30 de junho de 2014

Uma história em quatro mãos - Capítulo 42 - De volta pros seus braços

As provas se aproximavam e a tensão estava grande. Dora havia se reconciliado com Augusto e todos saíram pra comemorar. A família de Rodrigo estava completa, era sábado a noite e na manhã seguinte seria a prova e Dora mantinha o mistério de qual curso ela iria fazer.
⁃ Gente, o David acabou de me mandar uma mensagem. Disse que está quase chegando aqui.
⁃ E o que ele devia estar fazendo aqui?
⁃ Comemorando com a minha amiga. – falou ele a abraçando por trás, Mel notou a coloração dos olhos de Caio mudarem e sussurrou para o amigo a sua frente.
⁃ Se controla, por favor. – ele apenas arqueou a sombrancelha numa leve carranca na direção dos dois.
⁃ Boa noite pra você também Caio. Sou um homem família e estava doido pra conhecer todos vocês.
⁃ É bem vindo entre nós, David.
⁃ É claro que eu sei disso. – riu ele roubando uma azeitona da pizza de Dora e rindo pra garota em cumplicidade e pegando uma cadeira pra se sentar ao lado dela entre Rodrigo e Augusto. – Seu Augusto, saiba que eu estava torcendo muito pela reconciliação de vocês. Essa menina me dá muito trabalho tá mesmo precisando de um pai pra dar orientação. Dora lhe plantou um soco no ombro. – Ai! Tá vendo é disso que to falando! – todos riram menos Caio que se levantou abruptamente dando a desculpa de ir atender uma ligação. Mel pediu licença e foi atrás.
⁃ Ei, Caio! – ela o alcançou na calçada. – Você é péssimo pra disfarçar as coisas querido.
⁃ Era pra ser uma noite só nossa, sabia? Dos amigos e da família. Porque ela tinha que chamar esse cara! Parece uma sombra! E agora ele é o engraçado, parece o genro preferido, o amigão da galera!
⁃ Caio, na boa! Qual é a tua? A Dora estava ali o tempo todo e nada aconteceu entre vocês ou aconteceu e você pulou fora, daí aparece a Luiza que ressurge das cinzas direto pra sua vida e você parece não saber mais o que quer! A Dora sofreu perdas, cresceu e se tornou além de uma mulher linda, independente. Era fácil quando ela precisava de você. Agora tá no hora de mostrar que você precisa dela. Você precisa largar a mão de ser moleque, assumir o que quer da vida. E não ter raiva de quem sabe. A sua raiva é essa! Se o David fosse um canalha tudo bem, mole tirar do caminho. Se ninguém gostasse, melhor, mas todo mundo gosta inclusive ela e agora eu te pergunto: Vai fazer alguma coisa a respeito? Por que o ele parece estar fazendo!
⁃ Não é um bom momento pra uma cena, mas obrigado pelas verdades eu estava mesmo precisando. Quer dizer que ele é mesmo um cara legal?
⁃ É sim! Não mais que você amigo! Vem cá me dá um daqueles famosos abraços, você tá precisando. – ela o abraçou ou foi abraçada por ele. – Mas vê se toma vergonha logo tá!
⁃ Tudo bem Melzinha, mas eu vou pra casa, ok? Por mais bom moço que eu tente ser eu não estou conseguindo respirar lá dentro vendo eles dois. – o celular dele toca. – Peraí! Alô? Mãe! Mãe que voz é essa? O que está acontecendo? – a ligação caiu, ele tentava desesperadamente retornar.
⁃ Caio o que houve?
⁃ Meu pai, não tá nada bem Mel, tenho que voltar pra Ramos, agora. Vou passar em casa e pegar minhas coisas e vou. Não quero preocupar ninguém, volta pra lá e avisa quando estiverem saindo, ok?
⁃ Mas, Caio.
⁃ Por favor, Mel, é um momento importante pra Dora, ter a família reunida novamente. E eu preciso mesmo partir.
⁃ Tudo bem, entendo.
⁃ Diz que eu deixei um abraço em todos, menos no negão!
⁃ Vai logo! Eu digo e melhoras pro seu pai.
Ele pegou o próximo táxi direto pro apartamento, arrumar as malas era fácil, difícil era manter a mente longe do telefonema de sua mãe. Dona Lurdes parecia muito aflita.
Caio não perdeu tempo arrumou tudo o que podia levar, e foi direto pra rodoviária, enviou mensagem de texto pra Rodrigo, Mel e Dora: “Precisei voltar pra Ramos com urgência, meu pai está muito doente. Volto assim que der. Amo vocês!” Madrugada a dentro e ele só se lembrava do começo de toda essa história, essa vontade de se auto afirmar como homem para o pai de ser reconhecido por ele, sair de casa pra se encontrar, ser completamente dependente de Deus. Dar a distância como espaço necessário para estreitar vínculos com alguém que sempre esteve tão longe e tão perto. Se lembrou de como era quando pequeno, o desejo de seguir seus passos e nunca alcançar sua mão e agora estava ali dentro de um ônibus aflito e só novamente, pensando no perdão que precisaria dar e ansiava tanto por receber, talvez um abraço que nunca houve e talvez nunca houvesse.
Lágrimas quentes desceram pelos olhos verdes de Caio, a dor o medo apertavam seu peito. Amava seu pai isso era fato, o admirava como homem de Deus integro que sempre fora, mesmo que não fosse o homem mais afetivo do planeta e nem comunicativo. Era o seu pai, o homem que o apontou Deus acima de seu caráter falho e pecador, o homem que lhe mostrou verdades irrevogáveis e eternas. Começou a orar. “Hei, Deus, sei que eu errei muito nessa história de manter magoado com ele por todos esses anos e te peço perdão, mas ele não facilitou nada entre nós. Eu sei, eu sei, o lance da outra face, tornar o outro a causa maior, eu vi ele fazer isso por anos. Se dedicando a ajudar os outros não se importando com a própria saúde e as vezes nem mesmo a própria família. Eu sei que entendes de abandono, Jesus, sentiu isso na cruz e por isso sei que me entendes, conseguiste redenção pro mundo inteiro quando estava sofrendo e sozinho, me perdoe por me vitimizar por isso. Me ensina a ser melhor e alcançar teu perdão, mas me dá mais uma chance de falar com ele e estar com ele pra fazer isso. Só preciso de mais um pouco de tempo, só mais um pouco...”
Caio chegou a Ramos e foi direto ao hospital, encontrou sua irmã com uma das sobrinhas adormecidas sentada ao seu lado e seu irmão com a outra sonolenta e chorosa, a mãe estava no quarto com o seu pai e todos pareciam não dormir há dias. Bruna a sobrinha que estava quase dormindo por segundos esqueceu de onde estava e correu para o tio e em seguida desabou a chorar acordando a mais velha que se juntou aos dois num abraço longo e profundo, ele não se conteve e chorou também. Eram suas meninas, pre-adolescentes lindas, em um ano o rostinho redondo havia ganhado formas mais finas, ele as abraçava com força e as beijava muito. Tadeu e Rosa se aproximaram do irmão enquanto as meninas se afastaram e ficaram num canto abraçadas.
⁃ Como ele está?
⁃ O quadro é incerto, ele teve um AVC, foi de repente o trouxemos pra cá e logo entrou em coma. A igreja inteira está orando desde que souberam da notícia. – falou Tadeu passando a mão no pouco que lhe restava de cabelos.
⁃ Meu Deus! Coma! – respirou fundo e se sentou com um irmão em cada lado.
⁃ Eu ia te ligar, mas a mãe resolveu fazer isso. Caio ele precisa ver você falar com você. – disse Rosa.
⁃ Ele nunca quis isso antes. – sorriu fracamente sentindo a dor da mágoa voltar a rasga-lo por dentro.
⁃ Nos últimos dias ele ficava falando muito de você de como era quando pequeno das coisas que aprontava da mania de correr pelado pela fazenda e comer coisas que achava no mato. Lembra daquela vez que foi internado que comeu...
⁃ Urtiga achando que eram folhas de hortelã.
⁃ É foi um susto danado.
⁃ Eu vivia dando sustos tentando chamar atenção. Raramente conseguia.
⁃ Caio, não é porque ele não estava sempre presente que ele não te amava. Cada um tem um jeito de demonstrar.
⁃ Ele é um avô maravilhoso para as meninas, eu já vi ele com elas. Eu vejo que ele sempre favorece vocês, não é ciúme, não. Veja bem é fato, porque ele sempre me tratou diferente com mais distância que qualquer um.
⁃ Caio? – chamou D. Lurdes ao sair do quarto e ver o filho de olhos vermelhos e cansados conversando com os irmãos.
⁃ Oh D. Lurdes. Como você está?
⁃ Cansada, exausta mas em paz.
⁃ Como?
⁃ Seu pai é um bom homem e tá lutando, temos orado bastante e eu creio que Deus fará o melhor. Se o deixar bem veremos seu poder se o levar ele o verá em breve, ou seja, sempre o melhor.
⁃ Ok. – falou ele entre um suspiro e uma longa pausa pra digerir as palavras sábias de sua mãe e a envolveu num profundo e longo abraço mais pra ter dela o conforto que ela encontrava do que dar o que ele deveria estar oferecendo com seus braços.
Ele foi falar com os médicos e entender a posição e deram 24 horas pro quadro melhorar, ele precisava acordar logo ou as sequelas seriam graves ou mesmo as chances de cura cairiam. Ele pediu pra ficar a sós com o pai no quarto, ficou olhando pra ele se aproximou e sentou-se ao seu lado. Não era fácil ver aquele homem dinâmico e determinado, agora fraco e pálido numa cama entubado junto a aparelhos do qual dependia a sua vida.
⁃ Eu não sei porque isso está acontecendo. E eu nem sei como iniciar uma conversa com um cara em coma e isso porque esse cara simplesmente é você. Não me lembro de termos conversado sobre nada relevante antes, sobre mim ou sobre você. O que sei de você é o que vi, observei e senti, conheço pouco de suas histórias pessoais e você parece não tomar conhecimento de nada das minhas. - respirou fundo e se afastou. Me chamo Caio Cruz, a propósito o nome que você escolheu pra mim e me registrou como seu. Tenho 20 anos, gosto conhecer pessoas, amo fazer novos amigos, ouvir e aconselhar pessoas. Amo tocar piano, a música é algo que me escapa entre os dedos pra que eu possa me libertar de alguns medos, dores, frustrações, ou simplesmente traduzir sentimentos. Me apaixonei perdidamente duas vezes, na verdade uma, Luiza, e isso o senhor deve saber. A segunda na verdade não me apaixonei perdidamente, aprendi a amar devagar e com medo, muito medo de errar, de ser uma paixão leviana, de eu ferir ou me machucar. Acho que me tornei meio covarde com o tempo, não sei. Trabalho com um velho sábio luthier, tenho novos amigos que são como uma família pra mim. Tenho acima de tudo Deus como meu norte e foi você quem me ensinou isso, me ensinou tanto no banco daquela igreja pai, mas demonstrou tão pouco no sofá lá de casa, quando eu queria correr pros seus braços pra te mostrar meu novo machucado ou quando queria contar sobre uma descoberta na horta do tio… ahhhh… - respirou fundo e voltou a olhá-lo - Tá difícil compreender uma vida inteira em poucos minutos. Mas eu quero te falar sobre quem eu quero me tornar. Eu quero me tornar um homem que abraça seus filhos com ou sem motivo, quero ser um pai que participa de suas vitórias e tá do lado nas suas derrotas porque eu quero que eles saibam que nunca estarão sozinhos, quero ser um homem capaz de apontar Deus acima do meu exemplo de vida porque eu vou errar com eles em muitos momentos, mas Deus não e eles vão precisar saber disso. Quero ser tão amigo de meus filhos a ponto de minha menina poder me contar do seu primeiro beijo, mesmo que eu me tranque no banheiro pra infartar ou queira ameaçar todo garotinho que se aproximar dela na escola. Quero que ela saiba que é a princesinha do papai e que eu não vou deixar ninguém machucá-la. Quero ensinar meu moleque a chutar bola assim que aprender a andar e levá-lo ao estádio pra gente torcer junto. Quero amar muito a minha mulher a ponto dela confiar em mim pra ser seu parceiro pra uma vida inteira. Sabe o que é mais interessante seu Paulo? É que mesmo que eu me torne esse homem eu ainda vou querer ser um pouco como o senhor. Ser este homem honesto e justo, honrado e bom, que se preocupa com o outro e faz o bem, porque embora as lacunas e mágoas sejam grandes eu tenho algo a confessar que eu nunca tive a oportunidade antes de dizer… - se aproximou da cama e pegou em sua mão: - Eu te amo, pai! - deu-lhe um beijo na fronte e saiu do quarto sem notar uma lágrima rolar no canto esquerdo do olho de seu velho pai.
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Não havia a menor explicação para o que havia acontecido. Rosa, D. Lurdes e Caio foram pra casa com as meninas porque elas tinham escola no dia seguinte e ambos precisavam trocar de roupa. Eles colocariam a menina na escola e voltariam para o hospital. Tadeu ficara com seu Paulo que ainda não apresentava nenhum quadro de melhora, a igreja passara a noite em Vigilia. Cleiton um amigo de infância de Caio também músico chegou na casa deles cantando pneu. D. Lurdes sentou esperando a má noticia. Duas palavras saíram da boca de Cleiton quando Caio abriu a porta:
⁃ Ele acordou!
Caio saiu correndo pro carro deixando a mãe sentada na cozinha, saiu do carro e voltou correndo pra pegar D. Lurdes, Rosa que tava no banho quase ficou pra trás.
⁃ Rosa, tem três segundos pra sair desse banheiro. O Pai tá de volta, estamos indo agora com o Cleiton.
⁃ Peraí, gente, pelo amor! - saiu ela desesperada caçando um vestido e o colocou meio molhada mesmo e saiu de casa com o cabelo pingando.
⁃ Podia ter trago a toalha Rosa tá me encharcando aqui.
⁃ Meu pai acordou do coma e você tá incomodado com meu cabelo Caio, não enche!
⁃ Esse é o meu trabalho. Vem cá maninha. - ele a agarrou e deu um beijo na bochecha molhada mesmo, ela começou a chorar e tremer.
⁃ Meu Deus isso é milagre! Eu nunca tinha visto um milagre antes, aos 30 anos eu nunca… meu pai.
Eles chegaram ao hospital e o médico ao ver D. Lurdes de cara vermelha de tanto chorar e sorriso no rosto, seus filhos igualmente emocionados não conteve ninguém de entrar no quarto, entraram todos. Tadeu já estava lá com ele. Caio o viu sentado na cama e quando seus olhos se encontraram tal foi a surpresa de todos quando seu Paulo disse:
⁃ Vem cá meu filho, me dá um abraço. - era a primeira vez que ele chamara Caio de filho e também a primeira vez que lhe oferecia um abraço, as pernas de Caio pareciam que não se moveriam até Rosa empurrá-lo estava praticamente em choque.
Ele costumava saber muito bem como abraçar alguém, como envolver e se deixar envolver por um abraço, mas esse era O abraço que sempre sonhara em receber e estava além de relutante receoso, se aproximou e foi envolvido pelos braços de seu pai, se sentiu um menino de quatro anos, ele um homem de 1,95 de altura, se aninhou nos braços de seu pai. Seu Paulo lhe falou ao ouvido só pra ele.
⁃ Desculpe ter demorado tanto, me perdoe por todos esses anos e… filho eu também te amo muito!
Caio o olhou nos olhos espantado querendo saber se ele ouvira tudo o que disse na noite anterior. E ao sinalizar com a cabeça ele confirmou.
⁃ Eu ouvi cada palavra. Inclusive Lurdes deixa eu lhe falar uma coisa, aquele médico tá de olho na senhora. Esperando eu bater as botas pra ficar com a minha viúva. Eu escutei cada elogio!
⁃ Paulo, pelo amor de Deus!
A gargalhada foi geral dentro do quarto e D. Lurdes vermelha demais. A tensão sendo dissipada no local, eles ficaram todos em volta da cama, ouvindo as histórias de seu Paulo. Caio se manteve ao seu lado o tempo todo, dois dias depois estavam todos em casa. E na mesa do café preparado por Caio, seu Paulo quis saber mais sobre a sua vida em 4Rios.
⁃ Me fala sobre a tal menina por quem você não está perdidamente apaixonado.
⁃ Dora…suspirou ele segurando a xícara entre os dedos longos e lembrando do sorriso dela. - Ela parece com morangos de inverno pai! Sempre uma surpresa, as vezes azeda, as vezes doce, tem o tamanho perfeito e eu simplesmente adoro o cheiro que ela tem. Ela tem aspirações tão pequenas, simples sabe? E um futuro tão grande que as vezes querer ela só pra mim parece egoísmo.
⁃ Ou covardia né Caio! Quando você se envolveu com a Luiza eu temi uma tragédia, não tinha nada contra a pobre garota veja bem. Ela sofreu mais na vida do que muita gente e se não fosse você a salvá-la nem sei o que seria dela hoje. Mas você ficou cego e louco por ela, mudou sua vida, deu margem ao sangue quente da família e não pensa que eu não sabia que quando você dormia na casa de Tadeu era porque estava embriagado porque eu sabia, eu só podia orar, eu não conseguia me comunicar com você. Eu não queria que você fosse como Tadeu ou Rosa e você nunca foi, eles pareciam sempre fazer a coisa certa e acabavam fazendo a errada. Você costumava mostrar quem era na primeira conversa, bom ou ruim estava ali transparente como a água e intenso como o mar e como tal difícil de se conter. Sempre achei que conquistaria o mundo, mas tá aqui jogando conversa fora sobre não conseguir conquistar uma garota!
⁃ Pai, a Luiza a transformou num protótipo dela. Hoje essa menina simples de óculos que conheci como babá, é uma super modelo de campanhas publicitárias e eu provavelmente sou mais um babando por ela.
⁃ Duvido, você está com medo de encarar os fatos. De encarar o comprometimento.
O telefone toca ele atende:
⁃ Escuta aqui, tá tudo bem aí com seu pai? - perguntou Seu Augusto um tanto irritado
⁃ Tá sim Seu Augusto, como vão as coisas? Ontem a noite liguei pro Rodrigo e expliquei tudo.
⁃ Tá e porque não falou com a Dora?
⁃ Não foi isso, eu não quero preocupá-la com nada. Já está tudo bem, meu pai tá em casa, logo eu volto pra 4 Rios.
⁃ Logo? Ok, eu vou ser rápido: Dora está indo embora!
⁃ Ela está o que? - Caio se levantou da mesa com o coração na mão.
⁃ Ela não permitiu que ninguém te contasse devido a tudo o que está acontecendo aí, mas eu precisava falar. Já que você não teve a decência de incluí-la neste momento da sua vida. - falou o homem com certa rispidez.
⁃ Caio fechou os olhos e imaginou o que seria Dora partindo pra Paris com David, ele enfim perdera de vez a batalha.
⁃ Quando ela parte e com quem? - falou secamente.
⁃ Ela não está indo pra Paris, deu uma confusão na agência entre ela Thais e Luiza e foram as duas demitidas.
⁃ Quem? Thais e Dora. Bom, Dora pediu demissão e Thais foi demitida por Luiza por que insultou Dora.
⁃ Sério que ela fez isso? Mas se ela não vai a Paris ela vai pra onde?
⁃ Sinop.
⁃ Onde raios fica Sinop?
⁃ Sério que ainda vai ficar discutindo isso comigo por telefone. Ela parte amanhã as dez!
⁃ Como eu vou chegar aí a tempo?
⁃ Se vira moleque! Tchau.
⁃ A Dora está indo embora e eu acho que é pra Tailândia, eu preciso ir atrás dela.
⁃ Lurdes, arruma as coisas do menino ele tem que voltar pra 4 Rios agora!
Chegar em 4 Rios em tempo recorde demandou tempo e bons contatos. Se ele pegasse o ônibus rodoviário não teria mesmo como chegar lá, devido as paradas e a lentidão do trajeto que é mais longo. Cleiton se ofereceu pra levá-lo ainda seria uma estrada longa até lá, mas chegaria a tempo dela embarcar.
⁃ Cara, eu nunca fui piloto de fuga antes, tomara que essa mulher valha a pena brother!
⁃ Vale sim! Mas quer saber eu to com muita raiva dela agora.
⁃ Como é que é? E tá me fazendo correr porque?
⁃ Por que com raiva ou não eu amo essa mulher e ela não vai sair do país enquanto não ouvir umas verdades.
Ao descer no aeroporto Caio viu de longe o pessoal saindo, Mel e Rodrigo, incluindo David, o que o irritou mais, estava muito tarde pra ele, ela já devia estar na sala de embarque. Sorte, Cleiton ter conhecidos no aeroporto e ter feito o check-in do próprio Caio para livre acesso ao portão de embarque. A galera não o viu até ele tropeçar no próprio cadarço e quase cair no chão do aeroporto o que seria uma grande cena, mas conseguiu se equilibrar a tempo de continuar a corrida com o bilhete na mão e nem fazia ideia do destino. Quando chegou Dora não estava no saguão e ele nem conseguia respirar mais, primeiro pela corrida e segundo pelo desespero, quando a viu saindo do banheiro ajeitando alguma coisa na bolsa. Respirou fundo de alivio e em seguida exclamou em alto e bom som pra todo mundo ouvir:
⁃ Então é isso? – ele falava gesticulando e caminhando firmemente em sua direção com olhos fixos e faiscantes, lindos e provocantes.
⁃ Caio? Que isso! Ta fazendo um escândalo! – ela não imaginava vê-lo muito menos alterado desse jeito, mas estava internamente feliz, pois ele estar ali mesmo que a apavorando.
⁃ Não viu nada ainda. Quer dizer que meu pai adoece e quase morre em Ramos e você friamente trama ir embora e não deixar que me avisem? Esse alisamento e maquiagem por acaso afetaram seu caráter Dora? - falou ele dando um tapa em uma das mechas de cabelo dela a assustando um pouco que acabou acuada entre ele e uma parede.
⁃ Você foi pra Ramos e nem se despediu ligou pro Rodrigo e nem falou comigo.
⁃ É vingança? Uma disputa? Jura? O que está acontecendo aqui? Fala! - gritou ele a fazendo tremer.
⁃ Ca-a-aio! Você está me assustando. – falou ela com voz tremula ao que ele aquiesceu respirou fundo tentando encontrar as palavras e com olhos ternos falou ainda irritado, num tom mais brando.
⁃ Eu é que to assustado eu to apavorado e essa é a minha pobre desculpa por nunca conseguir dizer o que eu realmente sinto por você.
⁃ Não se sinta pressionado a dizer nada só porque eu estou indo embora Caio, por favor. – isso o irritou mais
⁃ Cala a boca Dora! Ca-la essa boca! - ela cometeu o erro terrível de rir debochadamente dele.
⁃ Tá achando que pode vir com essa banca toda pra cima de mim e me mandar calar a boca? Tá muito enganado Caio Cruz! - falou ela se afastando dele no que ele a puxou de uma só vez pelo cotovelo.
⁃ Ah não to não! - e antes mesmo dela poder reagir estava em seus braços sendo beijada como nunca antes ele fez, era um beijo possessivo, apaixonado, desesperado e ainda sim contendo um certo carinho que lhe derretia o coração. Era a doçura e a paixão fazendo acelerar aqueles dois corações.
Caio estava implorando pra ela ficar num beijo. E o que viria depois? Que futuro é esse? Sem emprego namorando um rapaz de 20 anos, que não sabia o que queria. Ela não queria a vida de sua mãe, num subemprego pra sobreviver com duas filhas porque se apaixonou pelos homens errados e “seguiu seu coração”. Ele não era o homem errado, ela estava sendo injusta, ele fora um porto seguro pra ela todas as vezes, ela amava aquele garoto que nunca fora capaz de libertar essa frase de seus lábios, apesar de seus beijos. Esses mesmos doces lábios que lentamente a abandonavam agora para encontrar em seus olhos uma resposta. E que olhos lindos, verdes e reveladores, ela ia sangrar muito pra dizer o que tinha que dizer. Ele a interrompeu.
⁃ Eu sei que não posso te pedir pra ficar, mas não quero que fuja de mim, nunca mais. – ela entre abriu os lábios pra responder quando a voz soa fria e metálica sobre ambos.
⁃ Última chamada para o voo destino Sinop, passageira Isadora Evanz, compareça ao portão de embarque. - ela sobressaltou ao ouvir seu nome e pegou a mala que caiu no chão com o beijo avassalador.
⁃ Eu preciso ir. - ela se desprendeu dele e se encaminhou até o portão entregou o bilhete para a comissária. Caio foi atrás.
⁃ Hei! Eu sei que você se recusa a ouvir a verdade e eu to realmente cansado de ser interrompido. Vai ser aqui e agora. - a aeromoça falou no rádio comunicando o incidente frente ao portão de embarque. – Pelo visto a moça chamou a segurança temos pouco tempo, então lá vai! Não dá pra eu fingir que quero ser só seu amigo e nem você fingir que não sente o mesmo por mim. Já chega! E também não dá pra eu ficar vendo você acreditar que eu amo outra mulher, porque eu só posso dizer “eu te amo” a uma mulher se eu estiver olhando nos seus olhos Dora. Você é a mulher que eu amo! Só você! Que me deixa louco desde a primeira petulância e doçura que é uma mistura arrebatadora pra mim. Deixei de ter medo do definitivo. Quero você! Quero você pra namorada, noiva, esposa, e avó dos meus netos. Eu te quero menina!
Os seguranças chegaram pra levar ele pra fora dali. A aeromoça estava vermelha demais pra falar chorando rios pretos de rímel. Dora sacou um lencinho pra ela e lhe entregou sussurrando em seu ouvido:
⁃ Acho que vai precisar disso e eu preciso que você peça pra descarregar minha mala do avião, por favor. - falou Dora, a mulher apenas sinalizou que sim com a cabeça, enquanto se recompunha.
⁃ E para que conste, exagerado Caio Cruz me visualizar como avó cheia de netos foi longe demais. Um dia de cada vez, pode ser? - ela acenou para os seguranças o soltarem eles riram e saíram de cena.
⁃ Se forem todos com você eu topo! – sorriu daquele jeito sacana meio rasgado de lado a puxando pela cintura num beijo doce e demorado.
No portão ao lado uma loira enxugava as lágrimas enquanto colocava os escuros óculos e embarcava num voo sem retorno pra Itália.
Eles encontram Cleiton do lado de fora do aeroporto, que respirou fundo ao vê-los juntos e sorriu para o feliz casal. Caio os apresentou e pediu uma carona para casa antes dele voltar a Ramos pra conhecer o pessoal.
⁃ A propósito se isso foi um pedido de casamento eu quero um anel? - provocou Dora ao entrar no carro de Cleiton.
⁃ Que isso criatura estava só pedindo em namoro mesmo o lance de “noiva-esposa-avó” foi pra dar ênfase no discurso e você não subir no avião.
⁃ Cleiton para esse carro!
⁃ Segue, Cleiton! E você vem cá! - falou ele a puxando de volta para os seus braços ela sorriu.
⁃ Eu te odeio Caio Cruz.
⁃ Também te odeio Isadora Evanz! - e ela o beijou mais uma vez, agora seu, sem nenhuma dúvida, todo seu Caio.

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 renata massa