O vento sobrou com a intensidade de sempre, fazendo a
cortina balançar sem parar. O sol quente do verão já predominava há três meses
trazendo o clima das férias para a vida daqueles amigos.
Rodrigo apreciava aquele sábado lindo. Céu azul, vento
forte mesclado ao forte calor, passarinhos cantando naquela manhã e ele
desfrutando da companhia de Dora, que havia acabado de chegar de viajem,
contando todos os detalhes daquela viajem maravilhosa.
Ela estava radiante, ainda mais bonita da última vez em
que a vira, há dois meses atrás. Estava morrendo de saudades da irmã, mesmo que
se falavam todos os dias por telefone ou pela internet que finalmente havia
colocado dentro de casa.
Havia ido ao Rio de Janeiro fazer algumas fotos para a
campanha que estava trabalhando, além de eventos que tinha que marcar presença.
Todos estavam admirados não pela beleza natural de Dora, mas por sua
simplicidade e sinceridade. Não era mais uma modelo como tantas outras que
chegavam a ser metidas e esnobes. Realmente Thais tinha razão; Dora tinha um
“que” a mais em sua personalidade, em seu jeito de ser que a tornava diferente
das outras modelos. Rodrigo sabia disso, pois isso por mais que não tivesse
gostado muito da ideia da sua viajem, a apoiou, cuidando de cada detalhe, para
que estivesse segura, em todos os sentidos. Pois isso suas visitas eram
constantes na agencia e Mel, apesar de tudo não estava gostando muito disso.
Não gostava do jeito que Thais o olhava na primeira vez em que foi junto.
_ Ainda bem que o David foi junto nessa viajem, assim não
me senti sozinha.
Rodrigo a olhou de lado e limpou a garganta _ David...
hum...
Dora deu um cutucão em seu ombro _ Ei, relaxa! Você o
conhece, ele é um super cavalheiro.
Ele deu um sorriso não sabendo se concordava com esse
comentário.
_ Trouxe um presente pra você – Mudou de assunto pegando
algo em sua mochila que ainda estava na sala.
A primeira coisa que fez quando chegou foi ir direto no
apartamento do irmão. Era incrível como a presença dele se tornara algo necessário
em sua vida. Eram irmãos, amigos, descobriram com o tempo, os telefonemas
constantes que tinham uma afinidade que ela nunca havia experimentado antes. E
também Rodrigo havia mudado um pouco desde que Mel decidiu namorar, mesmo com
as implicâncias ainda constantes de Juliano. Rodrigo sentia na pele como era
insuportável ter um irmão como Juliano, por mais que sabia que ele queria
proteger Mel de todo o mal do mundo, mas ainda era algo exagerado e muitas
vezes ela se frustrava pelo seu comportamento, discutindo algumas vezes. Então
Rodrigo tentava se encontrar com ela em seu próprio apartamento, para evitar
mais aborrecimento, mas nem sempre dava certo. Então decidiu não fazer esse
papel de irmão-chato-super-protetor, pelo contrário, queria saber de cada passo
da irmã, mesmo tendo que escuta-la falando horas de David e outras horas de
Caio, querendo saber como o amigo estava. Ele apenas a orientava, por mais que
quisesse que ela ficasse longe de cada um deles.
Dora trouxe uma caixa com embrulhos e entregou ao irmão _
Espero que goste!
Rodrigo sorriu de orelha à orelha. Quanto tempo não
ganhava um presente. Deu um beijo na irmã agradecendo mesmo não sabendo ainda o
que era.
_ Bom, espero que goste. É um presente para todos, mas
quero que você receba primeiro.
Rodrigo a olhou intrigado, ficando curioso. Sem demora,
abriu a pequena caixa, retirando alguns folder’s de divulgação e alguns papeis.
Olhou, olhou, mas não entendeu nada. Então achou um folheto explicativo _
Cruzeiro?
Dora abriu um sorriso concordando _ Um cruzeiro para o
final do ano. Duas semanas, eu, você,
Caio, Mel e Juliano.
Rodrigo ficou sem reação a encarando _ Como assim?
Cruzeiro? Dá onde? Você pagou? Como assim Dora?
Ela levantou-se da cadeira olhando a vista da varando do
apartamento _ É um presente para a minha família – deu de ombros _ Não
interessa como paguei, apenas quero estar junto de todos por duas semanas. Nada
de mais...
Rodrigo a fitou observando-a, estava de costas evitando
olhar para o irmão, mas ele a conhecia o suficiente para saber que havia algo
nela que não estava bem. Não disse nada, apenas beijou sua testa carinhosamente
_ Obrigada Dora, mas você sabe que o meu maior presente é saber que é minha
irmã. Amo você muito.
Ela fechou os olhos ao ouvir aquelas palavras que tanto
esperava. Era a primeira vez que Rodrigo falava de forma tão fraternal com a
irmã. E isso a deixava em paz, feliz por sentir que estava em uma família de
verdade. Era seu irmão, estavam juntos em todos os momentos. Nunca mais estaria
sozinha...
Sabia
que Robson também era seu meio irmão, ficou feliz em saber disso, até se
encontraram uma vez no café. Ela, Rodrigo e Robson. Conversaram um pouco, foi
estranho no começo até porque ele e Robson voltaram a se falar há pouco tempo,
no seu aniversário, no dia em
que Rodrigo falou sobre Dora ser sua irmã. A conversa foi
rápida, mas deixou os dois surpresos por que ambos gostaram de Dora desde a
primeira vez em que a viram, e pelo seu jeito, constataram que tinha o gênio do
pai, que infelizmente ela não suportava. No entanto, aquele cruzeiro era para
seus amigos mais íntimos, isso não queria dizer que não gostava de Robson, pelo
contrário, gostou muito, mas ficou com um pé atrás por ter feito Rodrigo sofrer
tanto. Mas era uma coisa de cada vez para resolver, no momento, sua vida havia
mudado radicalmente e precisava de um tempo para digerir tudo, porém a novidade
que jamais deixaria de lado, era a descoberta de que Rodrigo era seu irmão, e
amava-o muito, tanto que mesmo que ele e Mel se entenderam, ficou com um pé
atrás por ela ter ficado dias foras sem explicação e ainda mais por Juliano ter
dado um soco.
_ Agora... O Juliano também? Tem certeza? – Rodrigo
perguntou, querendo alegrar um pouco a irmã.
Ela o encarou limpando rapidamente suas lágrimas _ Fazer
o que, né? Ele faz parte da nossa vida. Mas não se preocupe, não vou deixa-lo
infernizar a vida de vocês no cruzeiro. Ele que se cuide, nunca viu uma Dora
furiosa. Ainda o pego por aquele soco.
Rodrigo deu risada e abraçou a irmã _ Estava com saudades
de você.
_ É, e eu de você – Suspirou profundamente retribuindo o
abraço e fechando os olhos. Quando o abriu ficou paralisada, não respirou por
um momento e seu coração parecia estar em constante vibração.
Rodrigo se afastou percebendo algo nela. Respirou fundo
ao olhar para a sala. Ele não entrava na visão de Caio, por um momento, o mundo
era só deles e por mais que Rodrigo quisesse quebrar aquele clima, lembrava
sempre de Mel e de quanto estavam juntos. Sabia que a irmã sentia algo por
Caio, sabia que ele sentia algo por Dora, sabia que Luisa sentia algo forte por
ele, mas sabia que há meses ela estava ausente da vida de Caio. Desde que Dora
entrara na campanha ele mudara.
* * * * *
Juliano encarava Rodrigo com os braços cruzados, Mel não
tirava os braços dele. Caio estava feliz e calado. Dora encarava os amigos
animada _ Falem alguma coisa!
_ Estamos dentro, né?! – Rodrigo disse em alto e bom som
fazendo Juliano ficar nervoso.
_ Não é você que decidi, a irmã é minha.
_ E o namorado sou eu – deu de ombros e encarando Mel
disse _ Vamos, né? Não podemos recusar.
Mel abriu um sorriso e o beijou suavemente _ Claro, vai
ser maravilhoso estarmos todos juntos.
Juliano encarou a irmã, furioso _ Temos que conversar,
não acha?!
_ Dá um tempo Juliano. Você gosta de tornar as coisas
insuportáveis. Vamos estar todos juntos, você meu irmão, Rodrigo, meu namorado
e Dora e Caio, meus grandes amigos. Então relaxa e vocês dois pelo amor, dão um
tempo.
_ Você sabe que é ele que começa – Rodrigo se defendeu.
Mel deu um cutucão nele _ E você não resisti a provocá-lo.
_ Eu não resisto a você meu amor – Beijou-lhe suavemente.
Mel queria ficar indignada com a atitude dos dois, mas
não conseguiu. O jeito sempre doce de Rodrigo a encantava, mesmo quando queria
provocar o irmão com beijos e carinhos, bem na sua frente.
_ Para mim está perfeito! – Caio concluiu fitando Dora
pacientemente. Ela suspirou e retribuiu o sorriso do amigo _ Vai ser perfeito!
– Virando-se para Juliano disse _ E você se comporte, está na minha lista
negra.
Juliano arregalou os olhos ao ouvir aquilo de Dora _ Eu? O
que fiz?
_ Não é só o que fez é o que está fazendo, não deixando a
Mel e o Rodrigo em paz. Está
na hora de você acordar para vida meu filho. Os dois estão juntos para valer,
se amam. Então relaxa e largue mão de ser ciumento, se não você vai ser ver
comigo.
Juliano continuou com os olhos arregalados _ O que
fizeram com você?
_ Nada Juliano, só disse que o penso. Vai ser feliz!
Caio deu risada do jeito de Dora e ela sorriu com o amigo.
* * * * *
Rodrigo pegou a mão de Mel enquanto andavam pela praça na
cidade. Estava anoitecendo, as malas já estavam arrumadas para o cruzeiro do
dia seguinte.
Ambos caminhavam em
silêncio, um dos raros momentos que tinham para ficar juntos. Dora ajudou a
despistar Juliano, ou melhor, ela e Caio o fizeram ficar para ajudá-los a
preparar o jantar daquela noite.
Continuaram a caminhar, saindo da praça e seguindo para
uma outra, há duas quadras de lá. Sem querer sentaram em um banco que dava de
frente para a praça da igreja, aquela onde havia uma cruz grande em um pequeno
morrinho.
_ A vida é interessante. Tivemos que passar por
relacionamentos ruins para finalmente estarmos aqui.
_ Queria ter te conhecido antes – Rodrigo revelou.
_ Eu também - Sussurrou ainda fitando a cruz.
_ São escolhas... Erradas, ou talvez um aprendizado – Deu
de ombros _ O que importa é que estamos aqui.
_ É, estamos aqui – Ela o fitou seriamente _ Todos nós.
_ Todos... E Deus faz parte disso.
Ela suspirou encantada por aquela conversa. Não sabia que
Rodrigo pensava dessa maneira, demonstrava um amor muito grande por Deus, assim
como ela também sentia..
_ Verdade, não estaríamos aqui se não fosse Ele – Mel
concluiu.
Rodrigo apenas concordou com a cabeça enquanto agradecia
mentalmente por aquele momento, por finalmente ter encontrado a pessoa certa, a
mulher da sua vida. Por ter encontrado uma irmã que precisava tanto do seu
amor, por ter descoberto a verdade sobre seu pai, mesmo que isso doesse. Por
ter conseguido perdoar o seu irmão e sua esposa. Ainda tinha coisas pela
frente, mas no tempo certos resolveria tudo. No momento só queria ficar
quietinho contemplando aquEle Deus surpreendente ao lado da mulher que amava a
cada dia.
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