava – Minha única culpa é de não ter contado antes. Tive medo da sua reação.
Ela segurou as lágrimas e olhou para Caio.
-Sabia disso né? E me deixou com cara de tonta acreditando que ele era meu primo. Aposto que estava morrendo de dar risada pelas minhas costas. – Ela se soltou do Rodrigo e foi até Caio.
-Não era uma piada para eu rir.
-A Mel e o Juliano sabiam? – Ela se virou para o Rodrigo que não disse nada. – É claro que sabiam. Quanto mais penso nisso pior fica. As coisas idiotas que eu disse para Mel sobre você... é por isso que ela levou na boa. Como você fez isso comigo? – Perguntou para Rodrigo.
O rapaz estava sofrendo tanto quanto ela e não sabia o que dizer.
-Não seja injusta com seu irmão. – Caio chamou sua atenção bravo. – Ele não tem culpa de nada. Ele também é uma vitima nesta história e está sofrendo tanto quanto você.
-Caio... – Rodrigo o repreendeu.
Sem dizer nada Dora saiu do apartamento deles e foi para o seu. Correu para seu quarto e se jogou na sua cama e chorou angustiada. Sabia que Caio estava certo quanto ao Rodrigo, mas ela se sentia tão enganada e revoltada que a única coisa que conseguia fazer era chorar.
Seu celular toucou após uns minutos. Se fosse Caio ou Rodrigo ela não atenderia. Sentou-se na cama e olhou no visor, não reconheceu o número e decidida atender limpou as lágrimas.
-Alo? – Sua voz saiu embargada.
-Dora... – Ela reconheceu a voz – é a Mel.
-Onde você está? – Perguntou brava.
-Olha não posso demorar muito. – Mel se limitou – Só queria dizer que está tudo bem e espero que me desculpe por ter sumido assim sem dar explicações. Quando puder te explico tudo.
-Quer dizer que você ressuscita ao terceiro dia e não tem nada a dizer?! – Dora começou a ficar irada com Mel – Jesus pelo menos tinha uma mensagem.
 -Eu sinto muito, mas não posso dizer mais nada. É complicado...
-Eu achava que o Rodrigo significava algo pra você. Mas, já vi que não. – Dora começou a chorar novamente – Não se preocupa não. Ele não está sozinho.
-O que você quer dizer com isso? – Quis saber Mel.
-Que ele tem uma irmã. Mas...você já sabia disso, não é. – Ironizou.
-Eu tenho que ir. – Mel desligou o telefone.
Dora sabia que Mel tinha os seus motivos, mas estava chateada pela angustia que ela causou no irmão. Era mais ou menos isso que sentiu quando seu pai foi embora e a pior coisa era não ter com quem contar nessas horas. Não tinha mais raiva de Rodrigo e o que ela queria no momento era estar ao seu lado e poder dizer a ele que pode sempre contar com ela e foi o que fez.
Sabendo que a porta estava aberta entrou no apartamento dos meninos sem bater e se deparou com os meninos que ainda estavam sentados conversando no sofá. Rodrigo já havia parado de chorar, mas ainda tinha o semblante triste. Sem mais delongas ela foi até ele. Rodrigo levantou-se do sofá e recebeu a irmã de braços abertos.

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